Israel: Detento palestino sofre negligência médica na prisão
Thaer Halahleh, de Hebron, é um detento de 34 anos e fez parte da campanha de greve de fome, tática de comoção política que tem surtido algum resultado, mas, também, trazido muitos problemas de saúde aos prisioneiros palestinos. Entretanto, não é somente devido às greves de fome que os detentos tiveram a saúde debilitada. Para Halahleh, além de lidar com a greve de fome, a situação tornou-se ainda pior, pois chegou a contrair hepatite C.
Publicado 23/05/2013 12:07
Segundo o advogado da Associação Addameer de Apoio aos Presos e de Direitos Humanos, Ziad Fares, o prisioneiro contraiu hepatite C em decorrência de negligência médica por parte do sistema prisional.
Thaer teria dito ao seu advogado que contraiu a doença durante o interrogatório na prisão de Askalan, e que desde então vem sofrendo com dores no peito, estômago, nos dentes, nas costas e, especialmente, nos rins. A ele só foi concedida a visita de um médico após quinze dias de interrogatório contínuo, 24 horas por dia.
Antes disso, um dentista realizou a extração de um dente da parte superior esquerda molar, e ele recebeu uma grande variedade e quantidade de medicamentos para a lesão.
O preso revelou que, durante a sua extração dentária, o dentista usou ferramentas médicas não-esterilizadas, e que ele podia ver os traços de sangue nas ferramentas. A hepatite C é uma doença infecciosa que pode ser transmitida via equipamentos médicos não-esterilizados, do mesmo modo como Halahleh acredita que tenha contraído a doença.
O palestino ainda acrescentou que foi transferido para a prisão militar de Ofer, em 8 de maio de 2013, quando então encontrou o médico que lhe deu os resultados dos testes realizados na prisão de Askalan, que indicavam a hepatite.
Agora, além das dores nas costas, dos problemas dentários e oftalmológicos, Halahleh foi informado de que se a hepatite não for devidamente tratada, a doença poderia levá-lo à morte.
O médico recomendou que seu filho e sua esposa realizassem o teste de Hepatite a fim de confirmar que não sofrem da mesma doença e de que a responsabilidade é do sistema prisional israelense, caso seja comprovado que a transmissão tenha ocorrido durante o período de detenção .
De acordo com Halahleh, ele não estava sujeito a qualquer lesão ou exame de sangue que poderia ter transmitido a infecção, exceto para a operação dental, procedimento que não foi realizado com equipamento estéreis.
Atualmente, ele não recebe o medicamento que necessita para impedir que a hepatite se alastre pelo organismo. Durante sua prisão, Halahleh relata que as forças de ocupação israelenses invadiram sua casa no dia 08 de abril de 2013, por volta de 1h00 da madrugada.
Prisão e métodos de tortura
O procedimento para a prisão foi extremamente brutal. Ele foi severamente espancado, perfurado várias vezes em seu olho esquerdo e atingido em todas as partes de seu corpo na frente de sua esposa e filhos. Os soldados o arrastaram para fora de casa, quando vendaram seus olhos e algemaram braços e pernas; Halahleh ainda teria sido agredido novamente antes de entrar no veículo militar.
Dois soldados seguravam seus braços e batiam a cabeça de Halahleh contra o vidro do veículo. Em seguida, colocaram-no dentro do veículo militar e o levaram para o centro de detenção do assentamento judeu na Cisjordânia Beit El. Chegaram ao centro de detenção por volta das 2h30. Os soldados israelenses lançaram o detido no chão e o abandonaram no frio até as 7h00.
Halahleh também foi submetido a agressões e ameaças, quando soldados diziam que haviam pensado em matá-lo. Depois das 7h00 Halahleh foi transferido para o centro de detenção de Al-Moskobiyeh, em Jerusalém. Durante a transferência, eles dirigiram muito rapidamente e paravam de repente, a fim de fazer Halahleh cair dentro do carro. Ao ouvir os pedidos de Halahleh para que cessassem e desistissem, os soldados riam e o insultavam. Quando chegaram em Al-Moskobiyeh, Halahleh foi agredido novamente.
Halahleh acrescentou que passou dois dias em Al -Moskobiyeh e foi então transferido para a prisão de Askalan, onde foi imediatamente levado ao interrogatório. Ele foi mantido em interrogatório continuo, 24 horas por dia. Durante este tempo, a ele foi dado periodicamente apenas 10 minutos para comer e descansar. Toda vez em que ele caía no sono durante o interrogatório, como resultado de sua fadiga extrema, o interrogador o acordava gritando e batendo na mesa.
É importante notar que Thaer Halahleh foi libertado anteriormente, há 10 meses, depois de realizar uma greve de fome contínua durante 77 dias em protesto contra a sua detenção administrativa.
Ele é casado e tem uma filha (Lamar), de 2 anos. Seu advogado, Fares Ziyad, acrescentou que Halahleh será levado perante o tribunal militar de Ofer em 27 de Maio de 2013.
A Addameer denuncia o descaso lamentável e a negligência médica deliberada a que Thaer Halahleh tem sido submetido, bem como a tortura cruel e sistemática que ele vem sofrendo nas mãos dos soldados israelenses e interrogadores. A Addameer exige que as Nações Unidas, a Cruz Vermelha Internacional e a Organização Mundial de Saúde intervenham imediatamente em nome dos prisioneiros doentes e investiguem a natureza de suas doenças, bem como as condições de suas detenções.
A organização apela ainda para que haja pressão sobre o Estado ocupante a fim de acabar com a política de negligência médica nas prisões israelenses.
Fonte: Comitê Brasileiro de Apoio aos Presos Políticos Palestinos em Israel