Evento em São Paulo recorda massacre de palestinos e impunidade

Nesta quarta-feira (18), membros do Comitê pelo Estado da Palestina e diversos ativistas estiveram em um evento realizado em São Paulo, para recordar o massacre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, em Beirute, capital do Líbano, em 1982, quando de 2.000 a 3.000 pessoas morreram. O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, esteve no evento e agradeceu a recordação, ressaltando a importância de denunciar a violência e promover a memória e a causa palestina.

Ibrahim Alzeben - Moara Crivelente / Portal Vermelho

No evento, que teve lugar no Clube Homs, na capital paulista, diversos poetas leram poesias próprias e as de poetas palestinos, como o reconhecido Mahmud Darwish, que se dedicou a temas da resistência palestina, da diáspora e da recordação sobre a sua terra, como no poema intitulado “Cólera e Tristeza”.

Na abertura, Khaled Mahassen, poeta, jornalista, militante do Partido Comunista do Brasil e membro do Partido Comunista Libanês fez declarações sobre o massacre: “Há exatos 31 anos, o sionismo aliado à extrema direita libanesa cometeu o maior genocídio contra o povo palestino. Milhares de mulheres, crianças e idosos foram assassinados a sangue frio. Nada sobrou, mais uma vez, Israel usou a política de extermínio e destruição e mais uma vez os príncipes e reis árabes e outros ditadores fecharam os olhos e taparam os ouvidos e mataram seus sentimentos. Mais uma vez, o mundo não se importou com a dor e a perda do povo palestino”.

O embaixador palestino, Ibrahim Alzeben, agradeceu aos participantes do evento pela recordação e pelo apoio à causa palestina pela autodeterminação, na luta contra a ocupação israelense, com políticas de opressão sistemática.

Em declarações ao Portal Vermelho, o embaixador falou da importância das manifestações que “afirmam ao mundo que os massacres, a perseguição e o assassinato político não serão soluções. O que resolverá a questão é a justiça e a paz. Desde 1948 estão massacrando o povo palestino, com o objetivo de apagar a nossa memória, mas ela está mais viva do que nunca, e estar aqui esta noite, com esta comunidade, com amigos, é uma mensagem para que o inimigo entenda de uma vez por todas que a paz é o caminho, e que os massacres só aprofundam a dor e o ódio”.

As autoridades palestinas têm reiterado frequentemente o compromisso e o empenho pela solução justa do conflito, que dura mais de 60 anos. “Não queremos mais dor, não queremos mais ódio, queremos paz verdadeira para unir nossos povos, para trabalhar pelo progresso, pelo bem-estar e pela vida digna do ser humano, de todos”, disse o embaixador.

Crimes contra a humanidade e impunidade

Em 1982, Israel havia invadido o Líbano com o pretexto de atacar a Organização para a Libertação da Palestina, alguns meses antes, e também para o combate contra a influência síria na política nacional libanesa, através do apoio à instalação do governo de Bachir Gemayel (do partido de extrema direita nacionalista Kataeb, ou Falanges), que foi morto em 14 de setembro.

Alegando reagir à morte do presidente, milícias associadas às Falanges atacaram os campos de refugiados, com o apoio israelense, conduzindo um massacre até hoje impune. O episódio impulsionou o estabelecimento oficial do Hezbollah, partido e movimento de resistência contra a recorrente agressão da vizinha Israel no território libanês.

As Forças de Defesa de Israel cercaram os campos de Sabra e Shatila e impediram os residentes de deixar o local, a pedido dos falangistas, de acordo com vários pesquisadores do assunto. Em 1983, uma comissão de averiguação dos fatos enviada pela Organização das Nações Unidas, liderada por Sean MacBride, concluiu que Israel teve responsabilidade pela violência.

No mesmo ano, uma comissão israelense admitiu que os oficiais do Exército israelense estavam cientes do massacre em progresso, e que o então ministro da Defesa, Ariel Sharon, teve responsabilidade pessoal pelo evento, o que o forçou a demitir-se. Entretanto, não houve processos pelo genocídio (como reconhecido pela ONU), na continuidade da impunidade com que agem as forças israelenses.

"Nada sobrou, mais uma vez, Israel usou a política de extermínio e destruição e mais uma vez os príncipes e reis árabes e outros ditadores fecharam os olhos e taparam os ouvidos, e mataram seus sentimentos. Mais uma vez, o mundo não se importou com a dor e a perda do povo palestino", disse Khaled Mahassen, que também recitou um poema pessoal sobre o massacre, sobre a dor e sobre a revolta com a injustiça.

Da redação do Vermelho,
Moara Crivelente