Nova direção de TV opositora quer baixar conflito na Venezuela

Os novos donos da emissora de televisão aberta Globovisión se reuniram nesta quarta-feira (22/05), por mais de uma hora, com o presidente Nicolás Maduro no Palácio Miraflores. Opositor ao chavismo, o canal foi vendido na última semana aos empresários venezuelanos Juan Domingo Cordero, Raúl Gorrín e Gustavo Perdomo.

Por Luciana Taddeo, no Opera Mundi

Globovisión - Efe

“Foi uma reunião muito cordial”, afirmou Cordero, ao sair da reunião, esclarecendo que a emissora “vai continuar sendo um canal de notícias, transmitidas de uma forma veraz, oportuna”. “Vamos contribuir para que os níveis de conflito baixem no país e, sobretudo, trabalhar para a paz deste país que tanto a necessita”, complementou o empresário.

De acordo com ele, o governo venezuelano pediu à emissora sensatez na transmissão de notícias e o canal dirá “a verdade, mais nada”. Quando questionado por um jornalista local sobre a reunião na sede do poder Executivo do país após tantos anos de hostilidade entre o governo e a emissora, respondeu: “Você sabe as razões pelas quais a Globovisión não vinha a este palácio. Isso não vai voltar a acontecer na Globovisión”, garantiu.

O vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, afirmou que o objetivo da conversa com os novos donos da emissora é a construção de um “novo tipo de televisão” no qual “a verdade seja sagrada”. De acordo com ele, é preciso “diminuir o conflito, (…) eliminar estes setores fascistas das telas para que todas as tendências se expressem livremente, os que apoiem o governo e os que apoiem a oposição, mas (…) sem nenhum tipo de temor de ameaças contra a institucionalidade”.

A expectativa, segundo Arreaza, é que a Globovisión também acompanhe as ações do governo, cobrindo “todos os eventos noticiosos que tenham que cobrir com equilíbrio e respeito à verdade e à paz”. A iniciativa consistiria em uma mudança na linha editorial da emissora até então conduzida pela família Zuloaga, que detinha 80% do controle acionário do canal e proporcionava uma cobertura com transmissões na íntegra de eventos e discursos realizados por opositores, quando não aplicava o mesmo critério para o chavismo.

Diálogo

A aproximação do governo com os donos da Globovisión segue a linha de diálogo com os meios de comunicação proposta por Maduro, que na última segunda-feira (20), se reuniu com as diretorias das emissoras Televen e Venevisión. “É minha obrigação conversar com todos estes fatores, porque enquanto se faz um grande esforço para que a pátria avance em porto seguro, uma linha de guerra psicológica introduzida nos grandes meios de influência televisiva anula este esforço”, explicou.

Quando anunciou os encontros, o presidente venezuelano disse que não se pode subestimar o poder comunicativo dos meios de comunicação privados e fez alusão ao golpe de Estado de 2002 contra o falecido presidente Hugo Chávez, que contou com apoio de emissoras de televisão aberta do país, com a manipulação informativa. “Diante da ausência de partidos políticos e líderes democráticos na oposição, os meios os substituíram”, concluiu.

"Aqui recebemos gente de ambos os lados e, portanto, não temos problemas com a oposição, se se transmite a verdade e o que é a notícia sem manipulação de nenhum tipo”, afirmou Arreaza. O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello – que nesta semana foi acusado, através de um áudio apresentado pela oposição e atribuído a um chavista, de conspirar contra Maduro – também participou do encontro.

Repercussão

Não demorou para que a reunião com o governo e as palavras do novo presidente da Globovisión repercutissem nas redes sociais, com manifestações de preocupação e resistência a mudanças na programação da emissora, na qual muitos apresentadores defendem abertamente a oposição.

De acordo com muitos comentários postados por telespectadores, a mudança da linha editorial da emissora já é evidente, seja pela inclusão de mais informações de ações governamentais no noticiário como pela exclusão de um aviso antes utilizado pela emissora de que somente transmitia mensagens obrigatórias do governo “para evitar sanções”.

A ideia de um boicote ao canal começou a ganhar força: “Se a Globovisión muda lhe digo tchau e me mudo para o canal CNN” foi um dos comentários no Twitter. “A Globovisión tem sido uma válvula de escape para a oposição. Se a fecham, outra terá que abrir para que não ocorra uma explosão”, postou outro venezuelano. “Uma mudança na grade de programação da Globovisión deve ser diretamente proporcional à operação boicote com o controle na mão!”, escreveu um telespectador.

*Luciana Taddeo é correspondente do Opera Mundi em Caracas