Negociadores da Palestina e Israel encontram-se apesar de tensões

Apesar das declarações emitidas por membros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) nesta segunda-feira (25), após a morte de três palestinos, por disparos israelenses, no campo de refugiados de Calândia (Cisjordânia), o encontro entre os negociadores Saeb Erekat, chefe da equipe palestina, e a ministra israelense da Justiça, Tzipi Livni, não foi suspenso, mas ocorreu à noite, segundo o jornal israelense Ma’ariv.

Saeb Erekat John Kerry e Tzipi Livni - Associated Press Photo

Em declaração, membros da OLP anunciaram a suspensão das negociações de paz, recém-retomadas, em 30 de julho, após três anos congeladas. Entretanto, os dois líderes negociadores encontraram-se nesta segunda à noite, como previsto, para a quarta reunião de negociações.

Reagindo à morte de três palestinos em Calândia, consequências dos disparos de soldados israelenses que invadiram a região, autoridades da OLP disseram que o evento apenas ressaltava o comportamento do governo israelense, de total descompromisso com uma solução justa. Na terceira e última reunião, realizada na terça (20), o presidente palestino Mahmoud Abbas havia dito que um acordo de paz dependia da vontade do governo israelense.

Leia também:
Israelenses matam três palestinos e negociações são suspensas

O ministro de Relações Exteriores da Autoridade Palestina (AP) afirmou, ainda nesta segunda, durante uma coletiva de imprensa: "Deixamos claro em várias ocasiões que as negociações serão afetadas por políticas e medidas que prejudiquem o processo", e que "sem dúvida, o que aconteceu esta manhã terá um efeito".

A organização israelense de defesa dos direitos humanos, B’Tselem, e o Centro de Informações para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados iniciaram uma investigação sobre as mortes, após receberem relatórios sobre o uso de força excessiva por parte dos soldados, na detenção de um “suspeito terrorista”, como denominado pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).

O “suspeito” procurado havia sido liberado em 2011, junto com outros 1020 palestinos, no acordo para a libertação do soldado israelense Gilat Shalit, raptado por militantes palestinos.

Investigações sobre a operação

O jornal Ha’aretz, citado pelo Portal Vermelho, noticiou nesta segunda o incidente em que grupos de residentes de Calândia cercaram os veículos blindados dos soldados israelenses, protestando contra a incursão, com o uso de paus e pedras. Mais tarde, a ação foi classificada pelas FDI como “conduta violenta e desordeira” que teria causado a reação fatal dos soldados.

A organização B’Tselem indicou que experiências anteriores mostraram que, quando as forças de segurança de Israel entram em áreas densamente habitadas, a ação geralmente leva a protestos como esse, inclusive arriscando a vida dos soldados, o que foi relevado pelos comandantes ou planejadores da operação.

Uma investigação imediata foi exigida pela B’Tselem, principalmente sobre a decisão do comando para levar a cabo a detenção desta maneira, em uma manhã escolar movimentada em Calândia, e sobre os soldados estarem preparados ou não de forma a evitar o uso de armas letais.

Entretanto, o jornalista Amos Harel, em artigo desta terça (27) para o Ha’aretz, lembra que a operação não foi excepcional, mas mais uma ação realizada sistematicamente, durante a noite, e por isso, respondida com menos resistência.

Entre as questões levantadas pelo jornalista para uma possível investigação estão: era necessária uma operação como esta, no centro de um campo de refugiados, durante a retomada do processo de paz (os “suspeitos” eram considerados mesmo tamanho perigo)? O fato de a operação ter ocorrido no começo da manhã indica a recepção atrasada de informações de inteligência, embora tal exposição constitua um risco para os soldados?

O incidente é o segundo do tipo em duas semanas, após a morte de um jovem de 19 anos, na quinta-feira (22), no campo de refugiados de Jenin, sob as mesmas circunstâncias. “É provável que a reação agressiva dos palestinos tenha raiz no aumento das prisões realizadas pelas FDI desde o fim do mês do Ramadã”, concluiu Harel.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho