Palestinos assinam acordo de reconciliação e anunciam eleições

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o partido islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza, assinaram o esperado acordo de reconciliação nesta quarta-feira (23), para finalizar o período de sete anos de divisão entre os principais partidos políticos palestinos. Em declarações à imprensa local, representantes disseram que as delegações trabalharam como “um time” nas diversas reuniões e que a data para eleições gerais já foi discutida.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Palestinos - Reuters

A declaração conjunta da OLP (reconhecida como “a única representante do povo palestino” pela sociedade internacional, no início dos anos 1990) e do Hamas foi lida durante a coletiva de imprensa, na Cidade de Gaza. Garante uma data para as novas eleições, que podem ocorrer em seis meses, conforme avançado pela Autoridade Nacional Palestina (órgão provisório de autogoverno para partes do território palestino, estabelecido pelos acordos internacionais de 1993, os “Acordos de Oslo”).

Leia também:

Palestina: Reconciliação nacional e diplomacia são estratégicas
Israel nega entrada de parlamentar da OLP na Faixa de Gaza
Reconciliação entre os palestinos é prioridade, dizem partidos
Israel-Palestina: Na reta final, negociações seguem fracassando

O documento final dos diálogos de reconciliação busca finalizar o longo período desde que os confrontos entre as diversas facções políticas dividiu a Palestina – após as conturbadas eleições de 2006 –, fratura intensificada com o bloqueio militar que Israel impôs à Faixa de Gaza. A divisão, que também resultou na saída do Hamas da OLP, enfraqueceu os palestinos, como reconhecem as autoridades em várias linhas políticas. A sua superação é enfatizada como um ponto central para o interesse nacional.

A declaração conjunta divulgada nesta quarta afirma o comprometimento dos dois lados com os princípios da reconciliação, já estabelecidos pelo Acordo do Cairo e pela Declaração de Doha, resultados das rodadas anteriores nas negociações, mediadas pelo Egito e pelo Catar. Segundo a agência palestina de notícias Ma'an, o acordo também enfatiza a necessidade de reativação do Conselho Legislativo, o parlamento palestino, suspenso desde as eleições de 2006, devido ao conflito interno e à prisão de alguns parlamentares por Israel.

Fortalecimento nacional

O líder da representação do Fatah (partido à frente da Autoridade Palestina) na delegação, Azzam al-Ahmad, citado pela Ma'an, disse que nenhum dos lados aceitará a retomada das negociações com Israel sem diretrizes concretas, e que os diálogos, relançados em julho e previstos para terminarem em 29 de abril, só foram suspensos devido à “intransigência de Israel” e à “tendenciosidade dos EUA”, historicamente negligentes frente à expansão da ocupação israelense sobre a Palestina.

As autoridades palestinas também anunciaram que concordaram com a formação de um governo de unidade dentro de cinco semanas, liderado pelo presidente Mahmoud Abbas e pelo antigo vice-premiê Nasser al-Din al-Shaer, membro do Hamas, incluído no governo de unidade de 2006, embora este não tenha entrado em efeito.

Os partidos também concordaram que tanto o Hamas, em Gaza, quanto o Fatah, na Cisjordânia, libertariam os respectivos prisioneiros, detidos devido à filiação política.

Os Estados Unidos – que se apresentam como mediadores das negociações com Israel, embora anunciem publicamente a sua aliança com o governo israelense – já reagiram ao acordo, advertindo que "o novo governo deve reconhecer Israel, renunciar à violência e cumprir os compromissos assinados pela OLP," segundo um funcionário do governo dos EUA, citado pelo jornal israelense Ha'aretz.

A última tentativa efetiva de reconciliação entre os partidos aconteceu em 2012, quando assinaram os dois acordos do Cairo e de Doha, ainda não implementados. O passo dado nesta quarta-feira é considerado histórico e uma medida de fortalecimento imprescindível para os palestinos, que chegam ao fim das negociações com Israel – embora haja a possibilidade de extensão do prazo – sem qualquer avanço significativo da diplomacia para a sua independência e libertação da ocupação.