Angola faz primeiro censo populacional desde a Independência

Numa equação entre passado e futuro, Angola realizará de 16 a 31 de maio próximo o primeiro Censo de População e Moradia desde que o país conseguiu sua independência de Portugal em 1975.

O último registro foi realizado em 1970 e apontou para uma população de 5,6 milhões de habitantes. Desde então, houve apenas duas amostras parciais: uma em 1983 e outra em 1985, nas províncias de Luanda, Huila e Malanje.

"Demoramos em organizar um registro porque tivemos um longo conflito interno que propiciou migrações e movimentos de pessoas, e assim ficava muito difícil realizar um registro com informações verídicas", disse à Prensa Latina Paulo Fonseca, coordenador técnico do Escritório Central do Censo.

Números oficiais revelam que durante a guerra civil (1975-2002) quatro milhões de pessoas foram deslocadas, três milhões de refugiados e quase todo o país minado, com pontes e estradas destruídas.

O governo determinou realizar as ações preparatórias do Censo 2014 entre 2001 e 2009, e a primeira etapa dos trabalhos foi iniciada quando foram abertos os Serviços Provinciais do Instituto Nacional de Estatísticas (Spines).

Fonseca reconheceu que diante da ausência de censos regulares prevalece uma noção insuficiente da estrutura demográfica, econômica e social do país, em particular a população economicamente ativa.

Dessa maneira, no processo se procurará definir a quantidade de pessoas que vivem em uma casa, suas idades, sexo e as condições de vida de seus habitantes (se contam com luz e água potável), entre outras características.

A partir das informações recolhidas será possível conhecer com precisão "quantos somos, como somos, onde vivemos e como vivemos", diz um dos folhetos que os organizadores da pesquisa estão distribuindo.

Tenta-se identificar como estão localizados os cidadãos no território nacional, as características das moradias e se receberá informação para projeções futuras.

Censos em Angola

No século 18, durante o governo de Antônio de Lencastre (1770-1779), realizou-se a primeira tentativa para conhecer dados a respeito da população de Angola.

Tal operação permitiu obter estimativas por idade, sexo, nascimento e morte. Em 1938, registrou-se a população angolana em um total de de 2.622.808 pessoas.

De acordo com documentos disponíveis, não houve rigor técnico nestes procedimentos e também não se cumpriu com uma cobertura de todo o território nacional.

Em 1900, realizou-se a primeira operação considerada como "Censo Geral da População", conforme lei de 17 de agosto de 1899.

Dez anos depois, em cumprimento dessa lei, foram aprovadas novas instruções para a execução de outro registro.

A partir de 1914, iniciou-se a realização anual do Censo da População Local.

Sucessivamente houve outros cadastros até o de 1940. Desde essa data, os censos passaram a ser feitos a cada 10 anos.

Princípios e censo

Para o diretor-geral do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), Camilo Ceita, o sucesso do Censo 2014 depende do cumprimento de alguns princípios essenciais.

Nesse sentido, mencionou a universalidade, isto é, todos os indivíduos em território nacional devem ser recenseados. Depois, a simultaneidade, todas as regiões do país deverão começar ao mesmo tempo (zero hora) do dia 16 de maio.

Por último, acrescentou Ceita, deve ser respeitado o requisito da privacidade. A entrevista deve ser dirigida a cada pessoa de forma individual.

Argumentou que tais princípios permitem que não haja omissão ou duplicação de informação e que cada funcionário trabalhe em seu território alocado e delimitado, e não invada outros.

Pontuou que todas as pessoas que permanecerem em território nacional durante o processo serão recenseadas, e só serão excluídos os diplomatas.

O governo defende o registro como grande oportunidade para diagnosticar e planificar políticas, em especial serviços essenciais para todos os angolanos.

A realização do Censo 2014 propiciará informação fiável e atualizada para avaliar a estratégia de redução da pobreza em Angola, onde, segundo as autoridades, todos contam.

Prensa Latina