Palestinos condicionam a extensão das negociações com Israel

Os diplomatas palestinos envolvidos nas negociações com Israel colocaram sete condições para a continuidade do processo além do prazo determinado, 29 de abril. De acordo com o portal palestino de notícias Ma’an, as condições foram anunciadas ainda durante a reunião com os diplomatas israelenses em Jerusalém, na quarta-feira (2). Já nesta quinta (3), analistas continuavam expondo os desafios estruturais na continuidade da diplomacia frente à expansão da ocupação e das agressões israelenses.

John Kerry Tzipi Livni Saeb Erekat - NBC News

A reunião entre os diplomatas palestinos, chefiados por Saeb Erekat, e os diplomatas israelenses, pela ministra da Justiça Tzipi Livni, na quarta-feira, terminou em acusações e em mais uma demonstração da barreira fundamental às negociações, retomadas em julho de 2013 e determinadas para durar nove meses.

Já na esteira do iminente fracasso do processo, os Estados Unidos, que se apresentam como mediadores – embora atuem como parte da questão, apoiando Israel incondicionalmente – tentam prorrogar o prazo desde a virada do ano, apresentando “planos de acordo” inaceitáveis, como o que envolve a presença militar israelense em um Estado da Palestina desmilitarizado, negligenciando a continuidade da construção nas colônias judaicas em territórios palestinos.

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A Autoridade Palestina (AP) e diversos movimentos populares de resistência denunciam os diálogos com o governo israelense como “inúteis” desde o anúncio da sua retomada e no período que se seguiu, enquanto a violência aumentava, com a prisão arbitrária, a morte de cerca de 50 palestinos em protestos ou confrontos com as tropas israelenses, a demolição sistemática de casas palestinas, a construção de números inéditos de habitações nas colônias ilegais, entre outras violações.

De acordo com o Ma’an, citando fontes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), uma frente de governo com 14 partidos políticos, os diplomatas palestinos colocaram as seguintes condições para a extensão do processo de negociações:

1) Receber a uma carta do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, em que reconheça as fronteiras palestinas conforme 1967 (ou seja, anteriores à expansão da ocupação, intensificada a partir da Guerra dos Seis Dias, naquele ano), com Jerusalém Oriental como capital.

2) A libertação dos prisioneiros palestinos que o primeiro-ministro israelense anterior, Ehud Olmert, havia concordado em libertar, inclusive os líderes Marwan Barghouthi, Ahmad Saadat e Fuad Shweiki

3) Implementar um acordo de travessia de fronteiras e suspender o bloqueio à Faixa de Gaza, imposto desde 2007 e de consequências extremas para a população de 1,9 milhão.

4) O retorno dos exilados deportados no sítio a Belém (Cisjordânia), em 2002, durante a Segunda Intifada (levante popular contra a ocupação).

5) O fim das atividades de colonização em Jerusalém e a reabertura das instituições fechadas na cidade.

6) Permitir a reunião de 15 mil palestinos com as suas famílias (muitos são separados devido às restrições de movimentação imposta pela administração militar israelense dos territórios).

7) Que Israel deixe de invadir as áreas sob o controle da Autoridade Palestina (o Executivo na Cisjordânia) para as detenções arbitrárias e assassinatos e que dê algum controle à autoridade na Área C do território palestino (que ficou sob o controle militar e administrativo de Israel segundo os acordos assinados no início da década de 1990).

Em uma reunião com membros do partido Fatah, à frente do governo, o chefe da equipe palestina nas negociações Saeb Erekat, e o membro do Comitê Central da OLP Mahmoud Al-Aloul disseram que a candidatura para a adesão a 15 organizações internacionais, anunciada ainda na quarta (2) é um pequeno passo tomado pelos palestinos para retomarem seus direitos.

Erekat explicou aos membros do Fatah que os 15 tratados e convenções estão entre 63 outros documentos que a AP está considerando assinar, após a análise de 27 especialistas em direito internacional. Erekat disse ainda que a adesão não requer o voto das Nações Unidas e assegurou que a Palestina logo será um membro da organização mundial e receberá imunidade diplomática, com 134 embaixadas nos países que reconhecem o Estado palestino.

O presidente Mahmoud Abbas disse ao secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que não se importa se for morto, e não deixará de buscar a adesão às organizações internacionais devido às ameaças de setores extremistas em Israel.

Os diplomatas da AP disseram a Kerry que não tomavam este passo para entrar em confronto, mas para exigir os direitos legítimos do povo palestino, reconhecidos amplamente por diversas resoluções das Nações Unidas. A estratégia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, disse o diplomata palestino, “é manter a AP sem autoridade real, a ocupação a qualquer custo, e a Palestina sem Gaza.”

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Com informações do portal palestino Ma'an