Parlamentar de Israel propõe anexação do Vale do Jordão palestino

O portal independente de notícias em Israel, +972 Magazine, relatou nesta segunda (30) e terça-feira (31) o avanço da proposta de anexação do Vale do Jordão, que fica à beira do maior lago da região, na Cisjordânia palestina. A proposta, endossada pelo Comitê Ministerial de Legislação no domingo (29), aplicaria a lei israelense à maior parte do território, afastando a possibilidade de um Estado da Palestina com fronteiras com outros países que não Israel.

Parlamentar Miri Regev - AFP

O projeto de lei foi proposto pela parlamentar Miri Regev, do partido Likud, expoente da direita sionista, ao qual pertence o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Miri tem um histórico exaltado: foi general de brigada no Exército e porta-voz das chamadas Forças de Defesa de Israel (FDI). Também participou de protestos violentos contra imigrantes africanos, em 2012, chamando-os de “câncer em nossos corpos”, e manifestou-se diversas vezes contra a libertação dos prisioneiros palestinos, conforme acordado para a retomada das negociações entre Israel e a Autoridade Palestina (AP), em julho.

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Entretanto, a novidade ressaltada pela +972 Magazine foi a declaração da líder do partido Meretz – de centro-esquerda – Zehava Galon, de que não votaria contra a anexação do Vale do Jordão. Ela afirmou que o Meretz não “salvará” mais a coalizão governante de si mesma.

A proposta, que aplicará a lei israelense a grande parte do território, passa à margem do fato de que o Vale do Jordão é um “território sob ocupação”, assim como Hebron, Jenin e Jerusalém Leste, e sua anexação é ilegal sob o direito internacional.

O vale, de terras férteis trabalhadas por agricultores palestinos – quando a ocupação não impede o seu manejo completamente, com a destruição de plantações e armazéns e a expulsão dos agricultores -, fica próximo do rio Jordão e está à beira da maior reserva superficial de água doce da região, o Lago Tiberíades, chamado pelos judeus israelenses de "Mar da Galileia", o que apoia o governo no uso de questões religiosas para ocupar o território. Já há diversos postos de controle militar na região, e a proposta de anexação não é nova.

  

Mas isto não foi impedimento no passado, e não deve ser agora. Israel já anexou formalmente territórios sírios – as Colinas de Golã, que ficam próximas ao vale – e o território disputado entre Líbano e Síria das Fazendas Shebaa, além da própria Jerusalém Leste, palestina.

As colônias israelenses no Vale do Jordão são chamadas, em hebraico, de “comunidades”, ou “kibbutzim” – plural de “kibbut”, fazendas comunitárias –, o que cria a impressão de que são propriamente em Israel, afirma o artigo da revista +972. Em uma enquete conduzida há dois anos, citada pelo artigo, a maioria dos israelenses menores de 20 anos nem sequer sabia que a área é uma ocupação ilegal.

Para a revista israelense, a proposta de Miri dificilmente será aprovada como lei, e Zehava não desistiu de uma solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina. A anexação, afirma o artigo, seria uma provocação que até mesmo o segundo mandato apático do presidente estadunidense Barack Obama acharia difícil de engolir.

Segundo o texto, a proposta é mais uma declaração geral de intenções dos membros direitistas da coalizão de Netanyahu, para marcar pontos com o seu eleitorado. A intenção é não acabar de afundar as negociações, mas chacoalhar um pouco as coisas.

A estratégia seria a de confiar nos “parceiros da coalizão” e em partidos da oposição, como o Meretz, para não deixar o barco afundar, enquanto os direitistas sionistas apresentam-se como “vítimas patrióticas dos esquerdistas traidores”. É deste papel, segundo o artigo, que o Meretz está se distanciando, colocando Netanyahu contra a parede.

Moara Crivelente, da redação do Vermelho
Com informações da +972 Magazine