Rússia assume a presidência do G8 e dá ênfase à segurança

Nesta quarta-feira (1º/01), a Rússia assumiu a presidência do Grupo dos Oito (G8), o controverso fórum de governos das oito maiores economias e maiores índices de desenvolvimento humano do mundo (excluídos o Brasil, a Índia e a China). O presidente russo, Vladimir Putin, declarou que a 40ª Cúpula do G8 será realizada na Rússia, nos dias 4 e 5 de junho, na cidade de Sochi. Segundo propôs em sua declaração, a reunião dará ênfase à questão da segurança mundial e aos avanços socioeconômicos.

G8 - The Guardian

De acordo com a declaração de Putin, divulgada pela mídia internacional e pela página oficial do governo russo, a situação de segurança e o desenvolvimento sustentável do mundo ainda enfrentam várias ameaças.

“A Rússia planeja apresentar aos nossos parceiros uma ampla agenda para discussões francas e substanciais para – o mais importante – chegarmos a decisões concretas,” disse. Os membros do G8 são os EUA, o Japão, a França, o Reino Unido, a Alemanha, o Canadá, a Itália e a Rússia, com representação também da União Europeia, que não pode presidir ou ser anfitriã das cúpulas.

"Os conflitos violentos ocorrem frequentemente e a norma internacional tem sofrido várias ameaças," ressaltou o presidente, e apontou que o G8 vai focar em desafios de longo prazo. Entre os temas, colocou o foco sobre várias questões na luta contra as drogas, contra o terrorismo, o extremismo, na mediação dos conflitos regionais, bem como na manutenção do sistema global para gestão de riscos.

“Vemos que o mundo não se tornou um lugar mais seguro nos últimos anos, mas tem se tornado, sem dúvida, mais complicado. Ameaças ao desenvolvimento sustentável são cada vez mais diversos. Pontos focais de violência e tensões civis estão se multiplicando, e o sistema do direito internacional está ficando para trás,” disse Putin.

O presidente ressaltou ainda que “o mundo também está abalado por condições econômicas voláteis e por desastres naturais e ambientais. Dada à interdependência estreita, os problemas de um único país ou região invariavelmente alcança proporções globais. Entretanto, as ferramentas de resposta à crise nem sempre são eficazes.” Para Putin, em tal condição, “o G8 precisa focar em desafios do presente e do futuro. Precisa compartilhar a responsabilidade pelo futuro.”

Neste sentido, a interpretação da “questão securitária” precisa ser abrangente. Deixar para trás o foco militarista da sua abordagem, que intensificou guerras e violência estrutural, como no caso da chamada “guerra contra as drogas”, que trouxe mais insegurança e vulnerabilidade aos povos. A liderança estadunidense, munida da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), em busca permanente por uma justificativa à sua existência, colocou populações inteiras diante da ameaça militarista constante.

Torna-se cada vez mais evidente a urgência da institucionalização de uma perspectiva mais humana da “defesa” e da “segurança”, termos geralmente empregados para conduzir ações diametralmente opostas às necessárias para a proteção das pessoas, do ambiente e das sociedades em geral.

Prevenção e avanço socioeconômico para superar críticas

Putin ressaltou, em seu discurso, a necessidade de garantir-se maior eficácia aos instrumentos preventivos contra as crises variadas. “Como gestor da presidência do G8, a Rússia sugere que os membros [do grupo] devem desenvolver mecanismos abrangentes e cooperativos para controlar os riscos mais críticos. É importante cobrir a ‘cadeia’ completa – desde a previsão e a prevenção de ameaças particulares até a superação dos seus potenciais efeitos adversos.”

“Vejo como objetivo primário do nosso trabalho conjunto a promoção do bem estar das pessoas, o progresso e o desenvolvimento. Esta abordagem está refletida do mote da presidência russa do G8: ‘Gestão de Riscos para o Crescimento Sustentável em um Mundo Seguro’,” continuou.

As questões prioritárias avançadas pelo presidente incluem o combate à ameaça das drogas, ao terrorismo e ao extremismo, solucionar os conflitos regionais, proteger a saúde das pessoas e estabelecer um sistema global de gestão para lidar com riscos associados aos desastres naturais e os causados pela ação humana, “assim como inúmeras outras questões que já foram levantadas antes pelo G8,” disse.

Putin definiu como “primeira prioridade” o crescimento econômico sustentável. “Será difícil superar a instabilidade em outras áreas sem antes resolver esta questão. Planejamos intensificar o nosso trabalho conjunto para estimular a economia global, reduzir o desemprego e remover barreiras protecionistas ao comércio e ao investimento.”

Além disso, enfatizou a afirmação de que seu país não quer que o G8 seja “um clube de elite dos líderes mundiais que discutem o destino da humanidade a portas fechadas. Pelo contrário, assim como em 2006, estamos convencidos de que grupos não governamentais do G8, assim como a Juventude 8, o Civil 9, o Negócios 8, e o Parlamentar 8 deve prover apoio crucial à Rússia durante a sua presidência. Esperamos muito das reuniões paralelas à próxima Cúpula em Sochi. Essas interações são vitais para melhorar a eficiência e a transparência do G8, gerando novas ideias não convencionais e atraindo apoio público abrangente, na Rússia e no exterior, ao trabalho do G8.”

Alvo de críticas por todo o mundo pela percebida preferência às questões financeiras e comerciais que esbarram nos direitos civis e socioeconômicos de povos inteiros, o G8 busca estabelecer um papel diferente. Alexei Kvasov, chefe-adjunto da Diretoria de Especialistas da Presidência e representante de Putin no fórum, disse que uma das prioridades centrais da Rússia é “maximizar os efeitos socioeconômicos das iniciativas e decisões do G8, inclusive na área da segurança internacional.”

Entre as críticas mais prementes ao grupo, reiteradas por diversas organizações civis e países de fora do eixo, estão questões como a defesa das patentes de fármacos (inclusive dos coquetéis de tratamento da aids) e de outras áreas do conhecimento, inúmeras questões relativas às liberdades e proteções civis na globalização e à pressão sobre as economias emergentes, como a dívida externa e a ineficiência com a proteção ambiental. Ativistas chegaram a classificar o fórum como um “gabinete particular” de governo da minoria mundial sobre a maioria.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho
Com informações das agências