Ban Ki-moon diz considerar eleições na Síria "prejudiciais"

Em resposta ao recente anúncio de eleições presidenciais na Síria, a serem realizadas em pouco mais de um mês, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o enviado especial da organização e da Liga Árabe para o país, Lakhdar Brahimi, instaram as autoridades sírias a reconsiderarem o plano, que consideram “prejudicial ao processo político”. As declarações foram transmitidas nesta segunda-feira (21) pelo porta-voz de Ban, Stephane Dujarric, em Nova York.

Lakhdar Brahimi Síria Genebra 2 - Sana

O governo sírio anunciou a realização de eleições presidenciais em 3 de junho para os residentes no país e em 28 de maio, nas Embaixadas, para aqueles que vivem no exterior. O ciclo eleitoral da Síria é de sete anos; nas duas últimas eleições, o presidente Bashar al-Assad venceu com ampla maioria, e pode se recandidatar.

De acordo com a mídia regional, o Tribunal Constitucional da Síria começa a aceitar nomes para as candidaturas presidenciais já nesta terça-feira (22). Membros da Assembleia Popular citados pela agência síria de notícias Sana disseram que a realização das eleições no tempo correto, de acordo com a Constituição, prova que o povo sírio tem superado o projeto internacional de desestabilização e derrubada do governo.

Leia também:

Síria anuncia eleições presidenciais e avanço contra o terrorismo
Síria e ONU completam nova etapa na eliminação de armas químicas

Entretanto, de acordo com o comunicado divulgado na página da ONU, Ban e Brahimi disseram considerar negativa a realização de eleições neste momento, quando se completam três anos desde o início do conflito armado na Síria e se avançam apelos pelo aprofundamento do diálogo político.

De acordo com ambos, seria um obstáculo para a construção de uma oportunidade de reconciliação e fim da guerra civil: “realizar eleições prejudicaria o processo político e obstruiria as perspectivas de uma solução política que um país precisa tão urgentemente,” disse o porta-voz. Segundo Dujarric, as eleições “seriam incompatíveis com o espírito do Comunicado de Genebra”, em referência ao plano de ação adotado em 2012, durante a primeira conferência internacional sobre o conflito, que demandava um governo transicional que levasse o país às “eleições livres e justas”.

No início do ano, Brahimi mediou duas rodadas de conversações de cerca de uma semana cada entre o governo sírio e o principal grupo opositor, com o objetivo de alcançar uma solução política com base nos objetivos do Comunicado, mas as interpretações do documento foram debatidas, após a tentativa de manipulação, por parte dos EUA e da União Europeia, que respaldam os grupos armados na Síria, para exigir a deposição do presidente Assad.

Processo firme e democrático

O parlamentar Mahmoud Diab disse que todos deveriam participar no evento, para impedir que os agressores contra a Síria continuem espalhando sua mentalidade extremista pelo país e pela região, através de atos terroristas perpetrados por grupos ligados à rede Al-Qaeda. Outro parlamentar, Ali al-Sheikh pontuou que os sírios são os únicos que podem determinar quem será o presidente e quem é capaz de defender o país.

Para os parlamentares que se pronunciaram nesta terça, na Assembleia Popular, as eleições são um direito civil e político constitucional dos sírios, principalmente neste momento histórico, que também demonstram a força do Estado sírio e sua capacidade de confrontar os obstáculos e as tentativas externas de fragmentação do país.

Nos últimos três anos, a Síria foi imersa no conflito armado e na violência disseminada pelo país, nos confrontos com uma miríade de grupos armados, inclusive aqueles ligados à rede terrorista Al-Qaeda, baseados no fundamentalismo religioso. Muitos recebem apoio direto, financeiro, logístico e político de países da região (Arábia Saudita e Turquia, principalmente) e das potências ocidentais, que respaldam o projeto de derrubada do governo Assad.

Mais de 100 mil pessoas já morreram e aproximadamente nove milhões tiveram de deixar as suas casas, mas a dimensão abrangente da violência e do impacto sobre a população síria não impediu os EUA e a União Europeia de continuarem apoiando os grupos armados – até mesmo quando se proliferavam as denúncias de terrorismo e brutalidade – para exigir a renúncia de um governo que goza de amplo apoio popular ou ameaçá-lo militarmente, em detrimento do diálogo político nacional e do processo democrático.

Da Redação do Vermelho,
Com informações da ONU e da agência Sana