Inácio Arruda homenageia Ignácio Rangel e Rômulo Almeida na Bahia

O senador Inácio Arruda, do PCdoB do Ceará, esteve em Salvador, nesta quinta-feira (15/5), para cumprir uma agenda de atividades, entre elas, o evento em homenagem aos 100 anos de nascimento dos economistas Ignácio Rangel e Rômulo de Almeida, feita pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O encontro aconteceu na sede Federação das Indústrias do Estado (Fieb), no bairro do Stiep, durante a manhã.

É atribuído a Ignácio Rangel e Rômulo Almeida o esforço para, desde a década de 1950, no Governo Getúlio Vargas, até o Golpe de 64, pensar um projeto de desenvolvimento para o Brasil que incluísse as regiões historicamente abandonadas, como o Nordeste. Os dois, ambos nordestinos [Rangel era baiano e Almeida, maranhense], promoveram uma análise teórica e prática da realidade nacional, das potencialidades de cada região, para criar um plano de desenvolvimento regional.

O pensamento marxista esteve presente nesse processo de integração nacional, a partir de Ignácio Rangel, que, ligado ao Partido Comunista, buscou adaptar as ideias do filósofo alemão à realidade brasileira. O xará, senador Inácio Arruda, destacou a importância de se conhecer e preservar o trabalho de Rangel, a quem chamou de “grande intelectual, estudioso e conhecedor da realidade brasileira”.

Ao final do encontro, o Vermelho conversou com o senador cearense sobre os homenageados e a contribuição deles para a nova realidade econômica e social do país. Arruda destacou as marcas dos economistas e criticou a dificuldade que o Brasil tem para planejar e, assim, aproveitar melhor as potencialidades que possui. Confira.

Qual a importância de Ignácio Rangel e Rômulo de Almeida?

O comunista tem o dever e a obrigação de não só estudar a obra de Ignácio Rangel, um grande intelectual, mas, sobretudo, de compreendê-la e de enxergar nesses homens, como Ignácio, que era um pensador marxista, um estudioso da realidade brasileira, que buscava alternativas e saídas para o desenvolvimento do Brasil. Ele olhou para “O Capital”, de Karl Marx, e pensou que precisava colocar dialeticamente em marcha o movimento capaz de aplicar às condições brasileiras as ideias mais avançadas produzidas pela humanidade. Acho que isso é o centro do pensamento do Ignácio Rangel e a Sudene, ao promover um debate sobre o desenvolvimento da nossa região, tendo como centro de análise o pensamento de Ignácio Rangel e o pensamento de Rômulo de Almeida, com a coordenação do Instituto Celso Furtado. São três grandes pensadores do Nordeste, mas não só isso. É que eles sempre consideraram o Nordeste como Brasil, como projeto do Brasil. Como garantir que regiões do país que, ao longo do tempo, foram depreciadas, retardadas no seu desenvolvimento, se integrem ao desenvolvimento do Brasil? Era isso que sempre estava no pensamento de Ignácio Rangel e Rômulo de Almeida. Olhando para esse país misto, continental, extraordinário, com potencialidades por todos os lados, se criou a Embrapa, que oferece tecnologia refinadíssima para a produção agrícola nacional, desenvolvemos institutos de tecnologia em várias partes para a indústria. Você imagina criar a Petrobrás sem criar um centro de pesquisa que garanta à Petrobrás não só extrair e refinar o petróleo, como desenvolver também todo esse parque industrial. É a Petrobrás que retoma a indústria naval brasileira. São essas potencialidades que Ignácio Rangel tentava examinar no Brasil continental, sem isolá-lo do mundo, tendo um projeto próprio.

O país vive uma nova realidade econômica e social, desde a última década. O senhor identifica marcas das ideias de Rangel e Almeida, que se destacaram nas décadas de 1950 e 1960, hoje?

Não tenho dúvidas. Esses homens foram mentores de governos como o de Getúlo [Vargas] e, mesmo considerando as dificuldades, do governo Juscelino [Kubitschek], que terminou criando uma dívida externa muito forte. Esses homens acompanharam esses governos que foram democráticos, que foi o de Getúlio em 50, o de Juscelino, o de “Jânio Goulart”, digamos assim, até o Golpe de 64. Eles analisaram a realidade do Brasil, examinaram o potencial do Brasil e mostraram que o Estado tinha que ter uma presença muito marcante, capaz de ter instrumentos de intervenção forte, que permitisse o desenvolvimento das forças produtivas nacionais. É assim que surge o BNDES, criado por esses homens, no governo de Getúlio, depois se criou o Banco do Nordeste, se cria CAPs e CNPQ, como instrumentos de fomento à pesquisa, se cria a Eletrobrás, a rede de integração energética, e aí surge a Petrobrás, a maior empresa da América Latina. Os instrumentos de intervenção, do ponto de vista da economia, foram oferecidos a partir do pensamento avançado destes homens, que queriam analisar a realidade, pensar a realidade, planejar e criar os instrumentos capazes de promover o desenvolvimento do nosso país.

Apesar das mudanças, o senhor apontou que ainda persiste uma dificuldade em planejar…

Sim, continuamos com isso. Vira e mexe a questão do planejamento é deixada de lado. Planejamento não como aquela coisa certinha, tudo organizadinho, não é isso. Em um país com esse tamanho, com regiões com tantas distinções, com realidades que precisam ser incorporadas ao país inteiro, com um ecossistema como o Pantanal, mesmo a grande Floresta Amazônica, a nossa caatinga, típica do nosso Nordeste brasileiro, nosso semiárido, nossa região de pampas, o Sudeste e as montanhas. Você tem muita diversidade e se não tiver um planejamento adequado, você não consegue ter um projeto de desenvolvimento nacional, capaz de ter integrado todas as regiões. O planejamento também permite que você tenha os projetos mais adequados, tenha a capacidade de fazer projetos mais adequados, a capacidade de fazer projetos que permitam uma atuação austera, do ponto de vista da aplicação dos recursos. O planejamento também permite aproveitar melhor as oportunidades: se você tem um bom planejamento, bons projetos, pode aplicar bem recursos que estão disponíveis. Você tem o exemplo da questão urbana da mobilidade. A presidente da República ofereceu recursos para os municípios, mas os municípios não tinham planos e projetos porque a ideia de planejar ficou para trás, abandonada. A quebradeira dos anos 80 destruiu nossa capacidade de planejar e só agora estamos retomando.

O Congresso também prepara homenagens aos economistas nordestinos?

Sim. No dia 2 de junho, uma segunda-feira, nós vamos fazer uma sessão solene de homenagem à Ignácio Rangel e Rômulo de Almeida, ao pensamento e ao esforço que os dois desenvolveram, especialmente, para o desenvolvimento do Brasil e para a integração da região Nordeste.

De Salvador,
Erikson Walla