Reino Unido: Evento aborda operação militar israelense em Gaza
A Campanha de Solidariedade à Palestina debate nesta quinta-feira (23) a Comissão de Investigação do Conselho de Direitos Humanos da ONU na Faixa de Gaza, de 2009, após a operação israelense Chumbo Fundido. Em 22 dias, ataques aéreos e incursões terrestres das forças de Israel deixaram cerca de 1.400 palestinos mortos. O relatório final incluiu menções a crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade, mas ainda não gerou consequências penais.
Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho
Publicado 22/05/2013 14:01
Durante o evento, o integrante da Campanha de Solidariedade à Palestina (PSC, na sigla em ingles), Shareef Esoof, falará da sua recente visita a Gaza, e o coronel Desmond Travers, oficial aposentado que participou da comissão de investigação da ONU e que hoje se dedica a temas de construção da paz falará do trabalho da comissão, liderada pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, e também sobre a operação militar, com base em análises feitas durante quatro anos.
A operação israelense Chumbo Fundido (Cast Lead, em inglês), foi conduzida entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, e foi amplamente condenada a nível internacional. O relatório emitido por Goldstone, em mais de 500 páginas, concluía que as Forças de Defesa de Israel e os grupos armados da Faixa de Gaza tinham cometido crimes de guerra e, possivelmente, crimes contra a humanidade.
Sendo judeu, o juiz Goldstone foi condenado de forma intensiva por grande parte da comunidade judia, e chegou a ser banido de alguns meios religiosos, já que Israel empregou um discurso de vitimização usual, acusando Goldstone pessoalmente. O juiz retrocedeu pouco tempo depois, e seu relatório não surtiu efeitos jurídicos ou penais para os envolvidos na agressão militar.
O coronel Travers foi um dos quatro autores do que ficou conhecido como “Relatório Goldstone”, ou a Missão da ONU para Averiguação dos Fatos sobre o Conflito de Gaza estabelecida pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU especificamente para investigar as acusações internacionais de uso de armas químicas, “punição coletiva”, destruição indiscriminada e ataques a civis, entre outras.
Travers participou de operações de paz da ONU como membro do exército irlandês, serviu no comando e em operações no Líbano, na Croácia, na Bósnia e outras. Desde 2001 tem trabalhado com a ONU no treinamento de policiais, ONGs e outros profissionais que investigam crimes de guerra, e também é o vice-presidente do Instituto Internacional de Investigações Criminais de Haia (Holanda), onde está o Tribunal Penal Internacional.
O coronel falará dos desenvolvimentos do relatório e do controle militar de Israel sobre a Faixa de Gaza. Quando Goldstone voltou atrás em suas declarações, Travers mostrou-se decepcionado em uma entrevista à Associated Press, em 2011, e disse que não previa as novas declarações do juiz, mas que “o teor do relatório, completo, prevalece, na minha opinião”.
Na mesma linha, o Conselho de Direitos da ONU disse que “relatórios da ONU não são rescindidos por um editorial em um jornal”, referindo-se ao texto que Goldstone publicou quando disse ter se arrependido. Entretanto, ainda não houve consequências penais internacionais para as graves acusações contidas no relatório.