ONU retira convite ao Irã para conferência sobre a Síria

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, retirou o convite ao Irã para participar na Conferência Internacional de Paz sobre a Síria, nesta segunda-feira (20). Segundo a página oficial da Secretaria Geral da ONU, Ban se disse “desapontado” com declarações públicas iranianas, alegadamente “inconsistentes” com o comprometimento diplomático que o Irã havia garantido. A Chancelaria da Rússia, que defende o envolvimento iraniano na questão, disse que a decisão foi um erro.

Genebra 1 sobre Síria - Fabrici Cofrrini / AFP/Getty Images

Ban anunciou no domingo (19) à noite que havia convidado o Irã para participar da abertura da conferência, nesta quarta-feira (22), em Montreux, comuna, ou município, a 90 quilômetros de Genebra, na Suíça. O envolvimento iraniano na reunião vinha sendo discutido desde o anúncio da data, dada a relevância política do país como ator regional.

No mesmo dia, o secretário-geral também havia parabenizado a Coalizão Nacional Síria (CNS) – que alega representar a oposição contra o governo do presidente sírio Bashar Al-Assad – por finalmente decidir participar, depois de meses de indecisão e declarações agressivas, além da exigência de destituição de Assad.

Às vésperas do lançamento da conferência, que deve durar uma semana, a retirada do convite ao Irã parece responder às declarações de rechaço à sua participação feitas pela CNS, composta de partidos políticos e grupos armados – inclusive integrados por mercenários estrangeiros – que contam com o apoio fundamental de potências ocidentais e monarquias regionais, em flagrante ingerência na política interna da Síria.

O motivo da decisão foi a suposta “inconsistência” das declarações persas sobre os princípios da conferência. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamed Javad Zarif, teria dito concordar com o conceito de que a base para as conversações seria o comunicado emitido após a conferência de “Genebra 1”, realizada em junho de 2012, que previa, segundo Ban, a implementação do plano de ação com o avanço de “um governo transicional e a realização de eleições livres e justas.”

Por outro lado, segundo o comunicado divulgado na página da Secretaria Geral da ONU, Ban diz continuar urgindo o Irã a somar-se ao “consenso global” que sustenta o Comunicado de Genebra, mas que, enquanto não o fizer, não poderá participar da reunião nesta quarta.

O texto ressalta ainda que Ban tem mantido consistentemente que os parceiros regionais com influência sobre os envolvidos no conflito na Síria devem fazer a sua parte para promover o plano de ação, inclusive com a formação de um corpo governamental transicional com poderes executivos, e com expressão de solidariedade ao povo sírio.

Já de acordo com o chanceler russo, Serguei Lavrov, citado pela emissora Russia Today (RT), a decisão de Ban é baseada em uma interpretação errônea do Comunicado de Genebra, que não estabelece a mudança de regime, mas sim o diálogo político entre as partes envolvidas, com a participação e mediação dos mais de 40 países e organizações que vão participar na conferência.

Lavrov ressaltou que a Rússia não concordaria com um plano que estabelecesse esta premissa e disse que os países que se manifestam pela destituição de Assad – como os EUA, o Reino Unido, a França e regimes vizinhos como o da Arábia Saudita, Catar e Turquia, por exemplo – deveriam, então, ser excluídos da conferência, caso a interpretação do Comunicado de Genebra fosse mesmo o motivo central para a exclusão do Irã.

Segundo a página da ONU, a conferência busca um acordo abrangente entre o governo da Síria e a oposição, com a implementação completa do Comunicado de Genebra, “que pedia a criação de um governo transicional que levaria à realização de eleições.”

Entretanto, a advertência do governo, que tem o respaldo da Rússia, é de que a decisão sobre o futuro político do país cabe ao povo sírio, que terá também a chance das eleições presidenciais previstas para junho para manifestar a sua escolha.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações da ONU e da Russia Today