Pesquisa demonstra domínio do capital sobre a política nos EUA
Uma nova análise divulgada por pesquisadores da Universidade de Princeton e da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, comparou a influência do público em 1.779 questões de formulação de políticas, entre 1981 e 2002, e concluiu, com base em dados, o que já se verifica empiricamente: a influência do dinheiro na política afogou as vozes dos eleitores no país. Frequentemente, no período analisado, os interesses das classes altas venceram as demandas da população geral.
Publicado 18/04/2014 12:16

No momento em que, no Brasil, as forças progressistas batalham pela aprovação de leis como a que proíbe o financiamento privado de campanhas eleitorais, o estudo das duas universidades norte-americanas, focado apenas na situação dos Estados Unidos – considerado um “modelo de democracia” por setores da direita brasileira – ressalta que, por exemplo, quando 80% da população pedia algum tipo de mudança, só conseguiram ter suas reivindicações atendidas em 43% dos casos.
A análise coloca em questão, justamente, o peso do lobby corporativo sobre as decisões políticas e a falta de uma reforma no financiamento das campanhas, o que resulta em privilégios verificáveis garantidos às classes econômicas dominantes. De acordo com os autores do estudo, fica ressaltado o poder dos grupos de interesse e de indivíduos que respaldam interesses específicos na política estadunidense e a marginalização de eleitores e grupos públicos.
“Eu esperava concluir que os cidadãos estadunidenses comuns têm um grau modesto de influência sobre as políticas de governo e que grupos de interesse de massa servem para promover estes interesses,” disse Martin Gilens, um cientista político da Universidade de Princeton e coautor do estudo, em declarações à filial norte-americana da emissora árabe Al-Jazeera.
“O que concluímos, entretanto, foi que os estadunidenses comuns têm virtualmente nenhuma influência sobre as políticas do governo e que os grupos de interesse de massas, como um todo, não estão, necessariamente, ao lado dos interesses do cidadão comum.” Outro coautor do estudo, Ben Page, é citado pela emissora descrevendo uma oligarquia como o “governo de um pequeno número de pessoas ricas”, referência à definição do cientista político Jeffrey Winter.
“Nossas conclusões são consistentes com a [indicação] de que os Estados Unidos são uma oligarquia, mas ainda não provam isso,” diz Page, ressaltando: “a oligarquia está se intensificando à medida que aumenta a desigualdade econômica e que o Congresso e a Corte Suprema desmantelam regulamentações.”
O estudo, que deve ser publicado em poucos meses, demonstra em números concretos a disparidade entre o poder da população e o de grupos de interesse especial. “Não acho que esta conclusão é surpreendente,” disse Alexander Furnas, pesquisador da Fundação Sunlight, em Washington, citado pela Al-Jazeera. “O que é realmente fantástico sobre isso é, entretanto, que o estudo fornece apoio empírico sistemático às teorias sobre a influência política,” antes apoiadas em exemplos gerais.
Fazendo referência à grande recessão experimentada a partir do final da década de 2000, quando os grupos de pressão das corporações e do setor financeiro são beneficiados em detrimento das políticas sociais de apoio à população, que arca com as “medidas de arrocho”, Gilens pontua a impunidade das instituições financeiras e a negligência do governo neste aspecto.
Expressão disso são, continua o pesquisador, as reformas regulatórias insuficientes e um processo de recuperação econômica extremamente desigual, “na qual corporações e estadunidenses influentes têm se saído bem, enquanto a classe média e os norte-americanos empobrecidos ainda estão sofrendo.”
“Tudo isso mostra até onde o governo inclina-se na direção dos interesses dos ricos e poderosos,” enfatiza Gilens. Entretanto, “às vezes, a população vence por acidente, quando seus interesses coincidem com os interesses das elites, como no caso dos benefícios do Medicare [programa de saúde] imposto no governo Bush. Aquela medida encontrou apoio na indústria farmacêutica, que se beneficiou da lei.”
Para os pesquisadores Gilens e Page, uma solução para o sobrepeso dos grupos de pressão das elites seria a reforma do financiamento de campanhas que, provavelmente, será dificultada por uma decisão recente da Corte Suprema, que determinou que as vastas somas de dinheiro nas campanhas equivalem à liberdade de expressão.
“Uma reforma do financiamento de campanhas significativa seria o passo mais importante para tornar o governo mais representativo das necessidades e preferências dos cidadãos comuns,” disse Gilens. Page, por sua vez, completa com a necessidade de transparência completa sobre o dinheiro na política e, “mais importante: reduzir a desigualdade de riquezas para de reduzir a desigualdade de poder,” enquanto Alexander Furnas também ressalta a participação insistente, com a exigência dos eleitores aos seus eleitos.
Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Com informações da Al-Jazeera