Palestinos recusam proposta de adiar libertação de prisioneiros

O secretário de Estado dos EUA John Kerry anunciou nesta sexta-feira (13) que o terceiro grupo de prisioneiros palestinos será liberado no dia 29 de dezembro, segundo o jornal israelense Ha’aretz. Kerry esteve em Israel após uma semana desde a sua última visita, entre quarta-feira (11) e sexta, para apresentar uma proposta de “acordo interino” que foca nas “preocupações securitárias” israelenses, com formulações consideradas inaceitáveis pelos palestinos, em negociações há meses estagnadas.

John Kerry e Benjamin Netanyahu - Brian Snyder / AP

Em declarações a uma coletiva de imprensa no aeroporto, antes de partir para o Vietnã, nesta sexta, Kerry disse que os Estados Unidos “não estão falando, neste momento, de qualquer mudança [na programação das negociações],” referindo-se à previsão de libertação de mais 26 prisioneiros no dia planejado, 29 de dezembro.

Na última semana, o diplomata esteve tentando convencer os palestinos a concordarem com o adiamento de um mês para a libertação do grupo, com o receio de que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, depois do evento, declarasse outra onda de construção ou expansão de colônias que descarrilasse o processo de paz já estagnado.

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As autoridades palestinas têm denunciado reiteradamente a associação das duas medidas (a libertação de prisioneiros palestinos e a construção de colônias na Cisjordânia e Jerusalém Leste), o que analistas políticos consideram ser uma forma de Netanyahu apaziguar os ânimos dos setores mais radicais do seu governo sionista, contrários ao processo. Além disso, a escalada dos confrontos violentos tem levado à expectativa de uma terceira intifada, ou levante popular contra a ocupação.

Kerry ofereceu aos palestinos a junção do terceiro e quarto grupos (ou seja, 60 prisioneiros, sendo que o quarto grupo seria liberto antes do previsto) para serem soltos no final de janeiro. A intenção do enviado estadunidense seria, de acordo com o Ha’aretz, que a libertação coincidisse com a apresentação de um “acordo-quadro” que ele planeja formular com os dois lados nas próximas semanas.

Os palestinos rejeitaram a proposta de Kerry e ressaltaram que se trata de uma violação do acordo alcançado para a retomada das negociações, no final de julho. A Autoridade Palestina (AP) afirmou que, caso a libertação dos prisioneiros não aconteça conforme o planejado, poderia voltar às medidas jurídicas no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), o que poderia incluir uma acusação contra Israel ao Tribunal Penal Internacional e a outras instâncias pelos crimes de guerra e pela ocupação. A AP comprometeu-se a suspender estas medidas durante o período acordado para as negociações, de nove meses.

Kerry deu a coletiva de imprensa após um encontro de três horas com o presidente da Autoridade, Mahmoud Abbas, em Ramallah (Cisjordânia), na quinta-feira (12) à noite, e de outra reunião com o premiê israelense, Netanyahu, na sexta pela manhã, em Jerusalém. O chanceler estadunidense enfatizou que não há qualquer plano para a extensão do período negociado para as conversações: “Nosso objetivo continua a ser um acordo final. Sem acordos interinos”.

As autoridades palestinas têm rechaçado qualquer possibilidade de formulações temporárias sobre a sua situação, perpetuada e prolongada justamente devido a processos de paz infinitos que dão privilégios a Israel, mas mantêm a Palestina sob a ocupação militar e administrativa, perdendo cada vez mais territórios devido à construção incessante de colônias.

O processo encontra-se estagnado devido às exigências “securitárias” de Israel, respaldadas pelos Estados Unidos, que incluem a manutenção de tropas israelenses no território de um Estado palestino desmilitarizado, principalmente na fronteira com a Jordânia. Além disso, questões como o direito dos refugiados palestinos ao retorno e a condição da capital, Jerusalém, estão também entre as disputas principais.

Com informações do Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho