Vitória da esquerda em pequena cidade do Japão desafia os EUA

Apesar da parceria abrangente, o Japão e os Estados Unidos vinham discutindo sobre a realocação de uma base militar estadunidense na província japonesa de Okinawa. Neste domingo (19), eleitores da pequena cidade de Nago votaram pela reeleição do prefeito de esquerda, Susumu Inamine, que deve dificultar a posição do premiê japonês Shinzo Abe no seu impulso pela retomada do acordo sobre a base.

Japão Okinawa - FHAN

O prefeito reeleito havia prometido bloquear a construção de um novo local para a realocação da base militar estadunidense, embora a negociação para este processo tenha sido retomada no mês passado, com o apoio do governador de Okinawa.

Abe, que é um conservador, prometeu construir laços mais próximos com os Estados Unidos, principalmente sob o pretexto das “preocupações” relativas à emersão da China e às armas nucleares da República Popular Democrática da Coreia (RPDC).

A realocação foi completamente rechaçada pelos residentes da província de Okinawa, que querem a base militar – Estação Aérea do Corpo de Fuzileiros Futenma – fora da ilha. Pesquisas de opinião recentes, citadas pelo jornal estadunidense The New York Times, previam a vitória do prefeito Inamine, que já se opunha ao plano de quase duas décadas para mover a base e seus helicópteros e aeronaves em áreas densamente habitadas.

Neste sentido, o premiê Abe havia investido o peso político do seu governo – assim como recursos financeiros – na campanha do opositor de Inamine, Bunshin Suematsu, além de ter dito que avançaria nos gastos de meio bilhão de dólares em serviços públicos na cidade de Nago, de acordo com o New York Times. Entretanto, os residentes não se deixaram vender.

Inamine, que é apoiado pelo Partido Comunista Japonês e outros grupos progressitas, recebeu quase 20 mil votos, em comparação com os 15,6 mil recebidos pelo conservador Suematsu. “Sem a aprovação e o consentimento do prefeito, este processo não pode ir adiante”, disse Inamine a uma audiência de apoiadores. “Para proteger o futuro das nossas crianças, eu não permitirei que a nova base seja construída.”

Em tentativas anteriores, o acordo de realocação ficou estagnado pela primeira em 1996, devido aos protestos contra a presença de fuzileiros estadunidenses na região, depois da denúncia sobre o estupro de uma estudante por funcionários militares dos EUA. Além disso, protestos e denúncias sobre o impacto ambiental das atividades militares nesta região de pesca, assim como o distúrbio e o risco para a população local, já vinham impedido a expansão das bases.

Segundo o New York Times, a falta de um avanço neste sentido abriu uma brecha entre o Japão e os Estados Unidos, que pretendem fazer da nova base aérea uma parte do realinhamento abrangente dos fuzileiros no “pivô” estratégico visionado para a região Ásia-Pacífico.

Depois da vitória de Inamine, na noite de domingo, centenas de apoiadores reuniram-se em seu escritório de campanha para afirmar o desafio obstinado ao plano militar dos EUA em sua província.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações do The New York Times