ONU divulga relatório sobre uso de armas químicas na Síria
A Organização das Nações Unidas (ONU) divulga, na tarde desta segunda-feira (16), o relatório da equipe de peritos que enviou à Síria, para a investigação sobre o uso de armas químicas. O documento confirma as alegações do emprego do agente nervoso Sarin, em larga escala, na região de Ghouta (subúrbio da capital, Damasco), no incidente do dia 21 de agosto, quando centenas de pessoas morreram. A responsabilidade pelo ataque ainda não foi estabelecida.
Publicado 16/09/2013 14:43
Em reunião com os membros do Conselho de Segurança, nesta segunda, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apresenta o relatório que recebeu do líder da equipe de perícia, o sueco Ake Sellström, ainda na sexta-feira (13).
O relatório explica detalhadamente a metodologia e o cronograma da equipe, que chegou à Síria no dia 18 de agosto, para conduzir investigações sobre as alegações de uso de armas químicas contra civis. Após o convite do governo do presidente Bashar Al-Assad, a equipe negociou com as autoridades nacionais sobre a investigação, que acabou centrada na região de Ghouta (devido ao incidente posterior à sua chegada, em 21 de agosto), apesar de o governo ter denunciado episódios similares em outras regiões.
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O gás sarin (um agente químico que ataca os nervos) foi usado em larga escala no incidente, conclui o relatório, com base em metodologias específicas. A equipe não tinha como objetivo, entretanto, atribuir responsabilidades pelos ataques, passo que só será possível a partir de mais análises do material coletado e mais pesquisas de campo. Além disso, o relatório assegura que as investigações sobre as outras denúncias de uso de armas químicas, feitas pelo governo sírio, continuam em curso, e a equipe voltará ao país.
A missão realizou entrevistas com testemunhas da região, documentou munições e outros subcomponentes encontrados, coletou amostras ambientais, fez uma avaliação dos sintomas dos sobreviventes e coletou amostras de cabelo, urina e sangue para mais análises. 85% das amostras de sangue, por exemplo, continham traços de sarin, de acordo com o secretário-geral da ONU.
Na apresentação do relatório, Ban saudou a iniciativa da Síria (a partir da proposta feita pela Rússia de entrega do seu arsenal químico) de assinar a Convenção sobre Armas Químicas, que prevê a destruição desses recursos.
“O secretário-geral condena nos termos mais firmes possíveis o uso das armas químicas, e acredita que este ato é um crime de guerra e grave violação do ‘Protocolo de 1925 para a Proibição do Uso de Gases Asfixiantes, Venenosos e Outros durante a Guerra”, e pede o empenho do Conselho de Segurança e da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPCW), de acordo com a nota de apresentação do relatório.
O documento afirma ainda que “a acessão da República Árabe Síria, em 14 de setembro de 2013, à Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Armazenamento e Uso das Armas Químicas e sobre a sua Destruição é um desenvolvimento saudado. Como depositário da Convenção, o secretário-geral saúda o acordo estabelecido [no mesmo dia] entre a Federação Russa e os Estados Unidos da América, de um quadro para a eliminação das armas químicas na República Árabe Síria”.
O acordo, proposto pelo chanceler russo, Serguei Lavrov, contou com o apoio do governo sírio, e estabelece um quadro para as negociações relativas à entrega e a destruição do arsenal químico da Síria, que tem o prazo de uma semana para elaborar uma lista dos seus armamentos e enviá-la à ONU. O governo sírio também já declarou que cumprirá as decisões da organização sobre o tema.
Na semana passada, Ban recorda, a publicação de um relatório da Comissão Internacional Independente de Investigação do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para a Síria já havia demonstrado que graves crimes contra a humanidade e crimes de guerra estavam sendo cometidos, “mas ainda assim, o envio de armas para o país se mantém”.
“Precisamos fazer o que pudermos para trazer as partes à mesa de negociações”, reforça o secretário-geral em suas declarações à imprensa, ao fazer referência à proposta de uma conferência política internacional (“Genebra 2”), já aceita pelo governo sírio, mas rechaçada por representantes da oposição sediada no exterior, que condiciona o diálogo à demissão do presidente Assad.
Com informações da ONU,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho