Sudão do Sul: Grupo armado anuncia recaptura de capital estadual

Após duas semanas de confrontos, o governo e os rebeldes do “Exército Branco” do Sudão do Sul teriam assinado um cessar-fogo nesta terça-feira (31), de acordo com mediadores citados pela agência de notícias Reuters. Ainda não houve confirmações, mas nesta quarta-feira (1º/01), agências internacionais de notícias relatam que o grupo armado conseguiu recapturar a capital do estado de Jonglei, Bor, para a qual avançava desde o fim de semana, segundo o governo e as tropas internacionais no país.

Exército do Sudão do Sul - Reuters

Milícia ligada ao ex-vice-presidente Riek Machar, o Exército Branco, assim denominado por camuflar-se com cinzas, já havia tomado a cidade há duas semanas, mas as forças armadas sul-sudanesas conseguiram recuperá-la. Nesta quarta, porém, a notícia é de que, apesar do alerta emitido há dias pelas tropas da Missão das Nações Unidas para o Sudão do Sul (UNMISS) e do Exército sul-sudanês, os rebeldes recapturaram Bor.

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O estado de Jonglei (ou Junclái) foi palco de um massacre étnico ainda em 1991, no contexto de uma guerra civil de 20 anos, e alguns observadores vêm identificando o atual conflito como um confronto entre os grupos da etnia Nuer, do ex-vice, e da etnia Dinka, a mais numerosa no país, à qual pertence o presidente Salva Kiir.

Entretanto, de acordo com diversos analistas, é frequente a instrumentalização de contendas identitárias para mobilizar grupos por agendas mais diretas, como interesses econômicos e políticos. Por isso, resumir o conflito como um de caráter étnico, apenas, torna-se arriscado. Questões como os recursos petrolíferos e o domínio do próprio governo também estão sobre a mesa.

No avanço contra a capital do estado, o prefeito, Nhial Majak Nhial, disse à Reuters, nesta terça, que em breve retomaria o que faltava para recuperar. O estado vizinho de Unity também foi capturado pelos rebeldes, de acordo com um porta-voz do grupo, e uma notícia desta terça à noite, da emissora árabe Al-Jazeera, afirmava a retomada da capital Bor pelo grupo. “Bor está agora sob o nosso controle, estamos na cidade de Bor”, teria dito Moses Ruai, integrante do grupo citado pela emissora.

A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad), formada pelos países do leste africano, afirmou que os dois lados nomearam comissões para começar as negociações. “O presidente Salva Kiir e o doutor Riek Machar concordaram em acabar com as hostilidades e a nomear negociadores para estabelecer um cessar-fogo que seja monitorado e implementado,” comunicou a Igad, sem dar mais detalhes sobre o processo.

O governo sul-sudanês enviou representantes para a Etiópia, onde fica a sede da União Africana, para as negociações, segundo o ministro das Relações Exteriores, Barnaba Marial Benjamin, em declarações à agência Reuters. Entretanto, o presidente Kiir disse que não dividiria o poder com Machar, uma vez que seu ex-vice teria planejado um golpe de Estado contra ele, de acordo com Benjamin.

Países vizinhos como o Uganda e o Quênia, também preocupados com o transbordamento do conflito, têm procurado pressionar os dois lados. O presidente do Uganda, Yoweri Museveni, é aliado histórico das forças do Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA), atual Exército sul-sudanês, remanescente do período de luta contra o Sudão pela independência conquistada em 2011, através de um referendo.

De acordo com a missão internacional no terreno, mais de 1.000 pessoas já morreram nas duas semanas de confrontos, que também resultaram na redução da produção de petróleo no país, uma das principais fontes de recursos, levando o Sudão do Sul à iminência de uma guerra civil. Neste caso, e na possibilidade de uma recusa, por parte dos rebeldes, em assinar um cessar-fogo, o presidente ugandês instou os países da região a intervirem.

Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações das agências.