Paraguai: O tempo dirá a verdade 

Os resultados das eleições paraguaias do passado 21 de abril merecem uma análise detalhada para além dos resultados da apuração de domingo, muito esperados. 

Por Javier Rodríguez*

- TV Peru

Usando ao máximo a extraordinária maquinaria política que o manteve 60 anos no poder até 2008; com uma mobilização colossal de fundos, comparada só com a mobilização do partido de situação e competindo com este através das escuras práticas tradicionais da política paraguaia para conseguir votos, o Partido Colorado venceu claramente as eleições.

Elemento especial de apoio para os colorados nos últimos meses de sua campanha foi a avalanche de escândalos de corrupção nas filas governamentais, ao parecer exacerbadas pelo curto mandato do Executivo que surgiu da destituição de Fernando Lugo em junho passado.

Compra ilegais de terras para favorecer famílias de congressistas, venda oculta de terrenos pertencentes a povos indígenas, uso indiscriminado de meios estatais pelo candidato presidencial oficialista e até o fato do presidente Federico Franco ter comprado uma luxuosa mansão de 400 mil dólares com confirmação do ex-proprietário alemão, favoreceram o Partido Colorado.

Isso explica, em boa parte, por que essa organização, que foi o suporte político da ditadura de 35 anos de Alfredo Stroessner (1954-1989), recuperou não só o controle da Câmara de Deputados, mas consegiu uma bancada de 19 senadores na Câmara Alta, ganhou em 13 dos 17 estados e controlou um número importante de juntas distritais.

A esquerda teve um papel importante para impedir que os colorados obtivessem controle total do Congresso, permitindo à Frente Guasú obter cinco assentos no senado. Junto a dois deputados do Parlamento Sul-americano e uma boa quantidade de vereadores nos diferentes estados, converteu-se na terceira força política do país e terá direito até de ser parte da Junta Diretiva da Câmara Alta.

A derrota contundente do Partido Liberal (no poder) está relacionada, segundo algumas análises, à aliança feita nos dias prévios à jornada eleitoral com o partido Unacé, depois da morte em um acidente aéreo de seu líder Lino Oviedo, de longa trajetória na política dos setores de direita.

Foi um grave erro, sobretudo depois que foram divulgados critérios do acordo, baseado em uma distribuição de cargos na suposta continuidade do governo liberal e na imediata e ilegal entrega de 11,5 milhões de dólares à família Oviedo para que o governo compre terras em litígio. Sendo assim, não valeu nada a intensificação da propaganda liberal com as fortes porém tradicionais acusações contra o candidato colorado, o multimilionário empresário Horacio Cartes, envolvido em negócios vinculados ao narcotráfico, lavagem de dinheiro e contrabando. O candidato não respondeu, estrategicamente, nenhuma vez durante a campanha.

Vale lembrar que, no entanto, ainda depois do triunfo e em uma coletiva de imprensa, Cartes admitiu ter sido preso por acusações de lavagem de dinheiro, mas explicou sua libertação posterior por falta de provas, negando categoricamente que exista verdade nas muitas acusações feitas por tráfico de drogas.

Os dias posteriores à vitória eleitoral de Cartes foram repletos de declarações suas à imprensa, nas quais destacou um tema bem sensível à sociedade paraguaia: sua disposição para conseguir o retorno do Paraguai ao Mercosul e à Unasul, os dois grandes blocos de integração regional.

O país foi suspenso das duas instâncias devido ao golpe de Estado parlamentar realizado em junho passado para tirar do poder o governo legitimamente constituído, e com o qual os partidos tradicionais estiveram envolvidos.

Isso deu espaço para o isolamento internacional que o Paraguai ainda enfrenta e impediu que Federico Franco participasse da última Cúpula Ibero-americana, as Cúpulas do Mercosul e da Unasul e da constituição da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, entre outros muitos eventos.

Recentemente, esse isolamento foi reafirmado quando Franco tentou dar uma conferência sobre a situação paraguaia no seio da Comissão Permanente da OEA, organizada pelo Secretário Geral, José Miguel Insulza, pois só 12 países dos 34 membros assistiram.

Um ponto importante que já está saindo à luz é a resistência que Cartes encontra dentro de seu próprio partido para voltar ao Mercosul e pelo setor mais conservador da bancada liberal no Congresso, sem cuja aceitação não poderá avançar no caminho de voltar aos blocos regionais.

Ainda que a maioria do Parlamento sejam partidários do coloradismo, é evidente que nem todos dependem diretamente do homem que levou o Partido de volta ao poder e entra pela primeira vez na macro política, confessando nunca ter exercido em sua vida o direito ao voto.

Por todas essas razões, teremos que esperar o desenvolvimento dos acontecimentos para conhecer a verdade do futuro governo de Cartes e também sobre a situação no interior do Paraguai, com 49% de habitantes na pobreza, 29% na extrema pobreza e 25% de subnutrição infantil. 

Javier Rodríguez é correspondente da Prensa Latina em Assunção, Paraguai.
Fonte: Prensa Latina