Eleições na França serão marcadas por escândalos e poluição

Numerosos escândalos marcaram os principais partidos políticos franceses ao longo da disputa pelas eleições municipais de 23 e 30 de março, nas quais nos últimos dias de campanha estão contaminados por um severo episódio de poluição.

Por Amílcar Morales*, na Prensa Latina

No que se diz respeito às eleições locais nos mais de 36 mil 600 municípios franceses, o resultado global é interpretado aqui como uma avaliação ao trabalho realizado pelo presidente François Hollande desde sua chegada ao Palácio do Eliseu, em maio de 2012.

O chefe de Estado chega a este evento com os mais baixos níveis de aprovação registrados para um presidente com 22 meses no poder durante a chamada 5ª República, iniciada em 1958.

Problemas como o elevado custo de vida, o aumento ou a criação de novos impostos, a deterioração da economia e o desemprego, que afeta mais de 3,3 milhões de pessoas em idade de trabalho, pesarão no ânimo dos eleitores ao depositar sua cédula nas urnas.

Segundo uma pesquisa de opinião realizada recentemente pela empresa BVA, um quarto dos que pensam ir aos colégios eleitorais, propõem-se exercer um voto de protesto contra a administração do governamental Partido Socialista (PS).

O próprio Hollande foi protagonista de um dos mais fortes escândalos ocorridos durante a campanha eleitoral, quando uma revista publicou um artigo ilustrado com fotografias sobre sua relação afetiva com a atriz de cinema Julie Gayet.

Dito romance nunca foi confirmado nem negado pelo presidente, mas poucos dias após a circulação da história, separou-se de sua companheira, a jornalista Valérie Trierweiller, quem exercia de fato as funções oficiais de Primeira Dama do país.

Para além dos aspectos pessoais do assunto, o caso revelou as graves violações à segurança do presidente, que ia aos encontros em uma motocicleta e praticamente sem escolta.

Esquecidos os ecos desses fatos, as turbulências passaram para o lado contrário, a conservadora União por um Movimento Popular (UMP).

O presidente deste grupo, Jean-François Copé, foi acusado de fazer pagamentos injustificados durante a campanha presidencial de 2012 a uma empresa criada por dois amigos seus.

Enquanto o partido atravessa uma severa crise financeira, o semanário Le Point afirmou que a empresa Pygmalión cobrou 8 milhões de euros para organizar alguns comícios do então presidente Nicolás Sarkozy (2007-2012), que tentava sua reeleição.

Para enfrentar o escândalo, Copé prometeu publicar as contas da UMP, desde que se aprovasse uma lei que obrigasse a todos os outros partidos a fazer o mesmo, o que aumentou a polêmica.

Poucos dias depois, a tormenta se abateu sobre Sarkozy, quando se soube que a justiça ordenou desde o ano passado a interceptação de suas chamadas telefônicas, no marco de uma investigação por suposto financiamento ilegal de sua campanha eleitoral de 2007.

Em particular, intervieram nas conversas do ex-chefe de Estado com seu advogado, Thierry Herzog, os antigos ministros do Interior, Brice Hortefeux e Claude Guéant, e o ex-juíz da Corte de Cassação, Gilbert Azibert.

Com os dados obtidos por esta via, apontou a promotoria francesa, abriu-se em 26 de fevereiro de 2014 um processo por suposto tráfico de influências.

Os investigadores procuram determinar se Sarkozy e Herzog ofereceram ao juiz Azibert ajuda para conseguir um cargo em Mônaco, em troca de que este lhes filtrasse algumas informações de tipo judicial.

Apesar de existirem outros partidos políticos na disputa pelas prefeituras francesas, são precisamente o PS e a UMP os que lutarão pelas cidades com mais de 300 mil habitantes, incluídas Paris, Marselha, Lyon, Lille, Toulouse e Bordéus, entre outras.

Ainda não se sabe qual será o impacto destes escândalos na votação, mas os analistas apontam que as dificuldades dos dois principais grupos franceses se traduzem em um benefício para a extrema direita, agrupada na Frente Nacional (FN).

Com 596 listas autorizadas em todo o país, esta formação ultrapassou seu registro histórico de 1995 e está localizada sobretudo nas cidades com mais de 10 mil habitantes, onde poderia obter algumas prefeituras e vários conselheiros e adjuntos.

Na última semana da campanha eleitoral, um acontecimento inesperado passou a fazer parte do debate: o grave evento de contaminação ambiental ocasionado pelas chamadas partículas finas em suspensão na atmosfera.

O fenômeno, de vários dias de duração, obrigou ao governo a aplicar restrições, como a circulação alternada de veículos de acordo com o número da placa [rodízio veicular] na região parisiense, o que de imediato originou controvérsia entre os candidatos.

A candidata da UMP, Nathalie Kosciusko-Morizet, criticou essa medida e a considerou como tardia e confusa, assim como fizeram seus colegas Christophe Najdovski, do Europa Ecologia – Os Verdes, e Wallerand de Saint-Just, do FN.

Entretanto, a candidata do PS, Anne Hidalgo, defendeu a iniciativa e acusou à anterior administração da UMP de haver estimulado o uso de automóveis com motor diesel, considerados nocivos para o meio.

Em todos estes temas o veredito final será dado pelos cidadãos, que com seu voto escolherão a suas próximas autoridades locais e, de passagem, desenharão o mapa político francês face às presidenciais de 2017, quando o Palácio do Eliseu voltará a estar em jogo.

*Correspondente da Prensa Latina na França.