Após demissão do premiê, governo da Ucrânia negocia com oposição

O Parlamento ucraniano debate, nesta quarta-feira (29), a concessão de uma anistia aos presos durante os confrontos violentos dos últimos dois meses entre manifestantes e policiais, mas há ainda muitos pormenores que separam a maioria e a oposição, antevendo-se um consenso difícil. Nesta terça-feira (28), a presidência aceitou o pedido de demissão do primeiro-ministro, Nocolai Azarov, cujo governo também era alvo dos protestos impulsionados pela direita e que vinham exigindo a sua retirada.

Ucrânia protestos - Volodymyr Shuvaytev / AFP / Getty Images

Dirigindo-se ao Parlamento (Rada Suprema), o ex-presidente ucraniano Leonid Kravchuk (1991 – 1994) inaugurou a sessão parlamentar extraordinária demonstrando grande preocupação com a situação atual do país. “O mundo inteiro tem consciência e a Ucrânia tem consciência de que o país está à beira da guerra civil”, afirmou o ex-presidente, citado pela agência de notícias francesa AFP.

O governo e a oposição iniciaram novas negociações nesta terça-feira (28) para abrir caminho à pacificação dos protestos que se instalaram no país, depois da recusa do presidente, Viktor Ianukovitch, em assinar um acordo comercial com a União Europeia (UE).

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Desde então, as manifestações assumiram um cariz de protesto generalizado à liderança do próprio Ianukovitch, um impulso da direita na oposição, liderada pelo partido nacionalista, mas também “europeísta”, Partido da Pátria, entre outros da direita ucraniana.

Além da defesa da “liberdade de escolha” do povo ucraniano pela filiação à União Europeia, a mídia internacional e autoridades ocidentais, inclusive representantes do bloco, têm defendido os protestos contra o governo, enquanto enfatizam como preocupação a suposta “dominação” ou “dependência” na relação da Rússia com a Ucrânia. Tudo porque o governo deu prioridade à negociação pela adesão à União Aduaneira com a Rússia e outros vizinhos do que à Europa.

Negociações entre governo e oposição

A demissão de Azarov derrubou o Executivo, e um pacote legislativo que restringia as manifestações foi revogado por larga maioria. O governo também havia garantido a disposição de revisão constitucional, como os manifestantes, e Serguei Arbuzov, o novo primeiro-ministro interino, reiterou a posição dialogante com que o governo quer encarar a discussão parlamentar.

“A oposição e o poder procuram o diálogo para sair da crise. O governo, pela sua parte, está pronto a assegurar as condições necessárias para a estabilização nacional”, garantiu Arbuzov.

O Partido das Regiões, de Ianukovitch e majoritário no parlamento, quer que o perdão aos detidos seja concedido apenas quando os manifestantes abandonarem as ruas, condição que não é acolhida pela oposição, que pretende uma anistia incondicional àqueles que liderou aos protestos.

Na noite de terça, quando as negociações foram pausadas, “havia uma espécie de acordo: uma equipe de negociadores e especialistas iriam trabalhar para alcançar a versão única de um diploma que seja aceitável tanto para a oposição como para os membros da maioria”, explicou à Interfax-Ucrânia Iuri Miroshnichenko, deputado do Partido das Regiões.

Nas ruas, cerca de 200 pessoas tentam remover os ativistas que ainda ocupam o Ministério da Agricultura, no centro de Kiev. O edifício foi tomado na sexta-feira (24) por membros do movimento Causa Comum (Spilna Sprava).

Enquanto isso, a Rússia continua a apoiar o país com acordos financeiros e comerciais – uma primeira parcela de três bilhões de dólares foi anunciada nas últimas semanas –, mas o presidente russo, Vladimir Putin, afastou qualquer especulação sobre uma intervenção política na crise governamental, ainda que no papel de mediador.

“Os ucranianos têm capacidade para resolver suas questões,” disse ele, em entrevista coletiva durante uma reunião com representantes da União Europeia, na Bélgica, no início desta semana.

Ainda assim, Alemanha e Canadá, entre outros, já têm tomado medidas de apoio à oposição nas ruas e na barreira de funcionamento do governo, como se a disputa, novamente, centrasse na “vontade popular” dos ucranianos de aderirem aos “valores europeus”, como disse a chanceler alemã, Angela Merkel, durante uma sessão no parlamento do seu país.

Da redação do Vermelho,
Com informações das agências