Governo afegão, Talibã e EUA iniciam contatos nesta semana

O grupo Talibã do Afeganistão anunciou nesta terça-feira (18) que está preparado para tomar o primeiro passo em prol das negociações de paz com o governo afegão, depois de 12 anos de guerra (a partir da invasão impulsiva e imperialista dos Estados Unidos, em 2001), e oficiais estadunidenses disseram que se encontrarão com representantes do grupo no Catar, na próxima semana, para iniciar o processo.

Talibã - Mohammed Dabbous / Reuters

Se as conversações forem iniciadas, será a primeira vez que os antagonistas negociam para finalizar a guerra no Afeganistão, que eclodiu a partir da invasão dos EUA, em 2001, supostamente em perseguição aos membros da rede Al-Qaeda.

Os esforços em prol dessas conversações já foram iniciados há muito, mas emperrado pelas demandas das diferentes partes com objetivos fortes de longo-prazo no Afeganistão: o governo do presidente Hamid Karzai, a liderança exilada do Talibã, os Estados Unidos e o Paquistão.

Em um discurso televisionado em que anunciava a abertura de um escritório político do Talibã em Doha (capital do Catar), Mohammed Naim, um porta-voz do grupo, disse que os objetivos políticos e militares são “limitados ao Afeganistão”, e que não desejavam “prejudicar outros países”.

Oficiais da administração Obama em Washington disseram que a declaração do Talibã continua duas reivindicações cruciais: que os insurgentes acreditam que o território afegão não deveria ser usado para ameaçar outros países (uma referência indireta ao refúgio da Al-Qaeda no Afeganistão com a anuência do regime Talibã, e também dos EUA, de passagem, antes dos ataques de 11 de setembro), e também que eles estão comprometidos a encontrar uma solução política para a guerra.

Oficiais estadunidenses esperam que isso signifique uma ruptura pública do Talibã com Al-Qaeda, e dizem que o objetivo central das conversações, do ponto de vista dos EUA e do governo afegão, é persuadir o Talibã a desarmar-se e aceitar a Constituição afegã.

Um longo processo

Por outro lado, oficiais também advertem que há obstáculos no processo, que deve ser longo. Obama chamou o anúncio do Talibã de “um importante primeiro passo em direção à reconciliação”, mas um “passo muito recente”, corrigiu, durante um encontro com o presidente François Hollande, da França, na cimeira do Grupo dos Oito (G8), acontecendo nesta segunda (17) e terça (18) na Irlanda do Norte.

Depois do encontro previsto para o fim desta semana com representantes do Talibã no Catar, membros do Alto Conselho para a Paz do Afeganistão, que devem representar o governo nas conversações, irão se encontrar com os insurgentes, provavelmente para trocar pontos de vista sobre uma agenda de negociações.

O presidente Karzai referiu-se à abertura do escritório do Talibã no Catar em uma cerimônia de comemoração pela transferência de todas as responsabilidades securitárias das forças multinacionais lideradas pelos EUA às forças afegãs, embora o governo estadunidense já tenha conseguido o consentimento do presidente do Afeganistão para manter bases militares no país.

Por outro lado, Karzai também enfatizou o fato de que as conversações devem ser lideradas pelo Afeganistão, sugerindo que nem os EUA nem o Paquistão devem ser interlocutores. Além disso, ele também quer que os diálogos sejam realizados no Afeganistão, embora analistas acreditem que ambas as demandas não sejam realistas, já que os EUA buscam manter a sua influência.

Com informações do New York Times,
Da redação do Vermelho