ONU: Maioria dos civis sírios foi morta em ataques convencionais
A grande maioria dos sírios foi morta em ataques com armas convencionais, como canhões e morteiros, com as crianças compondo uma grande parcela das vítimas, afirmou nesta segunda-feira (16) o grupo de trabalho da ONU que investiga a situação dos direitos humanos na Síria. Os membros do grupo pediram a suspensão do envio de armas ao país.
Publicado 17/09/2013 08:44
“A transferência de armas não deve ocorrer onde há um risco real de que elas sejam usadas na prática de crimes contra a humanidade, violações do direito internacional humanitário ou crimes de guerra. Na Síria, esta é uma realidade trágica”, disse o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão Internacional de Inquérito sobre a Síria, ao apresentar o relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
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Ele observou que a falta de uma solução para o conflito levou ao aprofundamento da crise e à “expansão para novos atores e crimes inimagináveis”. Mais de 100 mil pessoas já foram mortas desde o início dos confrontos, em março de 2011.
Enquanto os combates continuam, os civis são os que mais precisam suportar seu peso. Nesse contexto, o relatório da comissão da ONU afirma ter observado que os civis continuam a enfrentar diariamente bombardeios indiscriminados pelas forças do governo, enquanto grupos extremistas antigovernamentais mantêm frequentemente como alvo a população civil, em ataques principalmente nas províncias do norte.
Um outro relatório da ONU, sobre o uso de armas químicas, foi tornado público nesta segunda-feira (16). Segundo o documento, há “provas claras e convincentes” de que gás sarin foi usado em 21 de agosto na área de Ghouta, nos arredores da capital Damasco, mas ainda não há informações sobre os responsáveis.
Pinheiro, que preside a Comissão composta também por Karen AbuZayd, Carla del Ponte e Vitit Muntarbhorn, disse que a grande maioria das vítimas dos conflitos foi morta pelo uso de armas convencionais, como canhões e morteiros.
As munições "cluster", ou de fragmentação (armas compostas por uma caixa que se abre no ar e espalha inúmeras sub-munições explosivas ou ‘sub-bombas’ sobre uma ampla área), continuam a ser usadas em áreas civis, principalmente na província de Idlib, disse Pinheiro. Grupos armados antigoverno e as forças governamentais também lançaram ataques contra o pessoal médico e os hospitais, afirmou a Comissão.
No dia 16 de agosto, combatentes da oposição ao presidente Assad atacaram uma ambulância curda do Crescente Vermelho em Alepo, matando o motorista, um paciente e um paramédico.
A Síria tornou-se um lugar cada vez mais perigoso para os jornalistas, disse Pinheiro, observando um “padrão perturbador de perseguição, prisão e detenção” de jornalistas, especialmente estrangeiros. Nas últimas seis semanas, relatos de jornalistas sequestrados por grupos extremistas armados antigovernamentais foram recebidos.
O chefe da Comissão também observou um “aumento em crimes e abusos” no norte da Síria cometidos por grupos extremistas armados antigovernamentais, juntamente com um fluxo de combatentes estrangeiros.
Centenas de civis curdos no norte de Alepo, Al Raqqah e Al Hasakah foram feitos reféns por grupos extremistas armados antigovernamentais para a trocas de prisioneiros, segundo Pinheiro.
Em sua declaração, ele também destacou a deterioração das condições humanitárias, em particular nas áreas curdas da Síria, e do impacto das hostilidades sobre os direitos socioeconômicos dos sírios.
Estabelecida pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2011, a Comissão tem o mandato de investigar e registrar todas as violações da lei internacional dos direitos humanos durante o conflito na Síria.
A Comissão divulgará nesta quarta-feira (18) o relatório com base em 258 entrevistas e outras evidências coletadas durante o período de dois meses, entre 15 de maio e 15 de julho de 2013.
Com informações da ONU