Dirigente faz balanço da greve estadual dos professores

Francisca Pereira da Rocha, vice-presidente de um dos maiores sindicatos da América Latina, a Apeoesp (Sindicato dos Professores da Rede Oficial do Estado de São Paulo), conversou com o Vermelho/SP sobre a última greve realizada pela categoria e diz que a greve foi vitoriosa por impedir a privatização do Iamspe (Instituto de assistência médica ao servidor pública estadual) e quebrar o mito de que o professor da categoria “O” era demitido se fizesse qualquer tipo de manifestação.

Apeoesp 1 - Ana Flávia Marx

Depois de mais de 20 dias, os professores da rede estadual de ensino de São Paulo encerraram a greve que, além da reivindicação de reajuste salarial, pedia também o fim das “provinhas” da categoria “F”  da categoria “O”, além de o direito de assistência médica para esses profissionais através do Iamspe.

“Nós encaramos o governo Alckmin com a grande adesão dos profissionais da categoria “O”, que em outros momentos de greve eram ameaçados com demissão e assédio moral. Dessa vez, a mobilização aconteceu com a participação desses professores”, relatou Francisca Pereira da Rocha, vice-presidenta da Apeoesp e coordenadora do núcleo de professores da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.

Professores da categoria

Professor da categoria "O" teve grande participação na greve

O diálogo entre professores e o governo estadual de São Paulo há muito tempo não é travado de forma democrática. Há mais de 20 anos no poder do maior estado brasileiro, o PSDB, partido de Geraldo Alckmin, tem na educação o seu calcanhar de Aquiles.

Depois de muita insistência e pressão, o secretário Herman Jacobus Cornelis Voorwald recebeu o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo e recuou perante alguns pleitos dos manifestantes. O principal deles é o engavetamento do projeto de Parceria Público Privada (PPP), que visava a privatização do Iamspe.

“O governador Geraldo Alckmin está parado no tempo com o seu projeto neoliberal, de enxugar e diminuir o papel do Estado para dar espaço ao mercado financeiro. Essa concepção foi vencida na eleição de 2002, por isso a não privatização do Iamspe é uma vitória importante”, comemorou Francisca.

Além, do arquivamento dessa pauta, o secretário estadual de gestão Davi Zaia assumiu o compromisso de alterar a legislação do Iamspe para permitir a inclusão dos professores da categoria “O”.

“Nós levantamos a bandeira de Nenhum Direito a menos, e conseguimos alcançar alguns pontos como o direito à assistência médica e o fim da prova exigida dos professores da categoria “O” que já pertencem à rede estadual e também o fim da avaliação para a categoria “F”, anunciou Francisca. Isso significa que quem já foi aprovado, não vai precisar fazer a avaliação novamente.

Sobre a continuidade da greve, a dirigente do sindicato esclarece que o movimento estava começando a refluir. “A movimentação da greve estava começando a retroceder no cotidiano escolar e o nosso papel não é somente agitativo, levantamos as bandeiras para conquistar os nossos direitos, senão a categoria fica desmotivada para os desafios futuros e o sindicato desmoralizado”.

A luta continua

Outro ponto da plataforma de reivindicação dos professores é o cumprimento do artigo 5º da lei complementar 1143/11, que estabelece a convocação de uma comissão paritária para discutir o novo reajuste para repôr a inflação.

O governador, que culpabiliza os professores de todos males da educação, não trata os professores como mestres, profissionais que, em muitas vezes, passam mais tempo na escola do que na sua própria casa, debruçando-se além de oito horas diárias para elaborar as aulas, corrigir provas, conversar com os alunos sobre problemas pessoais e sociais, pensar a escola, entre outras atribuições realizadas pelos professores.


Francisca é também coordenadora do núcleo de professores da CTB que realizou a campanha "Nenhum Direito a menos!" para os professores da categoria "O"

“Nessa maratona, o professor não consegue tempo para continuar a sua formação, visto que o governo não aplica a jornada de de, no mínimo, 1/3 da jornada para preparação de aulas e formação, entre outras atividades feitas fora da sala de aula”, reafirmou Francisca.

A luta pelo atendimento total da plataforma de reivindicação dos professores irá continuar, certificou a dirigente, pois “a luta maior é pela valorização do professor e educação pública de qualidade para todos”.

Os professores que participaram da greve farão a reposição das aulas e terão as suas faltas retiradas do prontuário.

Veja os outros pontos de negociação:

  •  Fim da prova anual aplicada aos professores da chamada “categoria F”;
  • Fim da prova exigida dos professores da chamada “cate­goria O” que já pertencem à rede estadual, ou seja, se já foi aprovado uma vez, não precisa mais fazer aprovada. Ela será aplicada apenas aos que estão ingressando pela primeira vez;
  •  A quarentena será de 40 dias, ou seja, não mais será de 200 dias. Continuamos lutando para que não haja mais quarentena e que os professores da “categoria O” tenham os mesmos direitos da “categoria F”;
  •  Concurso público no segundo semestre para professores PEB II;
  • Vale assinalar que o reajuste previsto para julho de 2013 era de 6%. Nosso movimento conseguiu ampliá-lo para 8,1%. Continuamos na luta por aumento real e pela reposição de todas as perdas;
  • Convênio em torno de projeto a ser elaborado pela APEOESP para prevenção e combate à violência nas escolas;
  •  Discussão do pagamento dos dias parados e retirada das faltas da greve mediante reposição de aulas.

De São Paulo, Ana Flávia Marx, com informações da Apeoesp