Paraguai: Membros do Foro de SP criticam repressão aos camponeses

Representantes da Regional Cone Sul do Foro de São Paulo estiveram reunidos entre os dias 26 e 28 de setembro em Assunção, no Paraguai, para uma série de atividades, que incluíram a discussão sobre a militarização no país e a repressão aos camponeses. O deputado estadual (SP) Alcides Amazonas, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) levou sua contribuição ao encontro e defendeu a luta por direitos humanos e a integração da América Latina.

Por Lais Gouveia e Théa Rodrigues, da redação do Vermelho 

Curuguaty - El Observador

O deputado comentou com exclusividade ao Vermelho que “é chocante a situação política que o Paraguai está vivendo”. Amazonas referiu-se ao sangrento massacre aos camponeses de Curuguaty, que ocorreu no ano passado e resultou no golpe de Estado que destituiu o presidente constitucionalmente eleito, Fernando Lugo. Também comentou a maneira como o atual governo vem tratando os trabalhadores e a morte de 121 lideranças rurais Guarani que ocorrem no país desde 1989.

“A violação dos direitos humanos no Paraguai com o governo de Horacio Cartes é algo muito forte”, denunciou Amazonas. Segundo ele, “estão criminalizando os movimentos sociais e prendendo camponeses por crimes que não cometeram”.

Durante sua visita ao país, o deputado esteve em duas casas de detenção e conversou com os presos políticos que lutam pela terra. “Embora o governo negue a existência de presos políticos, as delegações do Foro de São Paulo puderam constatar o contrário durante a visita”, disse.

Ele também se reuniu com membros do Ministério Público paraguaio que lhe informaram “ter muita dificuldade na determinação das penas por conta das leis do país que não permitem um julgamento justo”. De acordo com Amazonas, “o ministério afirmou que alguém que comete homicídio tem a mesma condenação de quem tem a intenção de cometer o mesmo crime”.

Para o deputado, a questão paraguaia deve ser internacionalizada: “a solidariedade latino-americana aos povos que lutam pela terra é fundamental neste momento para divulgar e denunciar as arbitrariedades que estão acontecendo no país”.

Amazonas disse ainda que “cerca de 80% das terras produtivas estão concentradas nas mãos de 2% da população que detém o poder econômico”.

Trabalhadores crucificados

Três trabalhadores do setor de transportes do Paraguai promoveram um protesto no qual permaneceram “crucificados” por quase dois meses em busca de respeito às atividades sindicais e reivindicando a suspensão das suas demissões.

Sobre isso, Amazonas disse que “no dia da chegada das delegações estrangeiras ao Paraguai, eles foram readmitidos nas suas empresas”, encerrando, portanto, a manifestação.

Segundo noticiou a agência Prensa Latina, o acordo foi firmado após várias horas de reunião e depois que todas as centrais sindicais do país ameaçaram uma greve geral de 72 horas caso o governo não solucionasse a questão.

“Os trabalhadores estão sendo levados às últimas consequências, fazendo um sacrifício enorme e colocando a vida em risco para defender os seus direitos e a democracia no Paraguai”, observou o deputado do PCdoB.

Situação paraguaia é mais grave do que parece

Assim como Alcides Amazonas, outros representantes da Regional Cone Sul expuseram suas críticas sobre a atuação do governo paraguaio na questão dos camponeses.

O representante argentino para a Integração e Participação Social, Oscar Laborde, também afirmou que no Paraguai há “um desrespeito aos direitos humanos e uma tentativa de militarização injustificada”. Ele contou ainda que os participantes do encontro do Foro de São Paulo ficaram surpresos com o que está passando no país, pois é mais grave do que imaginavam.

“Sabíamos da existência de um estado complicado de repressão e um avanço das políticas neoliberais, mas não ao ponto detectado em nossa visita”, revelou Laborde à Prensa Latina.

Da mesma forma, Hernán Quesada, dirigente do partido boliviano Movimento ao Socialismo (MAS) – legenda do presidente Evo Morales – afirmou que “o Estado paraguaio está tentando amedrontar o povo com a sua repressão”.

Em consonância com o que disse o deputado brasileiro, Quesada acredita que os latino-americanos “devem solidarizar-se com os que foram presos injustamente e com os camponeses assassinados”.

Em agosto, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos havia declarado que é obrigação do Estado paraguaio investigar e responsabilizar os culpados por esses crimes. Na ocasião, o organismo afirmou ainda que os casos deveriam ser tratados com urgência, exigindo que fossem tomadas as medidas cabíveis para garantir a segurança e integridade física dos defensores dos direitos humanos no país, em especial dos envolvidos na questão dos camponeses.

Resolução

Uma resolução aprovada pela representação do Foro fez um chamado a fortalecer uma luta coordenada pela unidade, que permita avançar na integração dos povos para enfrentar com sucesso a situação atual do Paraguai

Na declaração emitida ao final de sua visita, as delegações compostas por Argentina, Brasil, Bolívia e Uruguai declararam sua preocupação com a concentração do poder repressivo na presidência do Paraguai. Da mesma forma, expuseram apreensão com a violação dos direitos trabalhistas e as perseguições àqueles que buscam exercer a legítima atribuição constitucional da sindicalização.

O documento destacou ainda que o imperialismo não cederá em seu assédio aos governos e movimentos populares, e apelará cada vez mais à nova forma de golpe conhecida como neogolpismo, que se utiliza do Parlamento para dar um golpe de Estado, como feito com a administração de Fernando Lugo no Paraguai.