Osvaldo Bertolino: “Maurício Grabois, homem de ação e de ideias”

Uma noite em defesa da memória do país. Foi em clima de reconhecimento que a Fundação Maurício Grabois, em parceria com a Comissão Especial de Anistia Vanda Sidou e a Associação 64/68 Anistia, lançou na noite da última sexta-feira (12), em Fortaleza, a biografia de um dos principais líderes comunistas do Brasil: Maurício Grabois. Osvaldo Bertolino, autor do livro, participou do lançamento e falou sobre a trajetória deste grande ícone da história do Brasil.

“Maurício Grabois, uma vida de combate”, narra a trajetória de um dos mais atuantes líderes das forças progressistas do Brasil, que foi líder do Partido Comunista do Brasil na Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e comandante da Guerrilha do Araguaia, quando morreu em combate.

A escolha da data para o lançamento do livro não foi à toa: há exatos 41 anos, no dia 12 de abril de 1972, foi deflagrada a Guerrilha do Araguaia, com a invasão dos militares iniciando a luta armada. Inácio Carvalho, secretário estadual de comunicação do PCdoB-CE, relembrou a data. “Fazemos este registro com alegria pois, há algumas décadas, sequer podíamos nos referir a este episódio. Hoje, enaltecemos vários personagens deste capítulo de uma história marcante no país”. Benedito Bizerril, membro da Fundação Maurício Grabois no Ceará, também enalteceu a data histórica. “Esta é uma forma de homenagear os combatentes que, como Grabois, deram suas vidas em defesa do povo brasileiro”.

Sobre o livro

Para o jornalista Osvaldo Bertolino, a história de Maurício Grabois se confunde com a trajetória do Partido Comunista do Brasil, que ele, junto com outros comunistas de destaque como João Amazonas e Pedro Pomar, por exemplo, ajudou a construir. “Além disso, essa saga se confunde com a história do Brasil do começo do século XX”, defende. “A organização PCdoB está muito atrelada à própria constituição do povo brasileiro”.

Bertolino destacou em sua intervenção que o PCdoB surgiu “no leito da história onde no mundo despontava o nazifascismo, que tinha aqui representantes no embate com essa tendência”. “Maurício Grabois começa a atuar politicamente diante deste cenário, filia-se ao Partido Comunista em 1932 justamente quando esta ebulição está atingindo ponto de fervura”, ratifica.

O escritor relaciona a história do Brasil à atuação de Grabois. “Mesmo diante de repressão e forte ditadura, ele conseguiu manter articulados representantes do Partido em diversas partes do país. Foi um dos principais responsáveis pela Conferência da Mantiqueira, em 1942, que reorganizou o PCdoB”.

Durante o Estado Novo, Maurício Grabois já atuava em defesa dos direitos do povo. Eleito deputado federal constituinte, liderou a bancada federal e foi feroz defensor da anistia de presos políticos. “Ele defendia bandeiras nacionais como a da democracia, defesa da pátria e anistia aos políticos cassados na ditadura. Muitos dos direitos conquistados pelo povo brasileiro, como as liberdades de imprensa, política e de religião, por exemplo, foram bandeiras da bancada comunista, liderada por Grabois”, cita Osvaldo. “O cenário político brasileiro é o pano de fundo para contar a trajetória deste grande comunista”.

Líder da Guerrilha

Após vivenciar anos de repressão, derrotas democráticas, imposição do nazifascismo, e com base em experiências vivenciadas em Cuba, Vietnã e China, os comunistas avaliaram que a luta armada seria a única forma de defender a democracia no país. E Maurício Grabois foi um dos entusiastas da ideia. Morando na região do Araguaia, ele organiza a chamada “Guerra Popular”, convive com a população local e cria um núcleo de camponeses e combatentes. “Foram criados vários núcleos em diversas regiões do país, mas o que teve mais densidade foi o liderado por Grabois, na região do Araguaia, que tornou-se uma das lutas mais importante de resistência contra a ditadura militar”.

No natal de 1973, Maurício Grabois foi assassinado em combate. Até hoje seus restos mortais não foram localizados e esta tem sido uma luta não só da família e do PCdoB, mas de vários movimentos que buscam esclarecer todos esses fatos e circunstâncias obscuros do tempo da ditadura militar brasileira. “Foram cometidos crimes contra a humanidade, onde prevaleciam tortura e assassinatos. Ainda hoje não há dados de quantas pessoas foram vítimas dessas atrocidades. São incontáveis os números de desaparecidos. Este é um capítulo da história que precisa ser esclarecido e contado”, defende.

Em seu livro, Osvaldo Bertolino conta a trajetória deste homem que deu a vida na luta pela democracia e pelos direitos do povo. “Maurício Grabois foi, ao mesmo tempo o líder que reorganizou o Partido, que liderou a bancada comunista de deputados, mas também o comandante de uma ação sem precedentes no país. Grabois foi um homem de ação e de ideias”, finalizou.

De Fortaleza,
Carolina Campos
 
(Foto: Dragão do Mar – Facebook)

Matéria atualizada às 18h55 do dia 13 de abril de 2013