Maduro anuncia nova ordem econômica para construir socialismo

Nova ordem econômica interna é o ponto de partida para a consolidação do socialismo na Venezuela, assim definiu o presidente Nicolás Maduro numa entrevista concedida ao jornalista Roberto Malaver, publicada neste domingo (22), pelo jornal venezuelano Últimas Noticias.

Maduro detalhou que neste novo modelo convergem várias propostas. Uma delas é o desenvolvimento de uma economia produtiva e mencionou também o fortalecimento dos serviços públicos, a abertura de novos setores no processo de reindustrialização e o estabelecimento de novas regras na economia.

“Assumi um grande compromisso: levar adiante o projeto do presidente Chávez. E estou disposto a seguir em frente. Acabo de dialogar com prefeitos e governadores da oposição e a grande maioria do povo apoiou essa decisão”, afirmou o mandatário.

Últimas Noticias: O presidente Chávez disse um dia que os chavistas formavam parte do exército da alegria. O presidente Maduro estaria disposto a seguir comandando esse exército?
Nicolás Maduro: A alegria é o motor de todo o revolucionário que acredita no futuro e que luta com sinceridade. Além do mais é a característica do povo venezuelano que, apesar das circunstancias as mais adversas, sempre tem um sorriso, uma piada, uma anedota e dá as costas ao negativo e se põe de frente ao positivo, à luz, ao sol. Assim que somos o exército da alegria, o exército de Chávez.

A oposição também faz parte do exército da alegria?
Creio que os dirigentes da oposição se puseram muito amargos porque apostaram com muito ódio ao curto prazo. Cometeram graves erros frutos do desespero, da subestimação das forças que a revolução tem e isso os leva de frustração em frustração. Os dirigentes puseram os seus seguidores num túnel sem saída. Se deixaram levar pela via do golpe de Estado, pela via do grito de fraude e acredito que esse é o caminho da amargura eterna.

Esse chamado ao diálogo com os prefeitos e governadores da oposição é uma posição pessoal do presidente Nicolás Maduro ou foi o comando político quem tomou essa posição?
É a posição da Revolução. Chávez foi o grande dialogador de seu tempo, incorporou-a à política, por meio da palavra e da ação, a milhares de venezuelanos que estavam excluídos em uma espécie de apartheid social. Devido à sua pobreza, estavam na orfandade absoluta. Chávez incorporou a milhares de homens e mulheres à vida social, à vida econômica do país. Incorporou à política os esquecidos de sempre. O primeiro que respeitou o povo humilde foi o comandante Chávez. Incorporou também, por via indireta, milhões de venezuelanos, inclusive para que exercessem sua posição contra a revolução em qualquer circunstância, porém estão incorporados à política, e isto converteu a Venezuela em uma democracia muito forte, em uma democracia dialogante, mobilizada e com povo, que são características vitais. Desse modo o que fizemos, e o que faço em particular, está dentro da linha estratégica da revolução. Para que haja paz tem de haver diálogo e nós queremos a paz e o diálogo para fazer mais revolução.

A grande maioria do povo viu como muito positiva esta conversa com a oposição. O que virá depois?
Agora vêm ações de trabalho e existem pontos que não podemos conciliar. Os que acreditam no capitalismo vão seguir acreditando nele. Nós que acreditamos no socialismo, seguiremos acreditando no socialismo como expressão humana e libertadora. Continuaremos a fazer de tudo para a sua construção e como expressão de um novo modelo econômico, que cria riqueza e o distribui para o desenvolvimento da sociedade. Há pontos impossíveis de ceder nos dois polos existentes: o polo da pátria, o polo do socialismo, e o polo da oposição que crê nos ideais capitalistas e do imperialismo. Isso está claro. Agora, eu espero que este primeiro passo que demos se aprofunde nas regiões e os prefeitos se incorporem ao trabalho para resolver os problemas vitais das pessoas. Coloco um exemplo: se resolvemos o problema do lixo, quem são os prejudicados: as moscas. Quem se beneficia: o país. Isto é o que aspiro, e que passemos à ação, sem perder de vista que há setores na direita que ratificaram sua agenda de guerra econômica para o próximo ano.

Há dois pontos, dos três que o senhor falou, para receber os prefeitos e governadores, que foram aprovados, ou seja, seu reconhecimento como presidente e o respeito à Constituição. Porém, vão aplicar o Plano da Pátria?
Posso lhe dizer que 75% dos prefeitos que assistiram à reunião de trabalho em Miraflores estão com o Plano da Pátria. Creio que é questão de tempo. A mim me surpreendeu verdadeiramente a explicação de Gerardo Blyde sobre quando a direita aceitou a Constituição. Nunca o havia pensado, de verdade. É uma explicação inteligente. Chegou um momento no ano de 2007, ou seja, oito anos depois de aprovada, quando aceitaram que a Carta Magna representa verdadeiramente o país. Aspiro que aceitem mais rapidamente agora o Plano da Pátria como instrumento da construção da felicidade do povo venezuelano.

