Abbas denuncia colônias israelenses em reunião com Hollande
Após inaugurar sua visita a Israel com declarações de amizade e de parceria com o governo sionista, neste domingo (17), o presidente francês François Hollande recobrou alguns aspectos referentes às negociações com os palestinos nesta segunda (18). Durante uma coletiva de imprensa com o presidente palestino Mahmoud Abbas, ele instou Israel a “facilitar” a criação do Estado palestino, que seria a “melhor proteção” à sua segurança e à paz na região.
Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho
Publicado 19/11/2013 12:34

Hollande fez uma visita de duas horas a Ramallah, sede do governo palestino, na Cisjordânia, quando se encontrou com o presidente Abbas e disse que “a melhor proteção para a segurança e a paz de Israel é um Estado palestino soberano”.
Entretanto, retomando o discurso oficial dos israelenses e dos Estados Unidos, que vêm prolongando um processo de negociações há mais de 20 anos, o presidente francês disse que “não haverá um Estado palestino sem a garantia da segurança de Israel”.
Negociações da Autoridade Palestina com Israel são suspensas
Um dos principais entraves nas atuais negociações, retomadas em julho, tem sido a exigência inaceitável de Israel sobre a presença das suas forças militares dentro da Cisjordânia, concentradas na fronteira palestina com a Jordânia, e um Estado palestino desmilitarizado.
Hollande disse que ambos os lados têm que demonstrar compromisso, e que enquanto Israel precisa suspender as atividades de colonização (com a construção de milhares de residências, comércios e infraestrutura para israelenses nos territórios palestinos), os palestinos devem achar uma solução para a questão dos refugiados.
“Exigimos a cessão completa da colonização porque [isso] é uma ameaça à solução de dois Estados”, disse Hollande, sem manifestar a proposta de medidas práticas. A denúncia sobre a construção de colônias tem sido feita como o principal fator de estagnação de um processo de paz ineficaz, e os aliados de Israel, sobretudo os EUA e a União Europeia, não têm exercido pressão de forma eficiente neste sentido.
Refugiados e violência colonizadora
A questão dos refugiados, por outro lado, envolve o direito reconhecido pela Organização das Nações Unidas, através de diversas resoluções específicas sobre o caso palestino e também de documentos do direito internacional, de os palestinos expulsos das suas terras pela colonização sionista retornarem à Palestina.
Um exemplo crucial é a resolução 194 da Assembleia Geral da ONU, adotada ainda no ano de criação do Estado de Israel, em 1948.
O documento afirma que “os refugiados que desejem retornar aos seus lares e viverem em paz com seus vizinhos devem poder fazê-lo na data mais breve possível, e a compensação deve ser paga pelas propriedades daqueles que escolhem não voltar, e pela perda ou dano de propriedade que, sob os princípios do direito internacional ou da equidade, devem ser reparados pelos governos ou autoridades responsáveis”.
Entretanto, a pressão do governo israelense e de diversos grupos políticos e religiosos contra este direito se dá no sentido de que a proporção demográfica seria alterada significativamente, colocando em questão o “Estado judeu” pelo qual esses grupos advogam de forma extrema, sob o pretexto “de defesa” ou “securitário”.
Por outro lado, Abbas disse a Hollande, de acordo com a agência palestina de notícias Wafa, que as colônias e os ataques dos colonos contra residentes e propriedades palestinas (inclusive plantações) é “a maior ameaça que poderia destruir o processo de paz e as negociações”.
Para o presidente palestino, a solução para a questão dos refugiados poderia ser encontrada na proposta de paz feita pela Liga Árabe. “Há cinco milhões de refugiados que esperam por uma solução”, afirmou. “Nós estamos comprometidos com a Iniciativa de Paz Árabe, que pede que se encontre uma solução acordada e justa para a questão”. Abbas instou Israel “a sentar-se à mesa e trabalhar por uma solução justa, e depois assinar um acordo de paz”.
A França e a Palestina assinaram seis acordos de cooperação, segundo a Wafa, que Abbas e Hollande disseram fortalecer as relações bilaterais e ajudam no desenvolvimento da economia palestina, profundamente dependente da ajuda exterior devido aos efeitos e às restrições graves impostas pela ocupação israelense, tanto dos territórios quanto em termos administrativos.
O presidente Abbas também disse que ainda está estudando a demissão da sua equipe diplomática nas negociações com Israel, ressaltando que está comprometido com manter o processo durante o período de nove meses acordado com o secretário de Estado norte-americano John Kerry, quando as conversações foram retomadas, no final de julho.