Presidente israelense ataca Irã, Síria e Hezbolá na Europa 

Em discurso no Parlamento Europeu, nesta terça-feira (12), o presidente de Israel Shimon Peres tratou dos assuntos que disse “afligirem” o seu país, no Oriente Médio, como a questão Palestina, o Irã e a Síria, temas em que encontra apoio incondicional nos discursos de ingerência imperialista da Europa e dos EUA. 

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Peres descreveu Israel como uma “ilha num oceano tempestuoso”, e disse: “nós temos que nos defender.” Esta é a retórica belicista de Israel: a autodefesa, mesmo quando ela pressuponha a ofensiva direta contra os países vizinhos e contra o povo palestino que oprime e cujas terras ocupa.

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A visita do presidente dos EUA Barack Obama a Israel, prevista para 25 de março, também foi mencionada pelo presidente israelense, que disse que “o apoio dele à nossa segurança é extraordinário e sua devoção à paz é inabalável.” O governo israelense conta com o apoio incondicional dos EUA, garantido através do grupo de pressão (ou lobby) judeu Aipac no país.

Peres disse ainda que “o maior perigo à paz no mundo é o atual regime iraniano”, que acusou de ser uma “ditadura disfarçada sob o manto religioso” com um “apetite imperial”, características já atribuídas ao seu próprio país por diversos críticos, inclusive israelenses.
O governo de Israel tem se colocado como vítima de uma ameaça constante por parte do Irã, acusado pelos EUA e pela União Europeia de estar desenvolvendo armas nucleares.

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, por outro lado, já declarou inúmeras vezes ter direito ao desenvolvimento de um programa nuclear pacífico, que tem como objetivos principais a geração de energia e as pesquisas médicas.

O Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que garante o direito à pesquisa nuclear pacífica, e o líder persa supremo, aiatolá Khamenei, já declarou ser proibido o desenvolvimento de armas nucleares. Israel, por outro lado, além de não ter assinado o tratado, detém centenas de ogivas nucleares. Seu governo, entretanto, não se pronuncia sobre o assunto, mantendo a retórica de vítima ameaçada.

Apesar de sofrer a imposição de inúmeras sanções econômicas e políticas dos EUA, da União Europeia e de outros Estados individuais, o Irã também já reiterou a sua disposição a receber a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o que outros países, como os EUA e o próprio Israel, considerariam uma violação da sua soberania. Entretanto, a postura conciliatória e que procura demonstrar compromisso com o diálogo continua sendo sistematicamente ignorada pelo imperialismo, sob o qual Israel segue se abrigando.

“Vocês corretamente decidiram impor sanções [contra o Irã]. Tornaram claro que se os iranianos não responderem, outras opções estão sobre a mesa”, disse Peres fazendo eco às declarações do primeiro-ministro de seu país, Benjamin Netanyahu, que já afirmou optar por ataques militares contra o Irã.

As declarações bélicas e agressivas de Israel ainda não encontraram o apoio necessário para tornarem-se realidade, mas a constante provocação contra a república persa segue incólume, sem sofrer reprovação eficaz de órgãos internacionais que deveriam manter a paz no mundo.

Peres acusou também o Irã de violar os direitos humanos e de discriminar as mulheres, enquanto o seu próprio país fundamenta as suas políticas na violação constante dos direitos humanos do povo palestino, além de práticas preconceituosas de segregação tanto com relação aos próprios palestinos como também contra as mulheres, que sofrem diversas restrições, muitas baseadas em lei, principalmente nos bairros judeus chamados “ortodoxos”.

Hezbolá e Síria

O presidente fez ainda menção ao apoio oferecido pelo Irã ao partido político de resistência islâmica no Líbano, o Hezbolá, que Israel denomina (com propósito político, evidentemente) de um “grupo terrorista”. O Hezbolá foi protagonista em diversas ocasiões, por lograr expulsar as forças israelenses invasoras dos territórios libaneses (dos quais o último episódio mais significativo foi em 2006, durante a guerra em que tanques israelenses invadiram a capital Beirute, embora as violações da soberania libanesa por Israel ainda sejam diárias). Além disso, o Hezbolá também é parte legítima do governo libanês.

Ainda sobre o Hezbolá, Peres acusou-o de ter dividido o Líbano, embora tenha na mesma frase citado o motivo mais provável da instabilidade entre diferentes grupos religiosos dentro do país: o acordo Sykes-Picot, entre a França e a Inglaterra, que praticamente estabeleceu zonas de influência coloniais.

Na mesma linha, Peres ligou também o Hezbolá ao governo do presidente da Síria, Bashar al-Assad, que chamou de “ditador” usando a terminologia estabelecida pelo Ocidente, em sua saga imperialista contra os governos que não se curvam diante das suas pressões. Peres também exigiu que o partido de resistência seja designado uma “organização terrorista” por toda a comunidade internacional, mais uma vez usando táticas ocidentais de deslegitimar um ator político que não corresponde às pressões que sofre.

Peres ainda mencionou outros temas importantes para a Europa neocolonial, que tem na França um dos principais focos atuais, por sua intervenção militar no país do oeste africano, o Mali. Voltando à Síria, disse que Assad construiu armas químicas enquanto “massacra o seu próprio povo”, acusação infundada emitida já há muito pela própria Europa. Na época, Robert Fisk, jornalista britânico, denunciou em um artigo para o jornal The Independent o objetivo político de tal acusação e o fato de que, na verdade, foi o próprio Reino Unido o primeiro a usar armas químicas contra a população civil, ainda em 1917, história que não convinha ser relembrada por Peres naquele fórum.

Neste tom e estabelecendo as bases para a continuação do apoio incondicional e criminoso da Europa aos sucessivos governos israelenses, Shimon Peres finalizou seu discurso enaltecendo o “empreendedorismo” do Estado de Israel, assentado em características culturais e políticas ocidentais, já que autoproclama-se a única democracia no Oriente Médio. Assim comprou o presidente mais alguns anos de negligência europeia sobre a ocupação e a militarização tanto do seu próprio país quanto dos territórios palestinos e outros territórios árabes que viola.