Por impasse nas negociações, camponeses iniciam greve na Colômbia

Nesta segunda-feira (28), cerca de 100 mil camponeses colombianos iniciaram uma nova greve agrária com mobilizações previstas em dez departamentos (equivalente a estados) do país. Eles exigem que o governo cumpra os compromissos acordados na mesa de negociações, iniciada no dia 8 de setembro, quando foram assinadas as atas pelo fim das manifestações massivas, depois da greve nacional que afetou o abastecimento do país.

Por Théa Rodrigues, da Redação do Vermelho 

Por impasse nas negociações, camponeses iniciam greve na Colômbia - Gustavo Torrijos/ El Espectador

Segundo informações publicadas pelo jornal El Espectador, a decisão é uma resposta ao fracasso das negociações com o governo do presidente Juan Manuel Santos, que se comprometeu a solucionar os problemas demandados pelo setor agropecuário da Colômbia. Desde o ano passado, os camponeses reivindicam o avanço de uma política de reforma agrária integral, que reconheça os territórios coletivos indígenas, a territorialidade necessária ao campesinato e que desmonte os grandes latifúndios que concentram a maior parte da terra produtiva.

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O líder do movimento Dignidades Agropecuárias, César Pachón, reiterou no último domingo (27), que, os camponeses precisam de “ações que tenham impacto, pois é difícil viver de promessas. Nem tudo é dinheiro e aqui (na Colômbia) é necessário haver vontade política para fazer a reforma agrária”.

Faltando pouco tempo para as eleições presidenciais, o governo afirmou que este novo movimento é atravessado por interesses políticos e é infiltrado por grupos armados ilegais. Pachón, por sua vez, garantiu que os trabalhadores rurais “não são um grupo armado, nem insurgente”. Ele disse ainda que “cada vez que alguém protesta, o governo assegura que há infiltrados e acaba colocando nossas vidas em risco com essa classificação”. O dirigente camponês rejeitou a criminalização do setor.

Para o presidente Santos, “há um interesse em prejudicar a (sua) candidatura”. Ele afirmou que respeita o protesto social, mas disse que não encontra “razão para que alguma comunidade agropecuária inicie uma greve”.

Em março deste, os trabalhadores rurais organizaram a Cúpula Nacional Agrária, Campesina, Étnica e Popular, através da qual legitimaram a proposta de continuidade da primeira paralisação nacional. Portanto, o governo já havia sido alertado sobre a possibilidade de uma nova mobilização.

O desenvolvimento agrário do país é um dos temas mais difíceis da administração pública colombiana. A reforma agrária é uma demanda histórica também das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que incluíram o tema na agenda de negociações de paz, que acontecem em Havana, desde 2012.