Greve agrária na Colômbia ganha apoio de outros setores

Dezenas de estudantes das universidades públicas mais importantes de Bogotá saíram às ruas em solidariedade à paralisação do setor agrário, iniciada nesta segunda-feira (28), na Colômbia. A decisão da greve é resultante de um impasse nas negociações com o governo, que segundo os trabalhadores, não cumpriu com os compromissos assumidos no fim do ano passado, quando a primeira greve nacional do setor interrompeu a distribuição de alimentos no país. 

Greve agrária na Colômbia ganha apoio de outros setores - AFP

Uma das demandas mais importantes para os agricultores é a renegociação dos Tratados de Livre Comércio (TLC), que desestabilizam o comércio interno e provocam a derrubada de preços dos produtos locais. Além disso, eles pedem o refinanciamento de suas dívidas, a redução do custo dos agroinsumos e a proteção da economia camponesa contra os impactos negativos da mineração.

“Brigaremos para permanecer no campo, pelo direito ao trabalho, para que não extingam os camponeses da Colômbia”, disse César Pachón, um dos líderes do movimento Dignidade Agropecuária, em comunicado.

Leia também:
Por impasse nas negociações, camponeses iniciam greve na Colômbia
Por que a paz na Colômbia depende dos camponeses?
Há saída para os conflitos na Colômbia?

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e ministros do governo contestam as queixas sobre o descumprimento dos acordos e atribuem a nova mobilização “a interesses políticos”, motivados pelo cenário eleitoral – o país terá eleições presidenciais no dia 25 de maio. Alguns representantes do governo tentam incriminar os protestos, argumentando que o movimento está infiltrado por grupos armados.

A questão de desenvolvimento agrário do país é um dos temas mais difíceis da administração pública colombiana, há muitos anos. Foi um dos motivos que levou à criação das Forças Armadas Revolucionária da Colômbia (Farc) e foi também o primeiro ponto discutido pela guerrilha no processo de paz com o governo, que, todavia, não está finalizado.

O ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, foi um dos primeiros a se pronunciar sobre a suposta infiltração de grupos armados nas manifestações agrárias. Logo após a fala de Pinzón, o coordenador do Sistema de Nações Unidas na Colômbia, Fabritzio Hoschild, declarou que “é muito importante que a paralisação aconteça sem violência e para evitar isso é fundamental que (o governo) pare de estigmatizar a greve, que pare de ver os protestos como uma extensão das guerrilhas”.

Sem dúvida, os camponeses e as guerrilhas colombianos possuem demandas comuns, como é o caso da reforma agrária, mas isso não significa que um movimento esteja pautando o outro neste momento. Além disto, o apoio de outros setores da sociedade (dos estudantes, por exemplo) demonstra que as reclamações dos camponeses têm relevância nacional.

Retomada dos diálogos

Nesta terça-feira (29), representantes da Dignidade Agropecuária e do Ministério da Agricultura retomaram os diálogos para tratar de chegar a um acordo pelo avanço das demandas camponesas. Contudo, um dos porta-vozes do movimento, Juan Hernando Matamoros, afirmou que “a greve segue por tempo indefinido”.

Théa Rodrigues, da redação do Portal Vermelho
Com informações da Prensa Latina, El Espectador, e de agências de notícias