Ministro israelense critica John Kerry e Estados Unidos reagem

O jornal israelense Ha’aretz já criou um tópico para o que denominou “crise política” entre os Estados Unidos e Israel. O motivo mais recente – além das divergências sobre sanções e ataque militar ou a negociação, no caso do Irã – foi o comentário que o ministro da Defesa Moshe Ya’alon fez, nesta terça-feira (14), contra o secretário de Estado norte-americano John Kerry – que chamou de “obsessivo e messiânico” – e seu papel na suposta mediação das negociações com os palestinos.

Ministro da Defesa de Israel - Eliahu Hershkovitz / Haaretz

De acordo com o Ha’aretz, o ministro israelense da Defesa já havia feito várias “declarações fortes”, de forma pública e privada, contra as tentativas de Kerry de avançar um acordo de paz entre Israel e a Autoridade Palestina. Ya’alon disse que o chanceler estadunidense é “obsessivo e messiânico”, e que espera que ele “ganhe um Prêmio Nobel e nos deixe.”

Além disso, em um discurso para estudantes, o ministro disse: “Eles falam que o tempo está contra nós. Nós não devemos ficar alarmados por todos esses alarmes amedrontadores (…), não devemos ficar confusos, estressados ou desistir.”

No mesmo dia, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu distanciou-se dos comentários de Ya’alon, mas não chegou a criticá-los. Citado pelo Ha ‘aretz, ele teria dito:

“Os Estados Unidos são nosso maior parceiro, e a parceria é fundada em valores e interesses compartilhados. Mesmo quando há desentendimento entre nós, é sempre substancial, e não pessoal. Trabalhamos em cooperação completa com o vice-presidente Joe Biden e com o secretário de Estado Kerry para impulsionar a paz e a segurança na região. Nos posicionamos firmemente em relação aos nossos próprios interesses, enquanto promovemos a conexão importante entre os dois países.”

O governo estadunidense está monitorando as declarações do israelense há várias semanas, e avalia que, em certos elementos, o governo de Israel acredita que Kerry está promovendo o acordo de paz com a Autoridade Palestina (AP) como um projeto pessoal, sem o apoio do presidente Barack Obama. Na segunda-feira (13), entretanto, o vice-presidente Biden entregou uma mensagem de Obama a Netanyahu, afirmando o apoio firme aos posicionamentos do secretário de Estado.

Respostas insuficientes

Alguns ministros israelenses criticaram a postura de Ya’alon, inclusive o recém-retornado ao cargo de chanceler, Avigdor Lieberman, que tem defendido as propostas de Kerry, uma vez que a “preocupação dos EUA com a segurança de Israel” é sempre posta como prioritária, permitindo a continuidade da ocupação militar sobre os territórios palestinos.

Lieberman disse, em um encontro com a comunidade judia em Genebra, na Suíça, que “não está certo e não é positivo que Israel e os EUA tenham uma discussão em alto tom e em público. Os EUA são o aliado mais corajoso de Israel e tem provado isso muitas vezes ao longo dos anos.”
Além disso, também a ministra da Defesa, Tzipi Livni, que chefia a delegação israelense para as negociações, disse que as relações de Israel com os EUA são “as maiores vantagens estratégicas do país, essenciais para a sua sobrevivência”.

“As negociações estão sendo conduzidas enquanto garantem os interesses de Israel – nomeadamente, a sua segurança (…). É possível opor-se às conversações responsavelmente, sem atacar ou destruir as relações com nosso bom amigo,” disse ela.

O ministro da Defesa emitiu um comunicado em que diz entender e dar grande valor à “pareceria” e ao “aliado” estadunidense. “Os EUA são nossos mais importantes aliados”, repetiu.

Autoridades do governo dos Estados Unidos disseram, porém, que ainda esperam que “o primeiro-ministro conserte isso ao expressar publicamente o seu desacordo com a declaração contra o secretário Kerry, as negociações com os palestinos e o compromisso de Kerry com a segurança de Israel.”

Além disso, vale ressaltar, a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Jennifer Psaki, lembrou aos ministros israelenses que “Kerry e sua equipe, inclusive o general John Allen [autor das propostas de ‘segurança’ incluídas no projeto de acordo, que inclui a manutenção de tropas israelenses na Palestina, já rejeitadas pela AP], têm trabalhado dia e noite para tentar promover uma paz segura para Israel.”

Da redação do Vermelho
Com informações do Ha'aretz