Banco Central dos Estados Unidos reduz estímulo à economia

O Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, anunciou nesta quarta-feira (18) que vai reduzir de US$ 85 bilhões mensais para US$ 75 bilhões no próximo mês as compras de títulos públicos que injetam dinheiro na maior economia do planeta. A decisão foi anunciada após reunião do órgão, e a diminuição dos estímulos deve começar em janeiro, e os pacotes serão zerados até o fim do ano.

Ben Bernanke - AFP

No ano passado, o Fed iniciou um programa de aquisição de títulos da dívida pública norte-americana, num esforço destinado a manter os juros baixos e apoiar a economia do país. Desde o fim de maio, a autoridade monetária dos Estados Unidos tinha indicado que poderia reduzir as ajudas monetárias por causa da recuperação da economia do país.

O presidente do Fed, Ben S. Bernanke, insistiu que o efeito não é uma retirada total de apoio à economia. "Não estamos fazendo menos", disse ele em uma coletiva de imprensa, na quarta, de acordo com o jornal estadunidense The New York Times. "Eu acho que fomos agressivos ao tentar manter a economia crescendo, e estamos vendo progresso no mercado de trabalho. Eu contraporia a ideia de que não estamos proporcionando bastante acomodação à economia."

De acordo com analistas citados pelo jornal, investidores reagiram entusiasmados à notícia porque a diminuição de estímulo será feita gradualmente, embora um total de 85 bilhões de dólares devam ser retirados do programa até o fim do ano que vem, quando ele será zerado. Já em janeiro, o plano é a retirada de 10 bilhões de dólares, reduzindo o pacote a US$ 75 bilhões.

O plano estabelece um período de dois anos para as próximas políticas do Fed neste sentido, inclusive no fim das compras de ativos e um sinal de que o primeiro aumento dos juros de curto prazo não deve ocorrer até o fim de 2015.

Isso é surpreendente, de acordo com o New York Times, porque define os primeiros dois anos do termo de Janet Yellen, que deve ser aprovada pelo Senado dos EUA ainda nesta semana para ocupar o lugar de Bernanke, já em seus últimos meses como presidente do Fed. Segundo ele, Yellen deu seu total apoio ao plano.

O Fed tenta, assim, calibrar a sua campanha de estímulo em um ambiente de crescimento estável, mas medíocre, afirma o jornal. A taxa de desemprego diminuiu, no último ano, alcançando 7% em novembro, mas ainda assume um nível histórico, enquanto outras medidas no mercado de trabalho também são consideradas ruins. Os salários aumentam lentamente, e a porcentagem de adultos empregados não aumentou desde a recessão.

Ministério da Fazenda

A possibilidade de redução dos estímulos vinha provocando instabilidade nos mercados financeiros mundiais nos últimos meses. Com a diminuição das injeções monetárias, o volume de dólares em circulação cai, aumentando o preço da moeda em todo o mundo.

No Brasil, o dólar comercial fechou em R$ 2,3426 para venda, com alta de 0,86%, mas os efeitos da medida sobre a cotação só devem ser sentidos nesta quinta (19), porque a decisão foi anunciada logo após o fechamento do mercado de câmbio.

Mais cedo, em encontro de fim de ano com jornalistas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tinha comentado a possibilidade de o Banco Central norte-americano reduzir os estímulos. Para o ministro, a diminuição das injeções monetárias provocará instabilidade no câmbio. Mas ele disse ser desejável que o Fed atue com rapidez para evitar a prolongação de incertezas.

"Haverá uma redução de estímulos que poderá causar volatilidade no câmbio. Não sei de quanto será essa volatilidade, até porque o próprio mercado já repassou boa parte [do impacto da medida] para a taxa de câmbio nos últimos meses, mas a instabilidade será passageira. Gostaria inclusive que tudo fosse anunciado hoje, para não prolongar as incertezas na economia mundial”, declarou o ministro.

De acordo com Mantega, o Brasil está preparado para lidar com uma eventual disparada do dólar nos próximos meses por causa das reservas internacionais em torno de US$ 375 bilhões e das operações de swap do Banco Central, que vende dólares no mercado futuro para conter a pressão sobre o câmbio. O ministro lembrou que a retirada dos estímulos é consequência da recuperação da economia dos Estados Unidos, que trará efeitos positivos para o resto do mundo no médio prazo.

“A economia americana irradia crescimento para o resto do mundo. Para o Brasil, o bom desempenho dos Estados Unidos é importante porque o comércio global crescerá e o país poderá exportar mais em 2014”, destacou Mantega.

Atualizado às 08h50 para incluir informações detalhadas do New York Times.

Com informações das agências