Egito e Israel suspendem acordos de paz por operações no Sinai

O governo interino do Egito pediu a Israel a suspensão dos Acordos de Paz de Camp David, de 1978, para executar operações militares na península do Sinai, fronteira norte do país. Segundo o diário israelense Ma’ariv desta quinta-feira (11), o Exército egípcio pretende enviar tropas à região para neutralizar “ameaças terroristas”. Nesta sexta (12), Israel já permitiu o pouso de um helicóptero apache do Egito, que vinha de um sobrevoo pela Faixa de Gaza.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Apache do Egito no Sinai - Times

A operação está prevista para iniciar-se em alguns dias, de acordo com o Ma’ariv, que citou declarações de fontes israelenses para informar que Israel e os EUA concordam com a medida, pois consideram que corresponde ao “interesse de estabelecimento da paz” na região, e não pretendem ser obstáculos no “combate aos terroristas”.

O portal Debka, afiliado ao serviço de inteligência do regime israelense, anunciou que o governo de Israel permitiu as operações das Forças Armadas do Egito contra “grupos terroristas” que se refugiam no Sinai.

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Segundo o portal, os helicópteros são usados pelo Exército egípcio para impedir que membros do Hamas, partido islâmico que governa a Faixa de Gaza, de sair do território, supostamente para apoiar “gangues salafistas” (islamistas radicais) e transportar mísseis contrabandeados para Gaza.

“Pela primeira vez, as forças egípcias no Sinai foram capazes, nesta sexta, de usar apaches para atacar alvos do Hamas na Faixa de Gaza, por um lado, e por outro, alcançar frentes salafistas e células da Al-Qaeda na área montanhosa de Jabal Al-Halal, no centro do Sinai”, diz o portal.

O Exército egípcio aumentou a sua presença nesta região, transferindo uma parte das suas forças desde cidades do nordeste. Recentemente, também realizou operações de destruição de túneis subterrâneos de Rafah, província da Faixa de Gaza, alegadamente pelo transporte de armas e munições, mas que também são usados para “contrabandear” alimentos e remédios ou outros produtos básicos para o território palestino, bloqueado militarmente.

O Hamas e a Autoridade Palestina vêem mantendo negociações determinantes para a reaproximação (já que tensões políticas levaram a uma ruptura, em 2006) e para a inclusão do partido islâmico na Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o Executivo da Autoridade. Neste sentido, o Hamas também tem reafirmado uma postura diferente da combativa, buscando incluir-se na agenda das negociações de paz com Israel, congeladas desde 2010.

Em setembro de 1978, o presidente Anwar Sadat, do Egito, e o primeiro-ministro Menachem Begin, de Israel, com a mediação determinante do então presidente dos EUA Jimmy Carter, mantiveram negociações secretas por quase 12 dias, em Camp David, uma base militar e casa de campo usada para reuniões do gênero, no estado norte-americano de Maryland.

O resultado foi a assinatura dos Acordos de Paz de Camp David, rechaçados por grande parte da própria população egípcia, pelos países árabes e principalmente pelos palestinos. Através do acordo, o Egito converteu-se no primeiro país árabe a assinar um tratado de paz com o regime israelense, em troca de uma ajuda militar inicial de bilhões de dólares prometida pelos EUA.

O acordo incluiu ainda a desmilitarização da península do Sinai e algumas provisões sobre a questão palestina, que seria postergada indefinidamente através de uma semi-definição de status de “autonomia”, sem qualquer menção ao status final de um Estado independente, o que causou nos palestinos uma profunda frustração com a postura egípcia.