Contra compromisso, chanceler racista sugere eleições em Israel

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, do partido colonialista e de extrema-direita “Israel é Nosso Lar”, sugeriu a realização de novas eleições no país, na reta final das negociações com a Autoridade Palestina (AP). Lieberman, apesar de declarar favorecer a solução da questão, promove posições racistas e de fortalecimento da ocupação dos territórios palestinos, com postura agressiva e desestabilizadora do seu próprio governo.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Avigdor Lieberman - Memo

O chanceler israelense – recentemente retornado ao cargo após o afastamento decorrente de um processo por corrupção – disse que a libertação do quarto grupo de prisioneiros palestinos, conforme o acordado para a retomada das negociações, em julho, “não é uma opção”.

Em uma conferência em Nova York, no domingo (6), Lieberman desenhou três possibilidades para o governo israelense, que apresenta disputas internas profundas relativas às conversações com os palestinos desde a sua retomada: 1) a libertação dos prisioneiros palestinos “apesar da quebra do acordo por eles”, 2) a formação de um novo governo israelense de coalizão, ou 3) novas eleições, opção à qual é favorável.

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De acordo com analistas israelenses, Lieberman seria candidato ao posto de primeiro-ministro, no caso de realização das eleições. A coligação do seu partido com o do premiê Benjamin Netanyahu, Likud, é frágil e controversa, enquanto o chanceler e alguns aliados não deixam de fazer críticas ao posicionamento de Netanyahu nas negociações com os palestinos.

Além disso, a jogada de Lieberman também envia uma mensagem ao ministro da Economia, Naftali Bennett, também da extrema-direita colonialista (no partido Lar Judeu), que tenta expulsar do gabinete governamental a ministra da Justiça, Tzipi Livni, chefe da equipe israelense nas negociações, para incluir o partido ultra-ortodoxo Shas (abreviação, em hebraico, de "Guardiães Sefarditas").

Impasse e tensões

Uma nova reunião entre os diplomatas de Israel e os da AP, liderados por Saeb Erekat, terminou em impasse e ameaças do lado israelense, que acusam os palestinos de terem violado o acordo de não recorrer ao direito internacional ou “tomar medidas unilaterais” neste âmbito, como o pedido de adesão a novas convenções – como forma de fortalecer a representação internacional do Estado da Palestina, reconhecido pelas Nações Unidas em 2012.

Na semana passada, o governo israelense havia se recusado a cumprir o compromisso de libertação do quarto e último grupo entre os 104 prisioneiros palestinos detidos ainda antes da década de 1990, o que causou a reação palestina. Além disso, a continuidade e expansão da construção de colônias em território palestino também têm levado a AP a denunciar frequentemente a falta de disposição do governo israelense em resolver a disputa, assim como o aumento da violência nos territórios ocupados por tropas e colonos israelenses na Cisjordânia e Jerusalém Leste, palestinos.

Lieberman disse se opor à libertação dos que classificou de “terroristas palestinos” e à volta da discussão dos planos propostos pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, igualmente rechaçados pelos palestinos devido à negligência com o direito dos refugiados ao retorno e com a expansão da ocupação israelense. Além disso, como é frequente nos processos históricos de negociação, o chanceler disse que a AP está “chantageando” Israel violando “todos os compromissos, apesar de estarmos dispostos a discutir todas as questões.”

Entretanto, os nove meses previstos para as negociações, que devem durar até 29 de abril, foram marcados pela irredutibilidade usual do governo israelense em abordar as questões centrais deste conflito profundamente assimétrico, que já dura mais de seis décadas; pela contínua violação do direito internacional e humanitário e, além disso, pela imposição de novas condições racistas consideradas inaceitáveis, como o reconhecimento de Israel como “Estado judeu”, o que marginalizaria institucionalmente ainda mais os não judeus que vivem no país.

Lieberman também manteve a retórica extremista de acusar os que criticam a construção de colônias israelenses em territórios palestinos de “hipocrisia” e “antissemitismo”. Na reta final das negociações com a AP, o chanceler mudou de ideia e disse que não apoia o retorno aos planos de Kerry. O governo israelense continua imerso em uma disputa ainda mais desestabilizadora, que preconiza mais um desfecho infrutífero e que empurra a ocupação israelense um pouco mais além, na geografia e na vida dos palestinos.