Conselho Mundial da Paz denuncia planos de intervenção na Síria

O Conselho Mundial da Paz (CMP) manifestou sua solidariedade ao povo sírio em sua luta contra os grupos opositores armados que tentam derrocar o governo, ao tempo em que rechaçou qualquer ingerência nos assuntos internos do país. Em reunião realizada nesta segunda-feira (29) em Istambul, Turquia, sob o título Pela Paz na Síria, o Conselho, integrado por 140 organizações de mais de 80 países, manifestou sua oposição às políticas agressivas contra este país árabe.

Ao mesmo tempo, o CMP desqualificou os argumentos de alguns atores internacionais que acusam Damasco de utilizar armas químicas. Tais declarações foram atribuídas à existência de uma campanha que busca servir de pretexto para lançar uma agressão armada contra o país, sublinhou a TV estatal síria.

Os participantes da reunião condenaram o bloqueio econômico unilateral imposto sobre o povo sírio por parte dos Estados Unidos e a União Europeia, com a finalidade de acelerar a queda do governo do presidente Bashar al-Assad.

Ao mesmo tempo, o CMP responsabilizou potências ocidentais pela crise humanitária, devido ao seu apoio aos bandos mercenários, que cometem atos de sabotagem contra fábricas de alimentos e medicamentos.

Entre os dias 26 e 28, o Conselho Mundial da Paz também participou de reuniões na cidade turca de Antáquia, na fronteira com a Síria. Os delegados puderam constatar a presença de mercenários nas ruas e receberam várias denúncias de moradores queixando-se das suas ações violentas.

Mais de dez mil pessoas participaram na cidade fronteiriça do Concerto pela Paz e em Solidariedade ao Povo Sírio, organizado pelo Conselho Turco pela Paz, organização membro do CMP.

O CMP é presidido pela ex-deputada brasileira Socorro Gomes, que participou dos eventos em Antáquia e Istambul. O secretário-geral da organização é o deputado grego Atanásio Pafilis.

Socorro Gomes falou por telefone, desde Istambul, com a redação do Vermelho. Esta é a terceira viagem que faz à região desde que eclodiu o confronto militar na Síria há 25 meses. Em abril do ano passado, ela esteve no país árabe à frente de uma delegação de solidariedade e em novembro participou, na capital iraniana, Teerã, de uma conferência pela paz e a reconciliação na Síria, entre representantes de vários governos e movimentos sociais da região.

Socorro conta que em todas estas ocasiões, e também agora, durante os eventos na Turquia, o Conselho Mundial da Paz fez contatos com movimentos sociais, personalidades e autoridades e visitou lugares atingidos pelos confrontos armados.

“Recolhemos informações que nos permitiram formar a opinião de que o confronto armado na Síria nada tem a ver com uma luta pela democracia ou por direitos sociais. O que se observa, ao longo destes mais de dois anos, é a existência de um movimento orientado, instigado, financiado, instrumentalizado e armado do exterior, a partir das potências imperialistas e forças regionais, para derrubar o governo do presidente Assad como etapa de execução de um plano imperialista de recolonização de todo o Oriente Médio. Não são forças democráticas e sociais internas lutando para ‘melhorar’ o país. São mercenários, que recorrem até ao terrorismo em nome de objetivos que nada têm a ver com direitos humanos, democracia ou conquistas sociais”, disse.

A ativista brasileira conta que muitas das organizações nacionais e regionais que integram o Conselho Mundial da Paz têm realizado em seus países manifestações em solidariedade ao povo sírio e que esses eventos se multiplicarão, em defesa da paz e em solidariedade a um povo e uma nação sob ameaça de intervenção militar, acentuou.

Referindo-se à posição adotada nas reuniões dos últimos dias em Antáquia e Istambul, a presidente do Conselho Mundial da Paz destaca: “Sob nenhum pretexto aceitamos qualquer intervenção política ou militar estrangeira na Síria e denunciamos a hipocrisia dos EUA, Israel e Otan, que levantam o pretexto de ‘proteger’ a população civil e os direitos humanos e punir o governo de Damasco pela suposta utilização de armas químicas, para justificar a intervenção”.

Socorro Gomes também analisou os motivos de fundo da interferência das forças imperialistas nos assuntos internos da Síria. “A luta pela derrubada do governo do presidente Assad e a preparação da intervenção externa atende a interesses diversos que vão desde a mudança na correlação de forças da geopolítica da região, aos objetivos de saquear os recursos naturais, em nome dos quais formou-se uma coalizão de potências imperialistas. O que está por trás da intervenção imperialista na Síria é o plano imperialista para o ‘Grande Oriente Médio’, que visa o controle dos recursos energéticos, a obtenção de esferas de influência e a ocupação de espaços geoestratégicos na luta pelo domínio do mundo”, pontuou.

Socorro Gomes considera ainda que os Estados Unidos, seus aliados da União Europeia e Otan, assim como alguns governos da região do Oriente Médio “não querem nem o diálogo, nem a democratização da Síria, nem os direitos humanos, pois sistematicamente rejeitaram todas as iniciativas tomadas nesse sentido, inclusive reformas políticas”.

A dirigente do CMP também denuncia a tentativa das potências de isolar política e diplomaticamente o governo sírio. “Para os países imperialistas, o único foro diplomático qualificado seria o chamado Grupo de Países Amigos da Síria, que age como adversário. É cada vez mais evidente o propósito de instrumentalizar as Nações Unidas, principalmente seu Conselho de Segurança, e desviar o organismo internacional de sua função precípua de solucionar por meios pacíficos os conflitos internacionais e assegurar a paz mundial. Buscam assim repetir o que fizeram na Líbia”, diz.

Ao concluir, Socorro Gomes reafirmou a convicção de que o povo sírio repudia a guerra, quer a paz e esforça-se para fazer valer sua vontade de viver soberanamente em um país democrático, com plenos direitos sociais, no qual o seu destino esteja em suas próprias mãos, sem a interferência ou a intervenção estrangeira.

Da redação do Vermelho