Governo de Israel conclui disputa política sobre orçamento militar

O gabinete de segurança de Israel aprovou um aumento, por unanimidade, de 2,75 bilhões de shekels (1,7 bilhão de reais) para o orçamento do Ministério da Defesa, em sessão de votação desta quinta-feira (31). O incremento, entretanto, é menor do que o pelo ministério, cerca de 2,8 bilhões de reais.

Parlamento israelense - Emil Salman / Haaretz

O aumento aprovado nesta quinta segue uma medida de corte de 3 bilhões de shekels (1,9 bilhão de reais) tomada há seis meses para o orçamento de 2014, enquadrado na tendência de austeridade também empregada na Europa. O ministro das Finanças, Yair Lapid, havia afirmado que a medida era essencial para a saúde da economia israelense, na ocasião.

A mudança de posição foi feita após uma negociação formulada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, nas últimas 24 horas. Na quarta-feira (30), Netanyahu havia se reunido com o ministro da Defesa, Moshe Ya'alon, e com o ministro Lapid, para deliberar sobre o assunto. Os fundos serão alocados a partir das reservas restantes do orçamento de 2013.

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Lapid, que tentou afastar as demandas do Exército israelense, afirmou, após a reunião: “Estou contente por termos conseguido impedir a transferência da quantia completa, como requisitada pela Defesa”, e que o tesouro usará o resto dos fundos não alocados para o setor (1,1 bilhão de reais) para educação, saúde e bem-estar.

O gabinete também decidiu estabelecer um comitê público para examinar o orçamento da Defesa. Uma equipe expedirá a realocação das bases militares no centro de Israel para áreas de “maior demanda”, de acordo com o jornal israelense Ha’aretz.

O minstro das Finanças, citado pelo Ha’aretz, afirmou que o orçamento havia sido definido em julho, e que desde então, nada havia justificado um aumento. Já o Ministério da Defesa declarou que havia concordado com um corte de 3 bilhões de shekels (1,89 bilhão de reais) em 2014, mas o tesouro cortou um total de 7,5 bilhões de shekels do orçamento militar para o próximo ano, o que causou uma disputa entre os dois ministérios.

Um oficial da Defesa chegou a alegar, em declarações à mídia, que “na presente situação, será impossível garantir a segurança. Não haverá exercícios de treinamento, cursos preparatórios (…), será um verdadeiro perigo”. Entretanto, também se denuncia o grave efeito que o serviço militar obrigatório tem na vida dos jovens, com diversos casos de empobrecimento e penalização sistemática aos que se recusam a servir.

O empenho das autoridades israelenses nas mobilizações de recursos humanos e financeiros com as “preocupações securitárias” é o maior agente da ocupação militar estabelecida sobre a Cisjordânia palestina, no terreno e através de regulamentos particulares, contrários aos princípios e em violação do direito internacional.

Ainda assim, durante um processo de negociações com os palestinos, a líder da oposição, Shelly Yacimovich, do Partido Trabalhista, põe a disputa financeira e política relativa à Defesa como questionamento ao governo do premiê Netanyahu, e insta as autoridades a usar os fundos para prover melhor educação, saúde e emprego.

Israel está entre os países onde se verifica uma influência intensa do Complexo Industrial-Militar sobre a política nacional, com empresas privadas de tecnologia avançada de Defesa seriamente envolvidas nos processos de tomada de decisão, como a Rafael, que produz sistemas de defesa equipamentos militares avançados, inclusive aviões não tripulados (drones).

Com Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho