Governo da Ucrânia propõe acordos e violência aumenta

Manifestantes em Kiev, capital da Ucrânia, tomaram o prédio do Ministério da Justiça neste domingo (26), um dia depois de terem bloqueado um centro de convenções, onde a polícia estava estacionada. Os protestos no país têm se tornado cada vez mais violento, apesar das negociações avançadas pelo governo, e uma tentativa de golpe é denunciada com alarme, já que a violência é incitada pelo maior partido da oposição, de direita, o Partido da Pátria.

Ucrânia protestos - AFP Photo/Aris Messinis

A escalada segue um dia de negociações entre o governo e a oposição, no sábado (25). De acordo com a agência de notícias nacional, Unian, os rebeldes tomaram o prédio do Ministério da Justiça no domingo à noite. O grupo “Causa Comum” postou uma mensagem no Facebook em que dizia ser responsável pela ação.

A ministra da Justiça da Ucrânia, Elena Lukash, disse que vai pedir ao Conselho de Segurança Nacional e Defesa que imponha o estado de emergência caso os manifestantes não deixem o prédio, de acordo com a emissora Russia Today.

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Ela disse que o local foi tomado quando as últimas emendas estavam sendo feitas à lei sobre “Mudanças na Constituição da Ucrânia”, para que o texto da Constituição voltasse à versão de 2004. De acordo com a agência de notícias AFP, o grupo entrou no prédio sem resistência e está construindo um sistema de barricadas. O “Causa Comum” é, supostamente, o mesmo grupo que ocupou, mais cedo, os ministérios da Energia e da Agricultura.

Um dos líderes da oposição e das manifestações, Vitaly Klitschko, do partido Aliança Democrática Ucraniana pela Reforma (Udar), teria entrado no prédio, de acordo com a emissora Interfax TV.
Já segundo o enviado especial da Russia Today, Alexey Yaroshevsky, que está em Kiev, há uma brecha estrutural no interior da oposição. Os líderes “não conseguem sequer concordar sobre suas posições acerca de uma anistia”, que foi proposta pelo presidente Viktor Yanukovytch.

“O presidente Yanukovytch disse que libertaria os manifestantes presos, caso não haja mais resistência no centro de Kiev. E a nossa posição é a mesma,” disse Klitschko.

Entretanto, Oleg Tyagnibok, do partido nacionalista e de direita União Ucraniana “Svoboda” (Liberdade), afirmou uma opinião diferente: “Só vamos concordar com os termos de Yanukovich para a libertação dos manifestantes se o ministro do Interior ordenar à polícia que não prenda mais o nosso pessoal.”

No sábado à noite, rebeldes invadiram o centro de convenções internacionais Casa Ucraniana, em Kiev. Cerca de 200 policiais da tropa de choque estavam dentro do prédio no momento, mas todos conseguiram sair por uma janela lateral. Manifestantes atiraram bombas pequenas e coquetéis Molotov dentro do edifício, mas a polícia não retaliou.

No mesmo dia, o presidente Yanukovich havia oferecido cargos importantes no governo aos líderes dos protestos e prometeu revisar a Constituição, um passo com o objetivo de dar mais poder ao Parlamento.

Yanukovich propôs o cargo de primeiro-ministro a Yatsenyuk e o de vice-premiê para assuntos humanitários a Klitchko, dois dos principais líderes da oposição. Apesar das ofertas, não houve resultado para as conversações, previstas para continuar na terça-feira (28).

Violência e tensões em outras cidades

O domingo havia inaugurado um “cessar-fogo” em Kiev enquanto os manifestantes reforçavam barricadas e homenageavam um companheiro que faleceu, entre os cinco mortos durante os confrontos dos últimos dias.

Vários diplomatas estrangeiros estiveram na Praça da Independência, no mesmo dia, para “inspecionar” o local. Embaixadores europeus, dos EUA e do Canadá falaram com representantes do grupo radical Setor da Direita.

Enquanto isso, o parlamentar pelo Partido das Regiões, no governo, Vadim Kolesnichenki, disse que os líderes da oposição não têm ideia de como encerrar a crise. “Infelizmente, a noite passada, em Kiev, demonstrou que os líderes da oposição são incapazes de cumprir as obrigações que adquiriram,” disse ele à agência de notícias Itar-Tass.

A declaração de Arseniy Yatsenyuk, líder do maior partido da oposição, Batkivshchina (Partido da Pátria) sobre estar “pronto para liderar o governo ucraniano para continuar o curso da integração europeia parece traidora, depois das tensões que os manifestantes realizaram na Casa Ucraniana [centro de convenções], na Praça Europeia. Parece que os líderes não têm ideias ou soluções sobre como sair da atual situação,” disse Kolesnichenko.

Ao todo, ao menos 311 policiais foram feridos nos últimos dias; 118 deles foram hospitalizados com fraturas cranianas e corporais, queimaduras e ferimentos de apunhaladas e cortes. Alguns também foram envenenados, de acordo com o Ministério do Interior.

No mesmo informe, dado no domingo, 116 pessoas foram detidas em conexão com os protestos e uma investigação criminal sobre a “desordem massiva” na Rua Grushevskogo foi aberta. Várias pessoas foram sentenciadas, inclusive aquelas acusadas por crimes especialmente graves.

No entanto, a emissora Russia Today relatou a expansão dos protestos para o oeste do país, para diversas outras cidades além de Kiev, com ataques e invasões de prédios do governo.

Da redação do Vermelho,
Com informações da Russia Today