Cláudio Ferreira Lima: Que é mesmo o PIB?

Por *Cláudio Ferreira Lima

No final do ano passado, durante coletiva à imprensa, a presidente Dilma Rousseff disse que, em 2013, quer um “Pibão grandão”. E, a partir daí, os analistas econômicos assimilaram um novo jargão.

Evidente que, em sua fala, a chefe da nação reagia aos resultados de 2012, quando já eram favas contadas que o PIB cresceria menos que o previsto no começo do ano. Ora, o Banco Central e o Ipea esperavam 3,5%, e o Ministério da Fazenda, mais otimista, 4,5%. Mas ficou em apenas 0,9%!

Como se vê, estes tempos voláteis desmoralizam as previsões das mais conceituadas instituições, que trabalham com modelos econométricos altamente sofisticados. Mas deixemos de lado as profecias. O que nos interessa é prevenir o leitor contra a mistificação do PIB.

Bernardo Kucinski, em “Jornalismo econômico” (São Paulo: EDUSP, 1996, p. 79-90), alerta: “Poucos conceitos têm sido tão enganadores e, no entanto, tão popularizados como o de Produto Interno Bruto, ou PIB”. E tem razão.

É preciso, de início, saber que é e que não é o PIB. Pois bem: o PIB pode ser calculado segundo três óticas de mensuração, que chegam ao mesmo resultado: a da despesa, como a soma de todos os bens e serviços produzidos num período e que não foram destruídos (ou absorvidos como insumos) na produção de outros bens e serviços; a do produto, como o valor efetivamente adicionado ao longo do processo em cada unidade produtiva; e, por fim, a da renda, como o montante total das remunerações pagas a todos os fatores de produção (ver PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 12-18).

O PIB, ao contrário do que se lê em algumas respeitáveis publicações, não mede riqueza, mas, isto sim, produção. Embora haja uma relação entre ambas, a primeira refere-se a estoque, e a segunda, a fluxo; por isso, são contabilizadas, respectivamente, num certo ponto do tempo e num dado período de tempo.

O PIB revela quanto e como a economia cresce; porém, diz pouca coisa sobre a qualidade de tal crescimento. É claro que, por um lado, um “Pibão grandão” pode trazer mais emprego, renda e bem-estar para todos; mas, por outro lado, a sociedade arrisca pagar um custo (no presente e no futuro) excessivamente elevado em termos, por exemplo, de concentração da renda, aumento da pobreza e danos à natureza.

No cálculo do PIB, é computada a renda gerada em determinado lugar, como um país, por exemplo; por isso, ele é também denominado territorial ou geográfico. Mas nem toda essa renda cairá no bolso dos residentes do País. Uma parte dela, sob a forma de lucros e dividendos, segue para o Exterior. E, embora, em contrapartida, esse mesmo país receba, a igual título, renda de fora, no caso de economia em desenvolvimento como a do Brasil, o valor que sai é sempre superior ao que entra.

Enfim, muita atenção: crescimento do PIB é condição necessária, porém não suficiente para o desenvolvimento. Ou, dito de outro modo, em economia, nem tudo o que reluz é… desenvolvimento.

*Cláudio Ferreira Lima é economista

Fonte: O Povo

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