Roberta Traspadini: Chávez, morte matada ou morrida?

 A morte de Chávez foi um fato político. Analisemos duas questões: Por quê Chávez incomodava tanto? E por que após sua morte, a Venezuela deixa de aparecer nos principais meios midiáticos brasileiros?

Por Roberta Traspadini*, no Brasil de Fato

Hugo Chávez

Faz quase seis meses que Hugo Chávez morreu. Mas nosso cotidiano de luta contra a exploração e a opressão é tão intenso que este fato aparenta ter ocorrido há muito tempo. A morte de Chávez foi um fato político. Analisemos duas questões: Por quê Chávez incomodava tanto? E por que após sua morte, a Venezuela deixa de aparecer nos principais meios midiáticos brasileiros?

1) Chávez como agitador-propagandista revolucionário

O perfil de líder de Chávez e seu papel de difusor tanto das mazelas do imperialismo sobre o território latino, quanto das potencialidades de um bloco contra-hegemônico desde o sul, estava atrelado: a) ao peso dos recursos naturais estratégicos que pertencem aos países latino-americanos sem os quais a hegemonia norte-americana é visivelmente fragilizada, senão destruída; b) ao peso da retomada de processos revolucionários no horizonte latino, tendo como ponto de partida a experiência cubana, a relação direta com os lideres cubanos e as necessárias táticas de reforma nacional que fortalecem a construção de outro modelo de desenvolvimento.

Para fazer frente a dito desafio continental, Chávez, e seu gênio indomável anti-imperialista, retomou o papel do Estado sobre dois grandes monopólios nacionais: o petróleo e os meios de comunicação. Ambos abriram uma fenda direta de ataque à ofensiva dos EUA sobre o controle dos recursos e do território venezuelano.

Através da agitação e propaganda, Chávez apresentou a indissociável relação entre a economia e a política dos EUA. Os monopólio do petróleo e da comunicação sob o domínio americano operavam, no interior da nação e em todo o continente, como o jeito de ser e fazer dos EUA sobre o continente.

Foi através do perfil popular, educado nas forças armadas na ideia de defesa da Pátria, mas que tomou partido pelos princípios bolivarianos, que Chávez entrou ao mesmo tempo pela porta da frente da casa dos lutadores sociais e teve, na companhia do nosso líder Fidel, a oportunidade de reaprender a utilizar suas estratégias e táticas de guerra em prol do povo latino-americano.

Chávez foi um incondicional agitador e propagandista da revolução e por isto mesmo um arquiteto do sonho bolivariano na integração dos povos latinos, ante o processo de reestruturação para a integração dos mercados do capital.

2) A morte de Chávez e o imperialismo dos EUA

O povo bolivariano conseguiu, com sua força lutadora, manter a vitória constitucional sobre o raivoso rival de direita, após a morte de Chávez. Isto implica, para dentro do País, um trabalho intenso na defesa do projeto e no ataque à voracidade do capital (inter)nacional em retomar seu poderio e, para fora, a necessidade de contar com fortes aliados na continuidade de seu projeto bolivariano.

A morte de Chávez abriu, no norte, a retomada de sua estratégia de vencer simbolicamente a contra-ofensiva bolivariana a partir da invisibilidade anunciada. Invisibilizar é um mecanismo estratégico e violento de dizer que o outro não existe, ainda quando esteja visivelmente presente. É a forma sutil de um gesto tão brutal e violento quanto a visibilidade do inimigo como criminoso por parte do capital.

A morte de Chávez é projetada pelos EUA e seus aliados, como a morte do comunismo. Portanto é morte matada tanto no caráter criminoso da invisibilidade da Venezuela, quanto no histórico processo dos homicídios culposos e dolosos decorrentes de a ação imperialista sobre o território latino.

Para nós, povo latino, Chávez está mais vivo do que nunca nas lutas populares da América Latina. Nossos povos estão nas ruas. E com eles se levantam as bandeiras, os exemplos e a continuidade da luta anti-imperialista pelo projeto popular.

*Roberta Traspadini é professora da ENFF e da UFVJM