Avanço de um acordo depende de Israel, diz diplomata palestino

O presidente palestino Mahmoud Abbas encurtou o caminho e enviou diretamente ao presidente dos EUA o documento em que delineia as posições da Autoridade Palestina sobre as questões centrais nas negociações com Israel. Nesta quarta (18), autoridades palestinas acusaram o secretário de Estado dos EUA de tomar o lado israelense e não ser um mediador. Além disso, a possibilidade de um acordo-quadro ser estabelecido no começo do ano depende de Israel, disse o negociador palestino Saeb Erekat.

Saeb Erekat - Issan Rimawi / Flash90

Em declarações a jornalistas estrangeiros na Cisjordânia, nesta quarta, Erekat disse que a Autoridade Palestina (AP) continua comprometida com as negociações para além de abril – prazo estabelecido na retomada do processo, em julho deste ano – caso as partes consigam concluir um acordo-quadro que cubra todas as questões centrais até lá.

“Alcançar um acordo-quadro é possível se Israel quiser”, disse Erekat, mas será preciso que o governo israelense escolha a paz ao invés da construção de colônias, ressalvou. As autoridades palestinas têm denunciado reiteradamente a continuação da construção ou expansão de bairros e cidades inteiras por Israel dentro dos territórios palestinos, inclusive durante o período de negociações.

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Além disso, a negligência dos EUA e a ineficiência das “advertências” europeias têm ressaltado as preocupações palestinas sobre a real intenção de se solucionar o conflito. A ocupação contínua e crescente dos territórios da Cisjordânia e de Jerusalém Leste, além do bloqueio militar da Faixa de Gaza, tornam o estabelecimento de um Estado da Palestina um desafio profundo.

Ainda, analistas consideram que a continuidade da colonização é uma forma de o governo do premiê Benjamin Netanyahu “compensar” os setores radicais do seu governo sionista, contrários ao que chamam de “concessões” – como a libertação gradual de 104 prisioneiros – e à própria negociação com os palestinos.

Segundo Erekat, o estabelecimento de um acordo-quadro – que delinearia um cronograma e pontos determinados a serem implementados – requereria ainda seis ou até 12 meses de mais negociações para que um acordo final fosse elaborado, prazo ao qual os palestinos estão dispostos a se dedicar.

Entretanto, diversas autoridades palestinas têm sido citadas pela mídia internacional recentemente, para acusar o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, responsável pela mediação, de defender Israel. Erekat, por outro lado, defendeu o representante estadunidense, qualificando a sua participação ativa e direta como um fator chave nas conversações.

O maior envolvimento de Kerry nas reuniões foi uma exigência dos palestinos, apesar da oposição de Israel, justamente na tentativa de exercer-se maior pressão sobre os diplomatas israelenses.
O representante palestino nas negociações também negou relatos recentes de que Kerry estivesse pressionando a AP sobre questões relacionadas à “segurança” – como a manutenção das tropas israelenses na fronteira do Estado palestino com a Jordânia e no Vale Jordão – e sobre o reconhecimento de Israel como um Estado judeu. “Kerry não está pressionando, está propondo ideias aos dois lados”, disse Erekat.

Por outro lado, cinco fontes israelenses e palestinas próximas à questão, citadas pelo jornal israelense Ha'aretz, disseram que o presidente Abbas decidiu entrar em contato direto com Obama para apresentar as suas objeções e as posições palestinas porque está "profundamente desapontado" com as propostas apresentadas por Kerry, especialmente na questão securitária e no futuro da Cisjordânia.

A falta de informações mais detalhadas sobre as negociações tem ocasionado especulações abrangentes, sobretudo com as declarações dadas por autoridades palestinas insatisfeitas com o rumo do processo e com a continuidade da ocupação israelense. Entretanto, os diplomatas palestinos e israelenses envolvidos nas conversações concordaram, em julho, a não darem declarações detalhadas à imprensa, numa tentativa de preservar os pontos negociados.

A situação evidente para os palestinos, porém, é a do aumento das tensões e da violência – com recentes detenções massivas e a morte de dois jovens apenas nesta semana, em confrontos com soldados israelenses, na Cisjordânia – e a expansão das colônias judias em terras palestinas, reiteradas nos discursos do governo de Israel, em detrimento das negociações.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho
Com informações do Ha'aretz