Venezuela: Petrocaribe aprova criação de zona econômica

Países caribenhos e centro-americanos aprovaram, na 7ª Cúpula da Petrocaribe realizada no domingo (5), em Caracas, a criação de uma zona econômica especial para o desenvolvimento produtivo, promoção de comércio conjunto, atração investimentos e obter estabilidade energética e econômica da região. 

Por Luciana Taddeo, no Opera Mundi 

Petrocaribe - EFE

A denominada ZEP (Zona Econômica da Petrocaribe), prevê a conformação de cadeias produtivas para uma cooperação mais intensa entre os signatários do acordo.

Conselhos ministeriais, estudos e discussões técnicas serão iniciados para concretizar a iniciativa idealizada pela Venezuela ainda na gestão do falecido presidente Hugo Chávez. “O que queremos é fortalecer, ampliar, consolidar a Petrocaribe como organismo de cooperação e de construção da verdadeira união econômica, energética, cultural e humana de nossos povos”, afirmou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Segundo o ministro de Petróleo e Mineração do país, Rafael Ramírez a proposta permite que a articulação entre os países vá além do petróleo.

Prestes a completar oito anos de existência, a Petrocaribe é um acordo de cooperação energética implementado por Chávez, por meio do qual a Venezuela fornece petróleo a países caribenhos e da América Central, a preços preferenciais e em troca de insumos, como alimentos, comercializados nas redes governamentais de abastecimento e produtos têxteis. Neste domingo, Honduras e Guatemala foram aceitos como membros plenos de todos os mecanismos do acordo.

“Muitos programas sociais, econômicos, sociais, culturais e educativos foram financiados com este acordo da Petrocaribe. Com isso, salvaram muitas economias na América Latina e no Caribe”, afirmou o primeiro-ministro de Dominica, Roosevelt Skerrit. Segundo ele, a cooperação foi iniciada porque Chávez e o presidente cubano Fidel Castro perceberam que o preço internacional do petróleo aumentaria a um patamar superior ao que os espaços fiscais dos países caribenhos poderiam suportar.

Dois meses após morte de Chávez, Petrocaribe discute criação de zona econômica especial
O presidente haitiano, Michel Martelly, por sua vez, afirmou que o petróleo venezuelano "permitiu melhorar as condições de vida dos mais desassistidos”. Segundo ele, a Petrocaribe teve um “impacto impressionante (…) em termos de programas sociais e de desenvolvimento”, que inclui asfaltamento de estradas, fornecimento de água potável e energia, construção de moradias, escolas, aeroportos e renovação de hospitais.

“Sem a Petrocaribe, meu governo teria enfrentado dificuldades terríveis. Justamente por isso é preciso fortalecer esta plataforma, para que se torne mais eficiente, mais organizada, para garantir sua durabilidade, sua perenidade, e que represente não só uma vantagem aos países beneficiários”, disse Martelly, afirmando que com o intercâmbio, seu país também está implementando projetos contra a pobreza extrema, “que afeta a mais de dois milhões de habitantes”.

Oposição

Apesar do apoio dos países membros, vozes dissonantes sobre a disposição do governo de Maduro à continuidade – e fortalecimento – do acordo se manifestaram na Venezuela. O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, opositor a quem Maduro classificou como “corrupto e traidor da pátria”, escreveu em seu perfil de Twitter: “Traição à pátria é presentear nosso petróleo ao governo de Cuba”.

Marta Colomina, colunista dominical do jornal El Universal, também se manifestou na rede social durante uma transmissão do Quartel da Montanha, onde alguns chefes de Estado prestaram homenagem a Chávez, a exatos dois meses de sua morte, e se manifestaram sobre o acordo de cooperação: “Que rede [nacional de rádio e televisão] tão patética: elogios dos “chulos” [aproveitadores] para ter petróleo barato e até presenteado, enquanto a Venezuela carece de divisas para bens essenciais”, escreveu.

Maduro, por sua vez, ressaltou que a “destruição” da Petrocaribe era uma promessa de campanha do opositor Henrique Capriles, que afirmou em diversas oportunidades acabaria com o “presenteio de petróleo”. Segundo ele, “infelizmente” na Venezuela se “incubou” uma “direita fascista, anti-bolivariana, anti-latino-americana, anti-caribenha", que tem um "desprezo absoluto" pelos países vizinhos.

Solidariedade

Para o premiê de Dominica, os venezuelanos devem “se sentir orgulhosos de suas próprias contribuições ao mundo”. “O que aconteceria se as economias maiores seguissem esse exemplo, e em vez de pagar por grandes equipes militares, compartilhassem uma pequena parte de seus recursos nas relações? Isso semearia um espirito de paz e uma menor tendência à guerra”, afirmou.

Cerimônia de chefes de Estado da Petrocaribe no Quartel da Montanha, em Caracas:

“Acho que este deveria ser um assunto de discussão, por parte daqueles que se opõem à Petrocaribe e que acreditam falsamente que a Venezuela está desperdiçando ou presentando seus recursos”, disse, complementando que “nos governos anteriores a Chávez, estavam dando os mesmos recursos a nações mais ricas e quase sem nenhum pagamento”. Segundo ele, no entanto, neste contexto “não havia objeções por parte das mesmas pessoas que se opuseram à Petrocaribe e que se opõem a que Venezuela ajudem seus vizinhos em momentos de necessidade”.

O primeiro-ministro da Dominica expressou ainda que esta mudança de posicionamento foi possível graças a Chávez, que “expressou sentimentos” que muitos líderes tiveram “medo de expressar durante décadas”. “Parece que alguns pensam que, antes de falar, devem enviar seus discursos a Washington (…) é como se nós tivéssemos medo de expressar nossa solidariedade, por exemplo, a Cuba, um país que estendeu sua amizade a países do mundo e luta contra um bloqueio que sofre há mais de 50 anos. Que aconteceria se nossos países sofressem bloqueio?”, questionou.

“Chávez deu a motivação para nos levantássemos e proclamássemos nossa soberania e independência. Que nós na América Latina e no Caribe, por meio da integração, podemos abordar questões entre nós mesmos, sem interferência de outras nações (…) Não é momento de ter medo de falar, porque senão não teríamos todos esses acordos”, expressou ele, afirmando que a Venezuela está sendo atacada “por todos os lados, principalmente por países neocolonialistas e neoimperialistas” no período pós-eleitoral.

Para o vice-presidente do Conselho de Ministros de Cuba, Ricardo Cabrisas, zona econômica proposta pela Venezuela é uma “obra colossal”, para a qual é necessário que os países membros “dediquem todos os esforços para sua concretização e desenvolvimento”. Segundo ele, a Petrocaribe deveria impulsionar um projeto de alcance integral, com cooperação “em programas de alto impacto social e que construíssem a conquista da soberania alimentar nos países”.

Segundo Maduro, além da conformação da zona econômica, um plano especial de conectividade aérea para facilitar a comunicação entre os países membros do acordo também será posto em prática. No dia 29 de junho, quando a Petrocaribe completa 8 anos, uma cúpula extraordinária será realizada na capital da Nicarágua, Managua.