Jorge Mautner: um homem de ideias e apaixonado pelo Brasil 

Em uma noite em que o Salão Nobre ficou ainda mais enaltecido com a entrega do título de Cidadão Paulistano a Jorge Mautner, realizada na última terça-feira (3), o artista mostrou porque é um dos construtores da cultura brasileira e deu uma verdadeira aula sobre o Brasil.

Sua história é entrelaçada também com as características culturais de São Paulo, segundo o próprio Mautner. A composição da letra de Maracatu Atômico, música que fez enorme sucesso, foi a partir da inauguração do Parque Ibirapuera, que aconteceu em 1954, e tinha uma feira com apresentações de diversos estados. Foi ali, que Mautner conheceu o Maracatu e depois compôs: “Atrás do arranha-céu tem o céu, tem o céu.”.

O autor de “A Bandeira de Meu Partido”, música considerada o hino dos comunistas no Brasil, quando morou em São Paulo, frequentou a escola de samba Vai-Vai e tem na figura de José Bonifácio, paulista que nasceu na cidade de Santos, sua inspiração para elaborar sobre a realidade brasileira.

Jorge chegou em São Paulo com sete anos de idade e lembrou de seus colegas paulistas, Solano Trindade, Abdias Nascimento, Paulo Bonfim e João Quartim de Moraes. Recordou a importância de Vladimir Herzog e também do movimento paulista de resistência da ditadura militar.

“São Paulo recebe todo mundo; a Arte Moderna de 22, o Tropicalismo, aliás o seu hino Sampa é cantado por Caetano Veloso. Aqui a integração é total e acontece o tempo todo”, disse o artista homenageado.

Mautner diz que São Paulo tem o seu diferencial e brinca ao citar a chegada dos japoneses. “Sinto que a umbanda com a chegada dos japoneses não teve luta, criou-se o Orixá-Samurai”.

Um exímio observador e elaborador sobre a realidade brasileira, Mautner prosseguiu com a elaboração de José Bonifácio sobre a amálgama brasileira.

“Os outros países tem multiculturalismo e diversidade, mas só o Brasil tem a amálgama. Quem faz tudo é o povo brasileiro".

Segundo Mautner, enquanto toda a literatura dos outros países, povos e cultura dizia que tudo que era diferente, forasteiro, estrangeiro era ser estraçalhado.

“Aqui os índios Tupi-Guaranis tinham um mito de que tudo era mistério queriam desvendar o mistério, até que determinado momento, tudo que era diferente e estrangeiro não era para ser estraçalhado, mas era para ser amado, para desvendar esse mistério”.

Um homem de ideias e apaixonado pelo Brasil

Para o vereador Orlando Silva, Jorge Mautner é um importantíssimo intelectual, um homem de ideias, de pensamento que dedica a sua vida inteira para produzir arte, música, literatura, mas também um homem que dedica a sua vida para compreender o Brasil, para construir um país mais justo.

“O Brasil do sonho de Mautner é o Brasil que está representada aqui nessa sala, que tem diversidade de idade, de origem social, de etnia, de raça, de religião. O Brasil de Mautner é o Brasil plural, tolerante, diverso”, classificou o proponente da Sessão. 

A vice-prefeita, Nádia Campeão, lembrou de ocasiões em que o cantor embalou as festas do Partido e também da simplicidade de outro comunista, Oscar Niemeyer, que sempre fazia questão de dizer que as ideias são mais importantes e valorizava como ele vivia, como ele compreendia o mundo.

“Lembrei do Niemeyer porque é essa imagem que tenho do Mautner também. Uma pessoa coerente, simples, integra que acima de tudo tem o seu pensamento, seu ideal, seu compromisso com o Brasil, com o socialismo. Esse título é uma honra pra gente, é um orgulho para São Paulo”, enalteceu Nádia.

O compromisso de Jorge Mautner com a bandeira socialista e com o Brasil também foram elencados pelo presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro.

“Em um mundo dividido, desde cedo Jorge Mautner tomou partido e se viu acometido desde menino por uma paixão avassaladora que domina até hoje: o amor ao povo brasileiro. E não é um amor da boca pra fora, é um amor verdadeiro em que situações de florescimento da democracia, em dias de festa, mas também em momentos de trevas, ele soube demonstrar esse amor ao povo brasileiro, por exemplo, durante a ditadura militar, em que ele foi perseguido, suas canções censuradas e ele teve que se exilar”, pronunciou Adalberto. 

Também fizeram parte da mesa os dirigentes comunistas Jamil Murad e Walter Sorrentino.

Ana Flávia Marx, da redação do Vermelho