Estabilidade do Líbano depende do diálogo político nacional

O secretário-geral do Hezbolá, Hassan Nasrallah, pediu calma e diálogo para a discussão sobre a formação de um novo governo de unidade no Líbano, e isto não pode ser interpretado (como foi, pela coalizão contrária, 14 de Março) como uma mera jogada para encobertar uma crise interna no partido, supostamente devido a sua participação nos confrontos na Síria, em apoio ao presidente Bashar Al-Assad. A análise é desta segunda-feira (22), de Ibrahim al-Amin, no portal Al-Akhbar.

Aliança 14 de Março no Líbano - Naharnet

Se o líder do Partido do Futuro, Saad Hariri, integrante da coalizão 14 de Março decidir ignorar a proposta de Nasrallah, “estaremos diante de uma escalada da crise política no país, o que certamente terá impacto sobre os esforços de formação de um governo e em compromissos relacionados com a segurança”, afirma Al-Amin.

A Aliança 14 de Março é uma coalizão de forças que se opõem à atuação do Hezbolá e à influência da Síria na política interna do Líbano. Nasceu de uma resposta a uma manifestação de apoio de partidos aliados ao Hezbolá (da Aliança 8 de Março), após o assassinato do primeiro-ministro Rafiq Hariri, em 2005.

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O Hezbolá e a Síria foram acusados sem fundamentos pela ação por países do Ocidente e pelo 14 de Março, enquanto alegavam que o assassinato do premiê foi obra da vizinha Israel, que mantém uma política agressiva e de violação frequente da soberania libanesa. A Aliança 8 de Março governou o Líbano entre 2011 e março de 2013, com o primeiro-ministro Najib Mikati.

“Não podemos esperar uma resposta rápida de Hariri nesta questão, mas não seria a primeira vez que o Partido do Futuro recusa tais ofertas, contando com que os acontecimentos regionais lhe favoreçam”, diz Al-Amin, lembrando que os esforços do primeiro-ministro interino Tammam Salam para formar um governo chegaram a um ponto complicado.

“Ele está sob uma pressão tremenda do Partido do Futuro e da Aliança 14 de Março para manter o Hezbolá fora do governo, o que é impossível e significaria, certamente, o fim da sua missão”, afirma.

O apelo de Nasrallah pelo diálogo ainda pode surtir efeitos, de acordo com Al-Amin. Em um nível, o Hezbolá está preocupado com a falta de contato com as forças opositoras, principalmente com o partido de Hariri, afirma. “Mas o problema pode requerer muito mais do que a abertura de canais, como ressaltado pela declaração do presidente do Parlamento, Nabih Berri, de que ele não se oporia à volta de Hariri ao Líbano para chefiar o próximo governo”.

Saad Hariri, filho do premiê assassinado em 2005 e um dos principais líderes da Aliança 14 de Março (através do seu Movimento do Futuro), foi primeiro-ministro do Líbano entre 2009 e 2011, quando o seu gabinete colapsou, com a sua proximidade com o presidente dos EUA Barack Obama e a acusação contra membros do Hezbolá pelo assassinato de seu pai como motivos fortes.

Sobre as dimensões regionais da crise política e o efeito dos conflitos nos países vizinhos, Al-Amin diz que forças como o Partido do Futuro “esquecem-se rapidamente de que os eventos tumultuosos da região nos últimos anos empurraram o Líbano para as margens. Atores de muito mais peso com interesses muito mais altos entraram em cena, desde o Egito, o Iraque e a Síria, até os países do Magrebe [noroeste africano]”.

Conforme conclui Al-Amin, se os líderes do Partido do Futuro analisarem a questão, se darão conta da necessidade da iniciativa de Nasrallah e acharão uma forma de compromisso para superar este período delicado no Líbano. "A recusa teimosa, como as que temos visto no passado, só nos levarão de um retrocesso ao próximo, até a ruína total”, afirma.

Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações do Al-Akhbar