David Harvey debate atualidade de Karl Marx na UFBA
Na noite desta terça-feira (26/03), centenas de pessoas se reuniram no Salão Nobre da Reitoria da UFBA (Universidade Federal da Bahia), em Salvador, para assistir a conferência internacional Para Ler O Capital, ministrada pelo professor da The City University of New York, o consagrado geógrafo britânico David Harvey. A iniciativa integra a programação do seminário internacional MARX: a criação destruidora.
Publicado 27/03/2013 08:39 | Editado 04/03/2020 16:17
Durante o encontro, David Harvey, a partir de obras de Marx como O Capital, falou sobre as consequências da crise econômica global, que teve início em 2008. Além disso, ele tratou de questões referentes à nova configuração política no Brasil e no mundo, e de como é possível utilizar O Capital para entender e transformar a atualidade.
O geógrafo relatou que, há muitos anos, quando construiu um relatório para banqueiros internacionais, pode perceber que quando se fala em habitação é preciso pensar em duas perspectivas. “Habitação como abrigo e para construir uma vida em comunidade; e Habitação no sentido de valor de troca. Aqui existem dois sistemas: o valor de uso e o valor de troca. Além do valor de uso , em nosso mundo ela adquiriu valor de troca".
Segundo ele, “o valor de troca não pode existir sem uma medida; e o que é medido, se mede pelo dinheiro. Existe um comércio sobre a medida deste valor.” Enquanto falava sobre a questão da habitação como forma de acumular riquezas, David Harvey citou que “enquanto estava me deslocando do aeroporto até aqui, pude observar o fortalecimento de uma sociedade capitalista com a quantidade de imóveis sendo construído, o que representa a acumulação do capital”.
De acordo com David, assim como mapas podem ser precisos em algumas situações e falso em outras, com o dinheiro acontece algo semelhante. “O dinheiro é uma medida que tem um valor. Portanto, o dinheiro é a forma primeira da riqueza, de poder social. É o objetivo dos capitalistas. Tudo isso, você aprende com O Capital de Marx.”
“Temos que pensar se esse é o tipo de mundo que queremos viver. E se não é, devemos pensar no que fazer para mudar. Politicamente, se você for anticapitalista como eu, você fará de tudo para evitar o amor pelo dinheiro. Se nós tivéssemos um dinheiro oxidável, a classe capitalista perderia sua fortuna facilmente”, avalia David quando afirma que essas ideias podem ser encontradas no O Capital.
O geógrafo declara que é preciso diminuir o valor de troca; que é importante ter dinheiro apenas para facilitar a troca. “Vamos evitar um sistema que facilite a aglomeração de riquezas. O capitalismo tem sido, historicamente, bastante dinâmico. Tem produzido crises e guerras, mas por outro lado, como diz Marx, tem mudado a nossa situação de vida, de expectativa de vida, por exemplo. Mas aqui tem uma contradição fatal: o capitalismo não pode acumular uma taxa de crescimento para sempre”, finaliza David Harvey.
O seminário internacional MARX: a criação destruidora, o IV Seminário Margem Esquerda objetiva debater a atualidade e a pertinência da produção teórica do filósofo alemão. A iniciativa abrange também as cidades de São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Recife
De Salvador,
Ana Emília Ribeiro