Expansão do conflito no Sudão do Sul pode levar a intervenção

Em resposta à advertência do Exército do Sudão do Sul sobre o avanço de milícias em direção a Bor, capital do maior estado do país, Jonglei (ou Junclái), nesta segunda-feira (30), o presidente do vizinho Uganda, Yoweri Museveni, ameaçou intervir, mencionando o receio de que o conflito armado transborde para a região. Museveni chegou a instar os países vizinhos a agirem para “derrotar” os rebeldes, que nesta terça (31), já estão mais próximos de Bor.

Exército do Sudão do Sul - James Akena / Reuters

Na segunda-feira, o coronel sul-sudanês Philip Aguer, porta-voz do Exército, havia alertado para a aproximação do chamado Exército Branco – cujos combatentes usam cinzas para se camuflar – composto por jovens partidários do ex-vice-presidente, Riak Machar. Seu avanço tem sido marcado por um rastro de casas queimadas e de violência extrema, segundo a Missão das Nações Unidas para o Sudão do Sul (UNMISS).

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No início do mês, as batalhas entre as forças do governo e os paramilitares acabaram levando Bor a um breve período de controle dos rebeldes, mas foi logo retomada pelos soldados do Exército Popular de Liberação do Sudão (SPLA, na sigla em inglês). “O SPLA está pronto para defender a cidade e para se proteger”, disse o coronel Aguer.

Com soldados em Bor, os esforços de líderes do leste africano, na semana passada, para mediar uma negociação de cessar-fogo acabou fracassando, ao menos por hora, de acordo com o jornal estadunidense The New York Times. Neste sentido, o presidente do Uganda ameaçou com uma intervenção caso os rebeldes não aceitem o cessar-fogo. O presidente Uhuru Kenyatta, do Quênia, também esteve no país para avaliar a possibilidade de negociações.

Os confrontos foram identificados em 15 de dezembro, com enfrentamentos entre soldados da Guarda Republicana. O presidente sul-sudanês, Salva Kiir acusou o seu antigo vice, Riek Machar, de tentar organizar um golpe, segundo o New York Times. Mais de 1.000 pessoas morreram nas batalhas seguintes, inclusive um grande número de civis, e cerca de 180.000 foram forçosamente deslocados durante as duas semanas de conflito.

“Demos a Riek Machar duas semanas para responder, e se ele não fizer isso, devemos buscá-lo, todos nós – isto é o que acordamos em Nairóbi”, disse o presidente ugandense, referindo-se a uma reunião entre líderes do leste africano na capital do Quênia, na semana passada.

Aumenta a possibilidade de escalada e até de transbordamento do conflito, com a preocupante situação de uma região já imersa na violência em países como a República Centro-Africana e a República Democrática do Congo.

A parceria do presidente Musevini ao presidente Kiir é histórica, e a Força de Defesa Popular do Uganda deu apoio significativo ao Exército sul-sudanês durante a guerra civil com o governo do Sudão, antes da independência oficializada em 2011.

Tem havido relatos conflitantes sobre o avanço do Exército Branco, mas o ministro da Informação do Sudão do Sul disse, na semana passada, que cerca de 25.000 jovens do grupo étnico Nuer haviam se juntado, enquanto outros estimam que o número seja de poucos mil, já que anciãos comunitários teriam conseguido persuadir muitos deles contra o conflito armado.

A missão das Nações Unidas confirmou, através de voos de reconhecimento, no domingo, que um grupo estava marchando em direção a Bor. Muitos civis acabaram buscando refúgio no estado vizinho, atravessando o rio fronteiriço. Outras regiões como Bentiu, capital do estado de Unity, estão sob o controle dos rebeldes.

Da redação do Vermelho,
Com informações do New York Times