Wellington Duarte: Esboço para entender a História da Venezuela
Parte 1 – Da Independência Até 1908
Por Wellington Duarte*
Publicado 10/03/2014 08:39 | Editado 04/03/2020 17:06
O problema se dá quando algumas pessoas, por preguiça, por má fé, pela visão reacionária e por serem burras mesmo, estancam na primeira fase e passam a reproduzir aberrações nas redes sociais.
O caso da Venezuela é clássico. Fala-se como se este país fosse uma cópia da realidade que vivemos, esquecemos que o materialismo histórico, impõe, mesmo aos incautos, a necessidade de ver a história desse país para começar a entender a realidade que vive.
De Nova Granada, passando por Grã-Colombia e enfrentando quase 10 anos de guerra pela independência (1821), a Venezuela só emergiu como país em 1830 e sob o tradicional controle dos grandes proprietários de terras, mas governada de forma contraditória, mas sempre pensando na unidade das terras americanas, de Simón Bolívar. PARA FALAR SOBRE O CONFRONTO ATUAL SEM ENTENDER O PORQUE DO BOLIVARIANISMO, É UM EXERCÍCIO FADADO AO FRACASSO.
A Venezuela nasceu REPUBLICANA, ao contrário do Brasil, que viveu num decadente império até 1889. E a CARACTERÍSTICA dessa República foi a de permanentes conflitos envolvendo as diferentes elites que dividiam o poder no país. SEM ENTENDER O PROCESSO DE FORMAÇÃO DESSAS ELITES E A FORMA DE COMO ESSAS ELITES VIAM A VENEZUELA, PODE-SE IMAGINAR QUE A VENEZUELA, TAL QUAL O BRASIL, TEM UMA HOMOGENEIDADE SECULAR COMO NAÇÃO UNIDA.
Entre 1829 e 1899 a Venezuela teve 41 presidentes e 30 insurreições e, ao contrário do Brasil, onde a Monarquia tinha como base os grandes proprietários de terras escravistas, lá o poder era derivado dos caudilhos, que dominavam as regiões e estabeleciam poderes locais que, em muitos casos, confrontavam o poder central.
Entre 1829 e 1863, a política da Venezuela teve como figura central, Jose Antonio Páez, presidente por 3 vezes (1830-35/1839-43/1861-63). Foi ele quem QUEBROU O PODER DA IGREJA CATÓLICA, ATRAINDO O ÓDIO DELA, QUE APOIOU VÁRIAS REBELIÕES CONTRA ELE. A IGREJA CATÓLICA SEMPRE ATUOU ATIVAMENTE NA POLÍTICA VENEZUELANA.
Entre 1859 e 1863 o país foi varrido por uma guerra civil, entre liberais e conservadores, que matou milhares de pessoas e que só terminou depois de um acordo entre as elites, que ficou como um elemento chave para compreender a intensidade das lutas políticas nesse país.
De 1870 a 1887, a política foi dominada por outro caudilho, o general Antonio Gúzman Blanco, um liberal que, de forma contraditória, tentou implantar reformas econômicas num ambiente dominado pelos conservadores e manteve uma certa influência no país até 1892.
De 1892 até 1898 foi dominado pelo general Joaquín Crespo que, embora tenha tentado dar uma estabilidade no país, foi morto e dai em diante a Venezuela passou por um período muito turbulento, em que o general Cipriano Castro tomou o poder, mas em 1902 sentiu o peso do Imperialismo, quando forças alemãs e britânicas esmagaram a pequena frota venezuelana, após cobrar dívidas não pagas.
Até quem em 1908 emerge a figura de Juán Vicente Gómez, apoiador de Crespo, que instalará uma feroz ditadura conservadora até 1935, direta ou indiretamente, e que criará um conjunto de elementos que DEFORMARÁ a sociedade venezuelana até o final da década de 90. PARA ENTENDER A VENEZUELA DE HOJE É FUNDAMENTAL COMPREENDER O PAPEL DESSE PERÍODO NA HISTÓRIA DO PAÍS.
*Professor do Departamento de Economia da UFRN, mestre em Desenvolvimento Regional e doutor em Ciência Política pela UFRN, e membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).