O senhor disse que em 2014 se irá desenvolver um novo modelo econômico rumo ao socialismo. Quais são as características desse novo modelo econômico?
A nova ordem econômica interna é o ponto de partida para a construção do socialismo. Que características tem essa nova ordem econômica? Em primeiro lugar o desenvolvimento da economia, um desses motores fundamentais é o que nos permita produzir e garantir a alimentação do país. Ter alinhados claramente quais são os setores que garantam que a família venezuelana tenha seu alimento. Outro elemento chave são os serviços públicos, para que possamos ter um nível de desenvolvimento mais avançado. Outro é o desenvolvimento de novos setores no processo de reindustrialização do país, e ao lado de tudo isto, o funcionamento de novas regras na economia. Nós temo suma economia rentista, especulativa, que vive da especulação da moeda para a geração de riqueza. Na Venezuela é mais atrativo, para fazer riqueza – é o caso da nossa burguesia – especular com a moeda que produzir qualquer coisa, inclusive que traficar com drogas. É mais negócio. Então temos de romper o caráter rentista e o funcionamento do ciclo das divisas dentro da economia. Isso nos permitirá ter instituições, claras, transparentes, controladas.

A luta contra a corrupção vai prosseguir?
Nós nos concentramos na guerra econômica, verdadeiramente, porque esta guerra econômica foi decidida na Casa Branca. Setores do poder nos Estados Unidos acreditaram que havia chegado o momento de destruir a revolução bolivariana. Até onde Obama sabia? Não sei. Se o sabia, muito ruim. Se não sabia, também ruim, porque tudo foi planejado na Casa Branca. Eu o denunciei em junho e tenho os nomes. Foi gente do Departamento do Tesouro e do Departamento de Estado e havia uma pessoa que participou da reunião e alertou nosso governo a tempo.

No entanto, quando o senhor começou a atacar essa guerra econômica, reconheceu que o estava fazendo tarde.
Claro, porque nós estávamos acompanhando o processo e acreditamos que em julho e agosto poderíamos neutralizar alguns dos elementos da guerra econômica pela via do diálogo com os setores econômicos. Nós nos reunimos com mais de 7 mil empresários de todos os setores, de todos os tamanhos, até que no final de agosto e começo de setembro me convenci que tínhamos de passar para outra etapa, bem planificada e que incluísse medidas de caráter estrutural e que atinge até o ano de 2014. Foi então que começamos a planificar, ainda com a esperança de que com alertas públicos se resolvesse a situação, disse a muitos dos atores econômicos: vocês estão fazendo isto e aquilo. Eles estabeleceram outubro como o mês do colapso total. Nesse mês, nós pudemos neutralizar alguns elementos desse colapso. Eles tinham planificado para novembro e dezembro a escalada absoluta dos preços e o açambarcamento e a escassez dos produtos e isto nos poderia levar a uma situação delicada no campo social. Por isso em 6 de novembro lancei a ofensiva econômica, tudo bem concentrado. Depois, em princípios de dezembro, nos concentramos em ganhar as eleições. Agora estamos preparando, para o primeiro semestre de 2014, relançar a ofensiva econômica para o estabelecimento das regras do jogo mediante a Lei Habilitante, e a vamos lançar por meio dos setores populares, dos setores econômicos e pela via da lei, acompanhando isto com uma nova ofensiva – eu diria com as mesmas características demolidoras – contra a corrupção. Seremos bastante duros. Há que se golpear grupos que se instalaram dentro do Estado, em pleno processo da Revolução. E será dura também porque há muita corrupção em setores da direita. Sempre que em um setor da direita se denuncia corrupção, saem eles com uma solidariedade automática a se declararem perseguidos políticos. Há setores da oposição que estão refletindo, pela débâcle eleitoral que tiveram em 8 de dezembro e estão criticando a solidariedade automática com os ladrões e especuladores. Oxalá a oposição faça uma reflexão e me acompanhe na luta contra a corrupção a fundo, sejam da direita, do governo, sejam quem forem.

Essa ofensiva econômica do governo contribuiu para que o chavismo tivesse a vitória que teve em 8 de dezembro?
Sem lugar a dúvidas, a ofensiva econômica levantou a disposição de luta dos chavistas. Se alguém se puser a revisar, pelo menos os últimos 14 anos, a Venezuela tem uma corrente majoritária de forças revolucionárias de cerca de 60% e as forças que se opõem do ponto de vista eleitoral de aproximadamente 40%, um pouco mais, um pouco menos. Chegaram a algum auge, talvez em 14 de abril passado, pelas razões que sabemos. Uma das características do chavismo é que gosta de combater por causas justas, e quando o chavismo combate por causas justas, Chávez o acompanha.

Fonte: AVN
Colaborou: Max Altman