Britânicos rechaçam intervenção na Síria; EUA e França mantêm

O Parlamento do Reino Unido negou permissão à participação do país na intervenção militar contra a Síria, em votação realizada na noite desta quinta-feira (29). O primeiro-ministro conservador David Cameron é um defensor ativo da agressão contra o país árabe, proposta liderada pelos Estados Unidos e que ainda conta com o apoio assertivo do presidente François Hollande, da França, apesar da derrota interna de Cameron.

Protestos nos EUA contra intervenção na Síria - AFP

A intervenção militar na Síria, em clara violação da soberania nacional e sem qualquer consideração ao apoio popular recebido pelo governo do presidente Bashar Al-Assad, continua iminente.

Além do voto negativo do Parlamento britânico (de 285 contra 272 votos positivos), em posição liderada pelo Partido Trabalhista, países como o Canadá, a Alemanha, a Itália e a Polônia, por exemplo, entre os aliados da belicosa Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), já declararam-se contrários à intervenção militar.

Cameron ressaltou sua posição favorável à intervenção "face ao uso de armas químicas contra a população", mas afirmou, após a votação, ainda no Parlamento (Casa dos Comuns) que entendeu a mensagem dos parlamentares, representando a população britânica, de que não querem "ver uma ação militar britânica; eu entendo isso, e o governo agirá de acordo".

Entretanto, como demonstrado pela cobertura que tem sido feita pela emissora estatal britânica BBC, entre outras, a iminência de um ataque ainda é palpável, e o secretário de Defesa norte-americano, Chuck Hagel, assim como o presidente francês, Hollande, afirmaram que a intervenção ainda está sobre a mesa.

“Qualquer nação tem o direito de fazer as suas próprias decisões, e respeitamos isso”, disse Hagel, em uma coletiva de imprensa em Manila (Filipinas), nesta sexta (30). Pouca discussão tem se dado, porém, sobre algumas manifestações contrárias à intervenção entre a sociedade e entre parlamentares estadunidenses, que afirmaram que a tomada dessa decisão sem o aval do Congresso seria inconstitucional.
 
Hagel continua: “os britânicos têm sido firmes na condenação contra o uso de armas químicas pelo regime sírio, e esta votação no Parlamento não muda isso (…). Continuaremos trabalhando com o Reino Unido e o consultando, assim como a todos os nossos aliados”.

A Rússia e a China saudaram o voto parlamentar britânico, que reflete um entendimento crescente sobre os riscos de um ataque. O chanceler chinês Wang Yi condenou a “pressa em forçar uma ação contra a Síria” ainda antes das conclusões dos inspetores da ONU, que investigam as denúncias sobre o uso de armas químicas no país a convite do governo do presidente Bashar Al-Assad. O governo nega veementemente o uso desses recursos e ressalta a politização do tema, instrumentalizado, sem bases, a favor da iminente intervenção militar.

Inspeções sobre armas químicas

Os inspetores devem deixar a Síria neste domingo (1º/9) e apressar a conclusão do relatório final sobre as investigações, o que tem potencial extremamente negativo para a credibilidade dos resultados, que podem ser usados para legitimar a intervenção militar.

A retirada apressada da equipe foi negociada pelo secretário geral da ONU, Ban Ki Moon, com o presidente estadunidense, Barack Obama, dada a iminência de um ataque, embora Ban também pedisse “cautela” para a decisão.

Em declaração desta quinta-feira, a Casa Branca teria ressaltado que “continua a consultar-se” com o Reino Unido sobre a Síria, e descrito Londres como “um dos nossos aliados e amigos mais próximos”.

O trabalho dos inspetores já tem sido prejudicado pelos confrontos e pela atuação dos grupos armados na Síria (compostos em grande por mercenários e islamitas estrangeiros, com financiamento e apoio bélico declarado pelo Ocidente).

Nesta quinta, a equipe tentou se dirigir aos bairros de Damasco ocupados pelos rebeldes por duas ocasiões, segundo a BBC, mas tiveram de voltar ao hotel em que está hospedada devido aos relatos de disparos na região. Já na segunda (26) o comboio da ONU foi vítima de disparos, quando se dirigia à região de Ghutta, onde há denúncias sobre o uso de armas químicas (em um ataque do último dia 21, em que centenas de pessoas foram mortas).

Já nesta sexta (30), os inspetores visitam um hospital público em Damasco, onde os oficiais sírios dizem estarem internadas algumas vítimas de ataques com gases tóxicos, inclusive o sarin, que já havia sido encontrado em posse de alguns rebeldes.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho