Érico Firmo: A escolha da cidade

 O debate em torno das mudanças previstas no trânsito de Fortaleza a partir da implantação do PAITT (Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito), apresentado pela Prefeitura da capital cearense tem gerado intenso debate, em particular quanto ao destino da Praça Portugal. O Vermelho/CE pretende debater o assunto, assim como outros temas de elevado interesse dos seus leitores. Aqui reproduzimos um texto do jornalista Érico Firmo, editor da coluna Política, do jornal O POVO.

Eu e os colegas Ítalo Coriolano e Mariana Lazari fomos recebidos ontem, na Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos, por equipe de mais de uma dezena de técnicos envolvidos na elaboração do polêmico Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (Paitt). Gente de formações diversas e que tiveram experiências em várias administrações de Fortaleza, desde Juraci Magalhães, passando por Luizianne Lins. Em mais de duas horas de conversa, eles responderam sobre detalhes técnicos da proposta e responderam a vários questionamentos. Uma coisa eles próprios admitiram: não existe solução ideal, um cenário perfeito e sem perdas. Em todas as possibilidades estudadas, há perdas e ganhos. Sempre haverá ressalvas. A questão é pesar o que é melhor para a cidade – e como essa decisão será tomada.

Os técnicos, a partir do coordenador Luiz Alberto Aragão, se mostraram particularmente incomodados com a crítica de que estariam privilegiando o carro em detrimento do pedestre. Eles salientaram que, primeiro, das quatro possibilidades cogitadas para o lugar, o cruzamento é aquela que representa menor ganho de tempo para ultrapassar o local onde hoje está a Praça Portugal. Esse ganho é de 40% em média, sendo de 21% para automóveis e 46% para ônibus. No caso de túnel em qualquer das vias do cruzamento, o ganho médio seria de 51% para ônibus. Já no caso dos automóveis, o tempo ficaria 47% menor com túnel na Dom Luis e 42% na Desembargador Moreira, pelas simulações feitas considerando o fluxo atual em horário de pico. Então, o ganho de tempo para automóvel não foi determinante. Pesou, sobretudo, segundo dizem, o aspecto urbanístico. Além disso, a possibilidade de inserir, em plena Aldeota, faixa exclusiva para ônibus, ciclofaixa, além de aumentar a área para circulação de pedestres. Pesaram, também, o custo: túneis custariam em torno de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões, contra R$ 5 milhões do cruzamento. Outro fator é o tempo: enquanto a intervenção proposta estaria pronta em quatro a sete meses, os túneis levariam entre um e dois anos para sair.

O problema é evidente: a destruição da área central da Praça Portugal, espaço de referência da cidade, história, memórias e afetos. Quanto isso pesa na balança? Vale gastar mais dinheiro e mais tempo? Um problema colocado: o túnel pela Dom Luis impediria que houvesse ciclofaixa ou faixa exclusiva para ônibus no túnel. Seja por essa via ou pela Desembargador Moreira, haveria bloqueio de acesso de cerca de 90 metros antes e 90 metros depois. Ou seja, no mergulho do túnel, pedestres não conseguem atravessar e há obstáculos que provocam certa degradação no entorno. Notadamente ao comércio. Além disso, eles apontam que quase certamente a construção de túnel traria impacto sobre a praça, que precisaria ser destruída e reconstruída em praticamente qualquer método de construção, conforme apontaram.

Conforme dito acima, não há alternativa sem ônus. A questão, de fato, é pesar os ganhos e prejuízos.
E esse debate precisa ser democrático, amplo e tecnicamente embasado. Esse modo de tomada de decisão é um dos principais aspectos que estão colocados.

Um aspecto importante que foi enfatizado: nas imagens apresentadas pela Prefeitura, há projeções de como seriam as quatro praças que substituiriam a atual Praça Portugal. Aquele, segundo disseram os técnicos, foram apenas simulações com intenção de apresentar possibilidades de uso dos espaços. Contudo, o projeto paisagístico efetivo de uso ainda será submetido a licitação para ser formulado.

Uma coisa que os técnicos fizeram questão de destacar: dos vários cenários inicialmente traçados, o único que eliminaria a área central da praça é aquele que foi apresentado. Não que fosse a intenção deles, asseguram. Mas foi o que, ao juízo da equipe e para surpresa deles próprios, teria se mostrado mais adequado, segundo os critérios que adotaram.

Érico Firmo é jornalista

Fonte: jornal O POVO

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