EUA: FED suaviza estímulo. E daí?

A decisão do Federal Reserve Bank (FED), o banco central dos EUA, de reduzir o nível de suas compras de títulos a partir de janeiro de 2014 traz duas perguntas: 1) vai funcionar?; 2) será benéfica ou não para o Brasil? Mas o caos previsto pela imprensa conservadora brasileira não veio…

David Fialkow Sobrinho (*)

Federal Reserve Bank (FED)

Primeiro, não é unânime nem tranquilo que a economia norte-americana esteja se recuperando a ponto de permitir um nível menor de estímulos. Não devem ser desprezados os dados positivos, como o crescimento de 3,6% do PIB no terceiro trimestre em termos anualizados, o recorde de aquisições de novas residências e um nível de desemprego chegando a 7%, abaixo dos 8,5% de um ano atrás. Entretanto, seguem soprando ventos gelados na terra do Tio Sam. Economistas renomados prevêem uma economia fraca, como é o caso de Alan Greenspan, ex-presidente do FED, que estima crescimento do PIB próximo a 2,0% para 2014. Lawrence Summers prognostica um período longo de estagnação, secular stagnation, sendo seguido por Paul Krugmann, Nobel de Economia.

Há fatores estruturais, como a perda de competitividade na comparação com os países emergentes, o envelhecimento da população, os cortes no orçamento, o nível de endividamento do governo e das famílias, etc. A melhora no mercado imobiliário norte-americano, segundo especialistas, estaria refletindo corrida à casa própria para aproveitar o momento de juros baixíssimos, decorrentes do ultra-afrouxamento monetário do FED, em boa parte de natureza especulativa, havendo quem aponte nesse mercado a formação de nova bolha.

E o nível menor de desemprego é considerado por muitos, não como criação líquida de empregos, mas tão-somente pela redução no número formal de desempregados, a forma de contar que não contabiliza o desalento e não considera, portanto, aqueles que desistiram de procurar emprego devido ao longo tempo sem encontrá-lo.

Segundo: se houver alguma recuperação, esta se refletirá em maior demanda norte-americana de produtos do mundo, estimulando a economia internacional, e isso é positivo para o Brasil. Além disso, a atratividade maior dos títulos públicos norte-americanos (que tenderão a subir e são considerados mais seguros) poderá provocar deslocamento de capitais dos emergentes para os EUA. Isso terá efeito no câmbio, valorizando o dólar, o que ajudará o Brasil a enfrentar dificuldades no balanço de pagamentos com o exterior, que vinha se deteriorando em função do real supervalorizado. O resultado poderá ser a elevação de nossas exportações, reduzindo importações e fortalecendo a indústria nacional.

Além disso boa parte desse deslocamento de capitais é de natureza especulativa, em títulos; não é produtivo. Os temores de impacto na inflação, elevados à enésima potência pela mídia, soam mais como trompetes da banca financeira pró alta dos juros, uma vez que boa parte desse impacto já foi precificado pelo mercado, na época da mera menção do FED à redução do estímulo, com o dólar tendo saltado no Brasil, sem que isso produzisse explosão da inflação, que aliás fechará 2013 abaixo de 2012.

Além disso, como o FED apresentou calendário escalonado de redução do estímulo, não haverá mais surpresa no mercado, o horizonte já está dado e precificado nas cotações das moedas.
A imprensa achava ruim para o Brasil que a economia dos EUA andasse devagar e agora acha ruim que comece a acelerar. Sempre o tom é de perigo e de alarme contra a economia nacional.
Após o anúncio de que o FED iria diminuir as compras de títulos, o comentário generalizado na imprensa conservadora brasileira foi de que isso teria péssimas consequências por aqui. O prognóstico era de que as bolsas do dia seguinte revelariam os temores do mercado.

Pois bem, o dia seguinte foi esta quinta-feira (19), e o anunciado caos não veio; o Ibovespa registrou forte alta de 2,2%. Note-se que a mesma mídia que torceu pelo caos na a economia nacional não trouxe uma palavra sequer sobre as previsões que não se configuraram; trouxe apenas a notícia, sem comentários. E ainda arrotam jornalismo independente! Cobram ética, transparência, etc…

Pobre Gérson! Quis o destino que ele emprestasse seu nome a uma característica nada recomendável de nossa elite, repetida por alguns súditos sequiosos por aprovação superior.

(*) David Fialkow Sobrinho é economista (mestre pela UFRGS), membro da assessoria do Governador Tarso Genro e do Comitê Estadual do PCdoB/RS